Nunes e Boulos ignoram, em planos de governo, ação coordenada contra desastres climáticos

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) prometem medidas de defesa civil em São Paulo. Falta em seus planos de governo, no entanto, a previsão de ações coordenadas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e a recorrência de desastres causados pela chuva na cidade, dizem especialistas.

O tema ganhou força no segundo turno, depois que um temporal deixou 2,1 milhões de paulistanos sem luz e causou a queda de 386 árvores —sete pessoas morreram.

Nunes, no plano de governo, louva o aumento de agentes de defesa civil, a compra de 47 viaturas novas e a criação do Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR).

Ele promete consolidar esse plano, além de fortalecer a coordenação da Defesa Civil e aprimorar o Sistema de Alerta de Inundações (SAISP).

Boulos, por sua vez, propõe em seu plano criar o Centro de Gestão de Desastres.

Além disso, promete atualizar o Plano Diretor de Drenagem (PDD), documento que lista obras estratégicas de combate a cheias.

Após o apagão, o candidato do PSOL anunciou novas medidas para defesa civil: elaborar um sistema de alerta pelo celular, enterrar os cabos de energia e criar um mapa municipal de manejo das árvores de São Paulo, usando tecnologias de ponta.

“Enviar um sistema de alerta para uma área inundada não adianta se não houver uma boa drenagem na cidade”, diz o pesquisador Victor Marchezini, que estuda gerenciamento de riscos.

Por isso, Eduardo Mendiondo, professor de Hidráulica e Saneamento da USP, concorda.

“O sistema de drenagem de São Paulo está colapsado. As tubulações estão enterradas, então ninguém critica, vê ou monitora”, afirma.

Ele avalia ser correta a iniciativa de atualizar o plano de drenagem da cidade, tal como o psolista sugere.

Ambos os especialistas, no entanto, dizem que nem Boulos nem Nunes apresentam a medida mais importante de defesa civil: a ação coordenada de diversos órgãos públicos para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

“Nenhum candidato tem uma proposta estruturante sobre isso”, diz Mendiondo. “Não há um plano diretor pensando a cidade de São Paulo em 2050.”

Segundo esse pensamento, a prevenção de desastres deve envolver todas as secretarias municipais. Afinal, os efeitos dos eventos extremos atingem diferentes instâncias da vida urbana, da saúde ao meio ambiente.

Nesse sentido, Mendiondo é reticente quanto ao debate sobre a poda de árvores, que, em sua avaliação, deveria ser secundário. Ele prefere pensar que, ao longo do tempo, a metrópole se expandiu sem respeitar os limites da natureza, agora restrita a bolsões, como parques públicos.

Para o especialista, o projeto de urbanização deveria ser orientado pela proteção da biodiversidade. “Cadê o projeto para melhorar as raízes para que mais árvores existam? Não tem”, diz.

Igor Pantoja, coordenador do Instituto Cidades Sustentáveis, concorda que a Defesa Civil precisa estar integrada a outras políticas públicas da cidade.

Em caso de desastres, diz ele, o poder público teria protocolos integrados de assistência social, conselho tutelar e ainda atendimento a deficientes. “Falta mais compromisso político e mais capacidade de articulação institucional”, afirma.

ASFALTO

Especialistas afirmam que Nunes, em seu primeiro mandato, não ajudou a prevenir essas crises e deveria ter direcionado o orçamento para adaptar a cidade às mudanças climáticas.

Entre 2021 e 2024, o prefeito gastou R$ 6,5 bilhões com pavimentação, no maior programa de asfaltamento da história da cidade.

“Quando você escolhe asfalto, você prioriza um tipo de cidade menos permeável e menos resiliente à crise climática”, afirma Ursula Peres, professora de políticas públicas da USP.

Em nota enviada à Folha, a prefeitura afirmou que o investimento no combate às enchentes teve valor recorde.

Desde 2021, diz a nota, o orçamento é de R$ 7,4 bilhões na área, um aumento de 76%, em comparação com o período de 2013 a 2020.

A prefeitura afirma ainda que são várias as prioridades da gestão, abrangendo diversos setores, e que São Paulo é uma das poucas cidades no mundo com uma Secretaria do Meio Ambiente.

GUSTAVO ZEITEL E MARCOS HERMANSON / Folhapress

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