Nunes diz que apagão em SP não vai prejudicar sua campanha, e sim a de Boulos

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ao lado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), o prefeito Ricardo Nunes (MDB) voltou a fazer críticas à Enel e cobrar ações do governo federal, nesta terça-feira (15), após o apagão que atingiu 2 milhões de pessoas e já chega ao quarto dia.

Alvo do adversário Guilherme Boulos (PSOL) por causa da crise, que dominou o primeiro debate entre eles, realizado pela Band nesta segunda (14), Nunes negou que o apagão possa prejudicar sua campanha. Segundo o prefeito, o prejuízo será de Boulos, que é o candidato apoiado pelo presidente Lula (PT).

“Acho que não [vai prejudicar], porque a prefeitura deu a pronta resposta. Eu, logo de imediato, coloquei 4.000 homens na rua. Nosso plano de contingência foi muito ativo”, disse.

“Eu fui muito ativo na defesa do interesse da cidade. Pelo contrário, acho que [a crise] demonstra para a população um prefeito que tem a voz altiva, que defende o interesse, e não o outro candidato, que passa pano nessa questão da Enel e fica fazendo só vídeo para lacração”, afirmou.

Boulos tem citado o apagão na cidade para fustigar a gestão do emedebista. No debate da Band, o candidato usou termos como “cara de pau”, “mentiroso” e “vacilante” para se referir a Nunes ao criticá-lo pela atuação diante do tema.

“Sempre o problema é do outro, né? Você não faz poda de árvore, e o culpado é o Lula?”, indagou o deputado do PSOL, afirmando que a cidade está refém de “duas incompetências”, de Nunes e da concessionária. “Eu vou tirar a Enel de São Paulo, porque precisa ter um prefeito com pulso, com firmeza, não um prefeito vacilante.”

Nesta terça, Nunes cancelou agendas públicas de campanha e terá uma reunião com Tarcísio e o TCU (Tribunal de Contas da União) a respeito da concessão da Enel. O governador e o prefeito, em entrevista à imprensa, responsabilizaram o governo federal, já que a concessão e a fiscalização são federais e ficam a cargo da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).

“A responsabilidade está muito clara, de que é da Enel. Se tiver alguém que vai ser prejudicado, é o candidato do governo federal, que foi omisso, está sendo omisso, e que não fez nada”, disse Nunes, em referência a Boulos.

“Aconteceu [um apagão] em novembro do ano passado. Eu pedi extinção do contrato, abertura do processo de caducidade ou a intervenção. E absolutamente nada aconteceu, a não ser o presidente e o ministro ficarem tomando café e conversando com a Enel no Brasil e no exterior, sinalizando uma renovação do contrato”, criticou Nunes.

Segundo o prefeito, a Enel “não tem condições de continuar”.

“A única coisa que eu tenho hoje de reclamação com o governo federal é isso, é essa omissão, essa situação que as pessoas estão sofrendo e parece que não acontece nada”, disse Nunes, ressaltando que tem mantido boa relação com o governo Lula e tem interlocução com o ministro Alexandre Padilha (PT), chefe da Secretaria de Relações Institucionais.

Questionado a respeito do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, ser do PSD, um partido aliado de Nunes na eleição de São Paulo, o prefeito disse que nem sabia sua filiação.

“Eu nem sei de que partido é esse ministro, para mim pode ser do partido que for, se ferir o interesse de São Paulo, poderia ser do meu partido, eu vou para cima e vou reclamar, porque é um ministro omisso. Eu estive lá com ele, prometeu um monte de coisa, falou bonito, aquela conversinha mole dele”, reclamou.

Segundo pesquisa Datafolha de quinta-feira (10), Nunes tem 55% das intenções de voto, enquanto Boulos registra 33%.

Também nesta terça-feira, Tarcísio cobrou uma postura mais firme da gestão Lula no trato com a empresa.

A regulação tem esses instrumentos. Você tem a possibilidade, por exemplo, de decretar intervenção na concessão. Isso não foi feito até hoje. Você tem a possibilidade de abrir o processo de caducidade. Isso também não foi feito até hoje”, declarou.

Segundo o governador, o centro de São Paulo sofreu um apagão no início do ano sem que houvesse condições climáticas adversas. “Naquela oportunidade nós pedimos, por exemplo, ações mais duras com relação à companhia, porque não adianta também só aplicar a multa. A empresa não paga a multa. Ela vai no Judiciário, ela consegue suspender as multas. Ela não paga as multas aplicadas pelo Procon. Ela não paga as multas aplicadas pelo regulador. Então você precisa de ações mais firmes.”

CAROLINA LINHARES / Folhapress

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