SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O prefeito reeleito Ricardo Nunes (MDB), em seu discurso de vitória neste domingo (27), falou em vitória da gestão, enalteceu Tarcísio como ‘líder maior’ e disse que governará para todos.
O emedebista afirmou que São Paulo deu uma lição de democracia para o Brasil e que o equilíbrio venceu o extremismo.
“Quem não tiver acervo de realizações, algo para mostrar de concreto, terá cada vez mais dificuldade de ter como único argumento político a rejeição do adversário”, disse.
O prefeito abriu o discurso agradecendo ao povo e à família e em seguida se referiu a Tarcísio. “Agradeço ao líder maior, sem o qual essa vitória não seria possível. Meu amigo que me deu a mão na hora mais difícil, o governador Tarcísio de Freitas.”
Nunes repetiu quase exatamente o feito de Bruno Covas (PSDB) ao se reeleger prefeito da capital contra Guilherme Boulos (PSOL), tendo ao seu lado um vice à direita, desconhecido e improvável. Há quatro anos, o vice era ele.
Ao lado do prefeito, no Clube Banespa (zona sul), estavam sua mulher, Regina Carnovale, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o vice-prefeito eleito, o policial militar aposentado Ricardo Mello Araújo (PL), marca do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na chapa e agora no futuro governo.
A festa da vitória teve ainda a presença de uma série de secretários, deputados e vereadores, incluindo o presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União Brasil).
No palco, estavam presentes ainda o ex-governador Rodrigo Garcia, o presidente do MDB, Baleia Rossi, e o presidente do PSD, Gilberto Kassab.
Mas é sobre Tarcísio que recaem os créditos da vitória de Nunes. Atuando pela primeira vez como articulador, padrinho e cabo eleitoral, o governador chegou a bloquear sua agenda para estar à disposição da campanha.
Neste domingo, uma declaração do governador fomentou o embate entre as campanhas. Tarcísio afirmou, sem apresentação de provas, que o PCC (Primeiro Comando da Capital) orientou voto no candidato do PSOL.
Boulos chamou a declaração de “uma vergonha”. O deputado ajuizou uma ação na Justiça Eleitoral pedindo a inelegibilidade de Nunes e a cassação de Tarcísio.
Apontado como o principal nome da direita para a disputa presidencial de 2026, dada a inelegibilidade de Bolsonaro, Tarcísio sai da eleição municipal não só com maior projeção, mas com uma coligação embrionária e com palanque garantido na cidade mais importante do país. Já Nunes declarou que essa pode ser a última eleição que disputou.
O presidente Lula (PT), por sua vez, é sócio da derrota de Boulos, mais um revés para a esquerda no pleito de 2024 e um entrave para a reeleição do petista.
Em 2020, Covas pediu licença a apoiadores graúdos e sua família para agradecer a Nunes em primeiro lugar. Nesse momento do discurso, o então vice é puxado lá de trás para abraçar o tucano ele não estava na primeira fila do palco.
Nunes havia sido naquela campanha um problema para Covas por causa de suspeitas que só se intensificaram desde então e voltaram a assombrar o emedebista neste pleito, como a investigação da máfia das creches e o boletim de ocorrência da primeira-dama por violência doméstica.
O agora vice-prefeito eleito, Mello Araújo, nunca havia disputado nas urnas. Ex-comandante da Rota e ex-presidente da Ceagesp, foi indicado por Bolsonaro e aceito por Nunes e Tarcísio num momento em que a campanha precisava conquistar bolsonaristas que viam em Pablo Marçal (PRTB) o verdadeiro nome da direita.
No discurso de Covas há quatro anos, Bolsonaro foi criticado indiretamente, quando o tucano afirmou que restavam “poucos dias para o negacionismo e para o obscurantismo”. Já Nunes agiu no sentido contrário ao buscar uma aliança com o ex-presidente para evitar ter um concorrente do PL, o que conseguiu.
Mas o crescimento de Marçal balançou Bolsonaro, e o apoio hesitante e envergonhado do ex-presidente a Nunes ficou evidente, principalmente em comparação ao empenho de Tarcísio. A vantagem do prefeito sobre Boulos neste segundo turno contrasta com o sufoco do empate triplo no primeiro, o resultado mais apertado da capital desde a redemocratização.
A conexão entre a eleição local e a nacional apareceu também em 2020, já que a aliança de Covas com o então vereador Nunes foi bancada por João Doria com o objetivo de trazer o MDB para sua campanha presidencial de 2022 que nunca aconteceu. Naquele momento, o resultado na capital era uma vitória contra Bolsonaro, e não a favor como agora.
Covas morreu de câncer em maio de 2021, deixando a cadeira para o emedebista.
A discussão nacional que se coloca na capital com Tarcísio a partir de agora foi interditada na campanha pelos estrategistas de Nunes. A reedição da polarização entre bolsonaristas e lulistas mais interessava a Boulos, já que Lula venceu Bolsonaro na cidade em 2022. A ausência de ambos os padrinhos na campanha, no entanto, pesou para que a eleição paulistana fugisse a essa lógica.
A campanha do MDB apostou em outro caminho, apresentando Nunes como gestor e exaltando medidas populares como recapeamento e tarifa zero aos domingos. Visto por rivais como um vereador na cadeira de prefeito, Nunes foi alavancado pela coligação de 11 siglas, pelo maior espaço na propaganda eleitoral e pela máquina da prefeitura e seu caixa recorde.
Em 2020, a disputa entre Covas e Boulos foi cordial. Desta vez, a agressividade fora do comum ficou na conta de Marçal, mas o segundo turno também teve troca de ataques Nunes associou Boulos a extremismo, desordem e inexperiência.
CAROLINA LINHARES E ANA LUIZA ALBUQUERQUE / Folhapress