Nunes escala ex-governador para criar plano de governo e usa app para ouvir cidadão

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Enquanto Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB) apostaram em um time de especialistas ligados a gestões passadas da prefeitura e do Governo de São Paulo para formular seus planos de governo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) quer que as sugestões para um eventual próximo mandato venham da população.

Para isso, nesta segunda-feira (10), o MDB lança o aplicativo Fala Aí São Paulo, em que os moradores da capital poderão escrever livremente a respeito de problemas e soluções.

A coordenação do plano de governo foi entregue ao ex-governador Rodrigo Garcia, que deixou o PSDB em março, após ter sido derrotado na eleição estadual de 2022, e agora volta aos holofotes da vida pública.

“A pedido do prefeito, a gente inicia o programa de governo ouvindo a sociedade para, na sequência, consolidar propostas, ouvir especialistas e a academia, que também serão importantes. É uma inversão completa de lógica”, afirma Rodrigo à Folha.

Na opinião do ex-governador, a ideia de embasar as propostas na avaliação de quem usa os serviços da cidade e fazer o que ele chama de “um programa de governo real” combina com o estilo de Nunes, que era vereador antes de ser eleito como vice na chapa de Bruno Covas (PSDB), morto em 2021.

A estratégia de Nunes para seu plano de governo se contrapõe à de Boulos e Tabata, que apresentaram um time estrelado de especialistas. Ao dar protagonismo ao cidadão, o prefeito dribla o fato de que entre os quadros que colaboram com os adversários estão nomes ligados a ele próprio e a Rodrigo Garcia.

A coordenação do programa de Tabata, por exemplo, é da ex-secretária Vivian Satiro, que conduziu o plano de Covas em 2020. Ex-secretária da gestão Rodrigo, Marina Bragante (Rede) agora integra a equipe que elabora as propostas de Boulos.

Como mostrou a Folha, a elaboração dos planos de Boulos e Tabata também serve a táticas políticas de ambos.

O deputado do PSOL, que marcou 24% no Datafolha em um empate com Nunes (23%), quis demonstrar amplitude e rebater a pecha de radical ao angariar quadros que estiveram em gestões do PT, do PSDB e do PSD.

Já Tabata (8% no Datafolha) conta sobretudo com ex-auxiliares de Geraldo Alckmin (PSB), num aceno ao PSDB, legenda que ela pretende atrair para sua coligação, e para rebater críticas sobre sua juventude ou falta de experiência.

Com o objetivo de divulgar o aplicativo de Nunes, um projeto bancado pelo diretório municipal do MDB, o partido fará 32 reuniões regionais na capital, a partir desta segunda até quinta-feira (13). São esperados comerciantes, associações de bairro e outras entidades da sociedade civil organizada para ouvir a exposição de secretários municipais e líderes da legenda.

“Vamos mostrar o aplicativo, mostrar para as pessoas que elas vão ser ouvidas e a partir das ideias delas é que nós vamos montar o programa de governo. Agora, ela tem um mecanismo permanente para conversar com a pré-campanha e dar suas sugestões e críticas”, diz Rodrigo Garcia.

Depois dos encontros regionais, nos dias 19, 20, 26 e 27 de junho, haverá quatro reuniões plenárias, uma por região, com a presença de Nunes e do ex-governador.

“Nesse momento vamos mostrar quantas contribuições já tivemos no aplicativo, as áreas em que estamos separando, os caminhos que apontam as primeiras consolidações. Enfim, começar a pincelar ações para o futuro”, afirma Rodrigo.

O coordenador afirma esperar dezenas de milhares de interações no app, mas reconhece que haverá alguma dose de xingamentos ou comentários sem utilidade. De qualquer forma, Rodrigo classifica a empreitada como “uma oitiva ampla e inédita”.

Segundo o ex-governador, o aplicativo está de acordo com as normas da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) e o dado necessário para enviar a sugestão será o nome da pessoa. Em seguida, ela escolhe se a sugestão é para a cidade ou para seu bairro e tem um espaço livre de texto para escrever.

Questionado sobre os problemas da cidade que Nunes, na cadeira de prefeito, não conseguiu resolver e que serão objeto da sua proposta para mais quatro anos, como a cracolândia, Rodrigo diz que vai ser preciso comparar a gestão atual e as anteriores.

“Em relação aos problemas que Nunes quer tratar na campanha, ele vai mostrar as dificuldades reais que existem, para que ele continue avançando nas políticas públicas dele. Então, vai ser muito comparativo.”

Somente a partir de julho é que o modelo já adotado pelas pré-campanhas de Boulos e Tabata vai vigorar. Secretários e ex-secretários, acadêmicos, políticos e outras autoridades em políticas públicas serão agrupados em eixos temáticos para consolidar as propostas —a partir das ideias surgidas no app.

“A partir de uma orientação, vamos desenhar as propostas: as condições da cidade são essas, as condições orçamentárias são essas, e a população tem falado isso”, diz Rodrigo, acrescentando que a primeira versão do plano estará pronta no momento de registro da candidatura, em agosto, e será refinada ao longo da campanha.

O ex-governador, por sua vez, diz que ainda não pensou em nomes dos especialistas que vai convidar. “Na cabeça do Ricardo Nunes, o maior especialista é o povo. Fica clara essa diferença”.

Rodrigo desenhou quatro grandes áreas para agrupar as propostas: a primeira trata de prosperidade, oportunidade de emprego, qualificação, crédito; a segunda de desenvolvimento urbano e sustentabilidade, a terceira de programas sociais e cidadania; e a quarta de governança e responsabilidade fiscal.

Ele diz ainda que pretende conectar o plano de governo atual, de Bruno Covas, com o de Nunes, pensando em continuidade e ampliação do que considera marcas da gestão, como tarifa zero aos domingos, faixa azul para motos, preservação da área verde e fila da creche zerada. “A gente está linkando ações realizadas e como nós vamos dar o salto para o futuro.”

CAROLINA LINHARES / Folhapress

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