SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Bom dia, bom dia!”, é assim, em bom português, que o cantor americano Lenny Kravitz, 59, cumprimenta o repórter quando entra na chamada de áudio. A conversa é para falar sobre seu novo álbum, “Blue Electric Light”, que chega às plataformas na próxima sexta-feira (24) -após um hiato de 5 anos sem novos lançamentos. Mas também passa pelas seis décadas de vida, que o astro pop completa no dia 26.
“Nunca me senti mais jovem do que agora”, afirma ele, que está em seu 12º trabalho de estúdio. “Mentalmente, fisicamente e espiritualmente, nunca me senti melhor na vida. Mas, sim, eu não tenho mais 20 anos. Acontece que não importa qual idade tenha, você não sabe quantos dias te restam. Então, temos que viver cada dia como se fosse o último.”
O cantor dá risada ao saber, pela reportagem, que algumas pessoas o chamam de “vampiro da vida real” por causa da aparência jovem e do visual atlético -é como se o tempo parecesse nunca passar para ele. “Não, eu não sou um vampiro (risos)”, garante. “Bem… Eu faço o meu melhor para cuidar do meu templo. O corpo é o templo. Isso é uma afirmação bíblica.”
Boa parte desse templo pode ser visto no clipe do primeiro single do novo álbum, “TK421”, lançado no final do ano passado e no qual Kravitz aparece como veio ao mundo. Ele diz que a ideia foi da diretora ucraniana Tanu Muiño (“você pode culpá-la”), mas que se divertiu no processo. O segundo single, “Human”, está disponível há cerca de um mês nas plataformas de áudio.
Mas é difícil para ele escolher que outras canções destacar do novo trabalho. Para ele, que gravou o novo trabalho apenas com o auxílio do guitarrista e fiel escudeiro Craig Ross, todas poderiam virar singles. Por que, então, numa era em que muitos nem se dão ao trabalho de compilar trabalhos mais encorpados, ele se viu na necessidade de reunir essas canções num mesmo álbum?
“Eu faço álbuns, é isso que eu faço. Eu tenho certeza de que é o que sempre farei. Eu acredito no álbum. É uma obra fechada. É uma coleção de músicas que trata de um momento. E, para mim, precisa de várias músicas para contar uma história”, explica ele, que diz ter paixão pela experiência de ouvir música dessa forma.
A canção que dá nome ao trabalho apareceu para ele em um sonho. “Cheguei no estúdio na manhã, gravei, toquei todos os instrumentos, cantei, terminei”, relata. “Foi a última música e acabou ficando ‘Blue Electric Light’. Para mim, naquela música, essa luz elétrica azul é energia positiva, é espírito, é Deus, é humanidade, é amor, é sensualidade, é sexualidade. É tudo isso, são todos os elementos que nos fazem.”
Se esse trabalho foi realizado no estúdio que o cantor mantém nas Bahamas, ele não descarta em uma ocasião futura fazer um álbum inteiro na fazenda que tem em Duas Barras, no Rio de Janeiro. A propriedade, que foi de cultivo de café no passado, é um dos xodós do cantor e foi recentemente disponibilizada para aluguel por temporada.
“Eu gostaria de fazer um álbum no Brasil em algum momento”, afirma. Eu sonho com isso. Eu quero fazer na minha fazenda e ficar lá por seis meses fazendo música. Isso vai acontecer um dia. Há uma energia particular nesse lugar, no Brasil, nas montanhas.”
Enquanto isso não acontece, ele planeja passar pelo país com a nova turnê, que terá início na quinta-feira (23), em Hamburgo, na Alemanha. “Estaremos aí o mais cedo possível”, diz. “Vocês são os melhores. Eu amo o Brasil e considero-o um dos meus lares. Eu amo as pessoas, a cultura, a música, a arquitetura, a comida, a vibração. É um país tão rico.”
Ao saber do show que Madonna fez recentemente nas areias de Copacabana, no Rio, ele se empolga com a ideia de voltar ao local, onde cantou em 2007 para um público estimado em 400 mil pessoas. “Isso foi incrível. Acho que fui o primeiro a fazer isso, os Stones fizeram um ano depois de mim”, lembra. “Foi tão emocionante. Tantas pessoas. Foi como uma celebração. Quero fazer de novo!”
