Nunes derrota Boulos e é reeleito prefeito de SP, projeta Datafolha

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O prefeito Ricardo Nunes (MDB), 56, derrotou Guilherme Boulos (PSOL), 42, no segundo turno da eleição para a Prefeitura de São Paulo e se reelegeu neste domingo (27) para um novo mandato de quatro anos, segundo projeção do Datafolha.

Com 20,51% das urnas apuradas, Nunes tinha 61%% e Boulos, 39%.

Para projetar a vitória de um candidato, o Datafolha acompanha os dados da apuração divulgados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e, por meio de um sistema próprio, faz a projeção do resultado considerando o peso que cada zona eleitoral tem em relação ao total de eleitores de cada cidade.

Quando há um número razoável de votos apurados em todas as zonas eleitorais, poderá ser possível estimar que um candidato não pode mais ser ultrapassado, e, portanto, projetar sua vitória.

Nunes assumiu a administração da capital paulista em maio de 2021, após a morte por câncer de Bruno Covas (PSDB), de quem era vice-prefeito. Antes disso, o emedebista nascido na periferia da zona sul foi vereador por dois mandatos e se projetou na região a partir da atividade empresarial no ramo da dedetização.

Ao contrário da campanha de 2020, quando Covas derrotou o mesmo Boulos por 60% a 40%, o pleito deste ano ficou marcado por episódios de agressividade, principalmente no primeiro turno, por causa da participação de Pablo Marçal (PRTB), alvo de uma cadeirada em debate e responsável por ofensas e factoides.

Neste domingo, houve troca de acusações entre as campanhas de Nunes e Boulos a partir de uma declaração do governador Tarcísio de Freitas (Republicamos), aliado do prefeito, dizendo, sem apresentação de provas, que o PCC (Primeiro Comando da Capital) orientou voto no candidato do PSOL.

Segundo o governador e a Secretaria de Segurança Pública, a inteligência da polícia interceptou esse tipo de mensagem.

Boulos chamou a declaração de “uma vergonha” e disse ser o “laudo falso” do segundo turno, em referência ao documento forjado sobre uso de cocaína divulgado na primeira etapa da campanha por Marçal. O deputado ajuizou uma ação na Justiça Eleitoral pedindo a inelegibilidade de Nunes e a cassação de Tarcísio.

No último dia 6, a capital paulista teve a disputa mais acirrada desde a redemocratização. Com 29,48%, Nunes teve 25 mil eleitores a mais que Boulos (29,07%), que superou Marçal (28,14%) por 57 mil votos.

Já o segundo turno opôs diretamente o presidente Lula (PT), que patrocinou a candidatura de Boulos, e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que deu seu apoio envergonhado a Nunes. Mas a corrida paulistana ficou longe de parecer um terceiro turno da eleição presidencial de 2022, vencida pelo petista, que na capital superou o adversário com alguma folga.

Que a cidade mais importante do país passe a ser palanque de Bolsonaro e da direita é um revés para os planos de reeleição de Lula em 2026. Mais que isso, o resultado deste domingo é uma vitória política para Tarcísio, virtual candidato ao Palácio do Planalto e principal investidor de Nunes. O prefeito, por sua vez, declarou que essa pode ser a última eleição que disputou.

O mergulho de Tarcísio contrastou com a hesitação de Bolsonaro, que sentiu a pressão do seu público pró-Marçal. A ausência do ex-presidente contribuiu para o plano do MDB de diluir a rejeição a ele, tratando-o como um entre tantos apoiadores de uma frente ampla. Mas isso colocou a perder a vantagem prevista para Nunes por ter conseguido que o PL não lançasse um bolsonarista.

De qualquer forma, a peça colocada por Bolsonaro na corrida paulistana, o coronel da reserva da Polícia Militar Ricardo Mello Araújo (PL), é agora vice-prefeito eleito. A marca do ex-presidente tende a se ampliar no novo governo Nunes —que na campanha já fez concessões ao bolsonarismo como voltar atrás na opinião sobre obrigatoriedade da vacina e desconversar sobre a infundada fraude na votação de 2022.

No início do ciclo eleitoral, a perspectiva de nacionalizar o pleito, o apoio da máquina federal e o recall de quem participava da sua quarta eleição consecutiva colocaram Boulos em posição de favoritismo em relação a Nunes, um prefeito desconhecido, que nunca havia disputado um pleito majoritário e era considerado por detratores pequeno demais para a cadeira.

Nunes, no entanto, herdou de Covas não só a prefeitura, mas um grupo político-partidário que sustentou sua reeleição com uma coligação de 11 partidos (MDB, PL, Republicanos, União Brasil, PP, PSD, Solidariedade, Podemos, Avante, PRD e Mobiliza), além de dissidentes do PSDB, legenda que acabou lançando José Luiz Datena.

Ancorado no caixa folgado da prefeitura e em figurões partidários e com 65% da propaganda no rádio e na televisão, Nunes reverteu as previsões iniciais e foi testemunha de que as ferramentas da política convencional ainda têm impacto decisivo.

O cerne de sua estratégia foi evitar a polarização nacional e trazer o debate para o município —exaltar feitos como a fila da creche zerada, o recapeamento recorde, a tarifa zero de ônibus aos domingos e a faixa exclusiva para motos.

Por outro lado, Nunes venceu apesar de suspeitas e polêmicas como a máfia das creches, o boletim de ocorrência por violência doméstica, relatos de uso da máquina e a infiltração do PCC em serviços da prefeitura, como os contratos de ônibus.

Apesar do arco de transformação pelo qual passou Boulos nos últimos quatro anos, sua rejeição ainda pesou a favor de Nunes, que não poupou a chance de relacioná-lo a extremismo, radicalismo, invasões, depredação, drogas, crimes e revogação de privatizações.

Além do ideário de esquerda, o prefeito se baseou no histórico de 20 anos do adversário como coordenador nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) para fustigá-lo. Boulos vestiu o figurino de moderado e fez gestos ao centro, mas resgatou na reta final o tom contundente de militante num esforço para fisgar eleitores de Marçal, apesar da migração em massa deles para o rival.

O enfrentamento entre Nunes e Boulos ao longo da campanha se deu em torno de questões como experiência, visão de longo prazo para a cidade e conivência com corrupção e crime organizado —ou a falta delas. As alianças também entraram em xeque, sobretudo pela vinculação que o psolista insistia em fazer entre o prefeito e Bolsonaro, visto pela esquerda como uma companhia tóxica.

O apagão que afetou 3,1 milhões de clientes da Enel na capital e Grande São Paulo foi talvez o tema mais explorado no segundo turno —com um jogo de empurra de responsabilidades, atribuídas por um lado ao prefeito por falha na poda de árvores, e pelo outro ao governo Lula por omissão no controle da concessão.

Nunes termina a disputa vendo uma ex-colaboradora sua gestão, Marta Suplicy, malsucedida na manobra comandada por Lula em que abandonou neste ano a pasta de Relações Internacionais para voltar ao PT, quase uma década após o rompimento traumático com o partido, e ser vice do candidato do PSOL.

Apesar de bater na trave pela segunda vez, Boulos sai da disputa como nome em ascensão no deserto de renovação do chamado campo progressista. Ele e companheiros como Lula e Marta têm na vitória de Nunes um exemplo do desafio imposto ao segmento para os próximos ciclos eleitorais.

CAROLINA LINHARES E JOELMIR TAVARES / Folhapress

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