Nunes aposta em ofensiva de Bolsonaro contra Marçal, e Boulos, em racha da direita

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Apesar da ameaça imposta pelo crescimento de Pablo Marçal (PRTB), aliados de Ricardo Nunes (MDB) afirmaram acreditar que o prefeito pode recuperar terreno entre os eleitores da direita, principalmente após a família Bolsonaro ter explicitado seu distanciamento em relação ao influenciador.

Já a campanha de Marçal avalia que a pesquisa confirma levantamentos internos e que o candidato está no caminho certo. O entorno de Guilherme Boulos (PSOL), por sua vez, vê racha no campo da direita que pode beneficiá-lo.

Marçal cresceu sete pontos em duas semanas e está empatado na liderança da disputa pela Prefeitura de São Paulo. Ele marcou 21%, no mesmo patamar do deputado Boulos, que oscilou de 22% para 23%, e do prefeito Nunes, que foi de 23% para 19%.

Auxiliares de Nunes argumentam que há muito tempo de campanha pela frente e lembram que o prefeito tem vantagem na propaganda de rádio e TV, com o maior espaço entre os adversários.

Além disso, pontuam que a rejeição de Marçal oscilou para cima (de 30% para 34%) conforme sua taxa de conhecimento aumentou.

Essa investida de Jair Bolsonaro (PL) e seus filhos, com uma série de vídeos e declarações de apoio a Nunes e de crítica a Marçal, começou a ocorrer no sábado (16) e, para alguns estrategistas ligados ao prefeito, pode ainda não ter sido percebida pelo eleitor bolsonarista.

A aposta deles é a de que, ao final, o ex-presidente vai conseguir influenciar a maior parte do seu público em direção a Nunes.

De qualquer forma, aliados do prefeito admitem que, ao lado da estratégia inicial de exaltar a gestão, será preciso dar atenção à agenda política e ideológica –ainda que haja resistência da parte do MDB em abraçar totalmente o bolsonarismo na campanha.

A leitura dos emedebistas é a de que Bolsonaro já vem tendo protagonismo, a exemplo da convenção, no último dia 3, em ele e a mulher, Michelle Bolsonaro, discursaram.

Mas, desde que a subida de Marçal ficou clara, o bolsonarismo tem ganhado espaço na campanha de Nunes. Nesta quinta-feira (22), o prefeito afirmou que deve fazer uma agenda com Bolsonaro nas próximas semanas. Também gravou um vídeo com Eduardo Bolsonaro em que eles selam uma espécie de paz apesar das alfinetadas do deputado na semana passada.

Após o resultado da pesquisa, Marçal enviou declaração em que repete que não haverá segundo turno na eleição. “Somos só nós (o povo e Deus) contra tudo e todos. A piada virou pesadelo e não vai ter segundo turno.”

A campanha dele vê a confirmação da tendência mostradas por pesquisas internas.

Aliados de Guilherme Boulos avaliam que a pesquisa trouxe um revés para o campo rival, o de candidatos que disputam o espólio de Bolsonaro, o que é positivo para o postulante apoiado por Lula (PT), cujo discurso explora a expressiva rejeição ao ex-presidente na cidade.

No entorno de Boulos, já não é descartada a possibilidade de um segundo turno entre ele e Marçal, com a ressalva de que a campanha ainda está no início e o cenário pode mudar. A leitura é que o embate com um bolsonarista radical, caso o candidato do PSOL passe à próxima etapa, pode ser favorável, dada a rejeição a Bolsonaro. A aproximação recente entre Nunes e Bolsonaro no intuito de estancar o crescimento do candidato do PRTB também foi vista como um elemento que aprofunda o desgaste do prefeito.

A candidatura de Boulos usou a pesquisa para animar sua base com a mensagem de que ele está em primeiro lugar, embora tecnicamente o deputado esteja empatado com os outros dois. Em nota, a campanha afirmou que Boulos apareceu “com um eleitorado muito consolidado”.

O comunicado também citou a oscilação para baixo da avaliação positiva da gestão Nunes pela segunda vez consecutiva na pesquisa Datafolha. Nas palavras da campanha, isso “reforça que a cidade quer mudança e não está satisfeita com o atual prefeito”.

“Somos a candidatura capaz de enfrentar o avanço do bolsonarismo na cidade de São Paulo, representado tanto por Nunes quanto por Pablo Marçal”, concluiu a campanha do deputado, que tem classificado o primeiro como bolsonarista “Nutella” e o segundo como “raiz”.

Afetado pelo desempenho de Marçal, José Luiz Datena (PSDB) afirmou que não contesta a pesquisa.

Após oscilar de 14% para 10% no levantamento desta quinta, ele se apegou no resultado obtido entre os mais pobres. Entre os 36% que ganham até 2 salários mínimos, o empate é quádruplo: Boulos, Marçal e Nunes têm 18%, e Datena vem com 15%.

“Fico muito feliz de termos o reconhecimento dos eleitores mais pobres. Vamos em frente e trabalhar ainda mais”, disse o comunicador.

Nos bastidores, a campanha do tucano tenta transparecer um clima de cautela, enquanto se apega no fato de que o jornalista somente agora começa a se habituar com a corrida eleitoral.

A campanha da Tabata Amaral (PSB) enviou nota em que avalia como positiva a pesquisa.

Orlando Faria, consultor político da candidata, afirma que a pesquisa demonstra leituras importantes. Ele afirma que uma oscilação de 7% para 8% pode não parecer muito, mas para uma candidata que tem um alto nível de desconhecimento é relevante.

“Invertemos uma curva que parecia ruim quando estávamos em quinta com a entrada do Pablo e Datena e ainda crescemos”, diz Faria que a oscilação também demonstra que a campanha acertou na estratégia ao não abandonar o debate -Boulos, Datena e Nunes não compareceram ao embate na segunda-feira, o que a candidata considerou um ato de covardia.

“A nossa rejeição é baixa e não cresceu. Os dados são positivos, de grão em grão a galinha enche o bico”, afirma.

ANA LUIZA ALBUQUERQUE, CAROLINA LINHARES, CARLOS PETROCILO, ISABELLA MENON, JOELMIR TAVARES E ARTUR RODRIGUES / Folhapress

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