Confira abaixo os principais trechos da entrevista.
PERGUNTA – Você já lançou dois singles do novo álbum. O mais recente deles se chama “Human”. Nele, você pergunta: para o que serve esta vida? Você tem uma resposta para essa pergunta?
LENNY KRAVITZ – O verso seguinte a esse é: “Eu vou vencer”. Então, é sobre passar por essa vida e vencer. E o que significa vencer? Significa coisas diferentes para pessoas diferentes. Mas seguir o seu caminho, ser autêntico com quem você é, realizar o seu destino… para mim, essas são as coisas que eu considero vencer. Eu vou viver minha verdade nesta vida. Eu não vou viver uma mentira. Eu vim aqui para estar vivo. Eu vim aqui para ser humano. Nós somos seres espirituais que temos uma experiência humana. Então, eu vim aqui para experimentar essa situação humana em que estamos. É um processo de aprendizagem.
P. – Você também diz que nosso tempo na Terra não vai durar para sempre. Você está prestes a completar 60 anos, apenas dois dias depois que o álbum for lançado. Você acha que isso tem feito você pensar mais nessas perguntas filosóficas?
LK – Eu acho que sempre pensei nisso. Eu não me relaciono com o fato de envelhecer da forma que muitas pessoas fazem. Nunca me senti mais jovem do que agora. Mentalmente, fisicamente e espiritualmente, eu nunca me senti melhor na minha vida. Mas, sim, eu não tenho mais 20 anos. Acontece que não importa qual idade tenha, você não sabe quantos dias te restam. Existem muitas pessoas jovens que vêm aqui por um tempo curto. Crianças, jovens, gente de qualquer idade. Então, temos que viver cada dia como se fosse o último. E fazer o nosso melhor para ganhar o máximo dessa experiência.
Bem, eu fico feliz de você afirmar com tanta convicção que é humano porque quando estava pesquisando para esta entrevista, uma das primeiras coisas que apareceram no Google era uma pessoa chamando você de “vampiro real”. Porque é como se você nunca envelhecesse.
P. – Um vampiro real?
LK – Não, eu não sou um vampiro (risos). Bem… Eu faço o meu melhor para cuidar do meu templo. O corpo é o templo. Isso é uma afirmação bíblica. Então, eu faço o meu melhor para cuidar dele. Tudo que eu faço é natural. A forma que como, a forma penso, a forma que treino meu corpo e minha mente. Você pode ter 30 anos e ser destruído. E você pode ser 80 anos e ser jovem e vibrante. Eu já vi isso. Você já viu isso. Realmente depende.
Sim, com certeza. O comentário era a respeito do clipe de “TK421”, em que você aparece completamente nu.
Bem, foi divertido. Eu fiquei surpreso. Não era a minha ideia. Foi ideia da diretora [Tanu Muiño]. Mas eu me diverti. Nós nos divertimos. Foi realmente como assistir a alguém que está em casa sozinho tocando música. E, sabe, sendo bobo e aproveitando enquanto se prepara para começar o dia. Esse foi o conceito do vídeo. Foi muito simples. Mas foi divertido de fazer. Eu amo a diretora, Tanu. Eu descobri o trabalho dela quando vi o vídeo da Rosalía de “Chicken Teriyaki”, que eu amo. E foi por isso que a chamei. Então, foi ideia dela. Você pode culpá-la.
P. – E o que você pode nos dizer sobre “Blue Electric Light”? Por que você escolheu essa música para batizar o álbum?
LK – Na verdade, foi o meu guitarrista, Craig Ross, que está comigo há muito tempo. Ele é a minha mão direita. Eu sonhei com a música, cheguei no estúdio na manhã, gravei, toquei todos os instrumentos, cantei, terminei. E o Craig olhou para mim e disse: ‘Você sabe que esse é o título do álbum’. Eu disse: ‘É?’. Ele disse: ‘Blue Electric Light, cara, esse é o título. Essa música é o título’. Eu já tinha escolhido outro título e tinha pensando em algo diferente. Mas eu continuei ouvindo e eu disse: ‘Você está certo’. Foi a última música e acabou ficando ‘Blue Electric Light’. Para mim, naquela música, luz elétrica azul é energia positiva, é espírito, é Deus, é humanidade, é amor, é sensualidade, é sexualidade. É tudo isso, são todos os elementos que nos fazem. E eu só via essa luz elétrica azul, apenas essa luz quente, brilhante, que nos abraça.
P. – Fazia 5 anos desde o seu último álbum, “Raise Vibration”. Por que demorou tanto para ter soltar algo novo?
LK – Eu toquei o último álbum por dois anos e depois me fechei por quase três anos [na pandemia], então já são 5 anos aí.
P. – E que outras músicas você acha que poderiam ser lançadas como singles?
LK – “Honey”, “Paralyzed”, “Love Is my Religion”… Estou brincando com essas por enquanto. Estou preso nessas. Mas todo o álbum. Tudo o álbum.
P. – Hoje em dia parece que a maioria das pessoas não se importa mais em fazer álbuns, eles vão lançando single atrás de single. Por que você achou que era importante lançar o trabalho assim?
LK – Eu faço álbuns, é isso que eu faço. Eu tenho certeza de que é o que sempre farei. Eu acredito no álbum. É uma obra fechada. É uma coleção de músicas que trata de um momento. E, para mim, precisa de várias músicas para contar uma história. Eu cresci ouvindo álbuns. Eu amo a experiência do álbum. Eu amo quando as pessoas se sentam e colocam um álbum. Sentam no sofá, leem as anotações do encarte, quem fez o que, em qual estúdio, quem tocou bateria, quem tocou guitarra, quem era o engenheiro de som, quem era o arranjador da orquestra. Você senta lá, escuta e pega tudo. É uma coisa linda. É uma ótima experiência.
P. – Você toca a maioria dos instrumentos no álbum, certo? Quantos instrumentos você toca?
LK – Eu toco o que for. Na maioria das músicas, eu toco tudo. Nas demais músicas, eu toco tudo, exceto a parte de guitarra, quando o Craig toca comigo. E o Craig também é o engenheiro do álbum. Então eu produzo e toco, o Craig toca e faz a engenharia. Somos nós dois no estúdio, e é assim que fazemos.
Então é um álbum muito pessoal.
Absolutamente. Sempre, sempre. Eu sempre coloco toda a minha alma em cada álbum.
P. – Assim como o álbum anterior, o novo álbum foi gravado no seu estúdio nas Bahamas. É o lugar onde você tem tido mais inspiração atualmente?
LK – Eu recebo a inspiração onde for, na vida, mas esse é o meu estúdio e eu adoro trabalhar lá. Ser nas Bahamas é maravilhoso porque é um lugar onde você pode se conectar com a Terra, com a natureza, com o ar, o oceano, as árvores. E é um ótimo lugar para se abrir.
P. – E no Brasil? Já teve alguma inspiração por aqui?
LK – Primeiramente, eu gostaria de fazer um álbum no Brasil em algum momento. Eu sonho com isso. Eu quero fazer na minha fazenda [em Duas Barras, no RJ] e ficar lá por seis meses fazendo música. Isso vai acontecer um dia. Há uma energia particular nesse lugar, no Brasil, nas montanhas.
Eu vi um vídeo da fazenda. É uma propriedade linda.
Sim, é. Obrigado. Mas estou ansioso para tocar o novo álbum no Brasil, com a turnê “Blue Electric Light”. E estaremos aí o mais cedo possível. Vocês são os melhores. Eu amo o Brasil e considero-o um dos meus lares. Eu amo as pessoas, a cultura, a música, a arquitetura, a comida, a vibração. É um país tão rico.
P. – Você é uma das grandes estrelas internacionais que já fizeram show na praia de Copacabana. Quem sabe voltar com um show por lá?
LK – Isso foi incrível. Acho que fui o primeiro a fazer isso, os Stones fizeram um ano depois de mim. Foi tão emocionante. Tantas pessoas. Foi como uma celebração. Quero fazer de novo!
VITOR MORENO / Folhapress