SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A exoneração de Marta Suplicy do cargo de secretária de Relações Internacionais da gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) foi publicada na edição desta quarta-feira (10) do Diário Oficial sem indicar um acordo comum, como havia sido sinalizado na reunião entre os dois no dia anterior.
A publicação não menciona a expressão “a pedido”, comum nos casos de saída amigável entre as partes.
A saída de Marta foi anunciada nesta terça-feira (9), após a ex-prefeita sinalizar ao presidente Lula (PT), com quem se reuniu na véspera, que aceitará o convite para ser vice de Guilherme Boulos (PSOL) na eleição municipal na cidade.
Após a repercussão da reunião entre Marta e Lula, Nunes inicialmente minimizou, dizendo não haver fato novo para a então secretária mudar de lado na campanha. Depois, disse ter recebido novas informações e preparou uma carta de demissão para reunião com ela na prefeitura.
Marta, que estava de férias desde o dia 15 de dezembro, também preparou uma carta com pedido de demissão partindo dela.
Ainda de acordo com relatos, a ex-prefeita queria divulgá-la só nesta quarta, mas Nunes pretendia que a situação fosse resolvida antes. Diante disso, Marta entregou a carta de demissão ao prefeito nesta terça dizendo que a saída foi de comum acordo e que seguirá “caminhos coerentes” com sua trajetória.
Ela também afirmou no texto que está se guiando pelo momento “em que o cenário político de nossa cidade prenuncia uma nova conjuntura”, diferente da que a levou a aceitar o convite para a secretaria ainda durante a gestão de Bruno Covas (PSDB), que morreu em 2021 e deixou a cadeira para Nunes.
A prefeitura também divulgou nota na qual afirmou que “ficou decidido, em comum acordo, que ela deixa suas funções”. O informe sobre a demissão diz que Nunes chamou Marta “para esclarecer as informações veiculadas na imprensa”. O texto, sucinto, não tinha agradecimentos à agora ex-secretária.
Na reunião, o prefeito expôs a Marta seu incômodo por ter ficado durante 15 dias sabendo apenas pela imprensa e não por ela das articulações da ex-prefeita para voltar ao PT. Não houve brigas, e o clima foi tranquilo, segundo os participantes.
Ainda de acordo com relatos, Marta propôs divulgar apenas na quarta-feira (10) sua carta de demissão, mas o prefeito queria que a situação fosse resolvida nesta terça, demitindo-a. Marta teria argumentado que isso seria ruim para sua trajetória, e Nunes, então, sugeriu que a demissão fosse em comum acordo, como acabou sendo divulgado nos comunicados à imprensa de ambos.
Pela manhã, Nunes ainda resistia em demiti-la, mas mudou de ideia depois que um aliado dele soube que a conversa dela com Lula estava avançada e que assessores do petista tratavam a questão da vice de Boulos como resolvida.
Segundo um integrante da prefeitura, Nunes também ficou sabendo que Marta já tinha redigido uma carta de demissão. Pesou ainda a própria notícia de que Marta disse a Lula que topava ser vice, mas antes precisaria conversar com Nunes para informar sua saída.
Apesar de a prefeitura e de Marta terem divulgado que a demissão foi em comum acordo, aliados do prefeito consideram que ela foi demitida, já que Nunes foi quem tomou a iniciativa de chamá-la nesta terça. A carta de demissão de Marta, inclusive, tinha data de quarta-feira.
Diante das evidências de que de fato, a secretária estava planejando migrar para a campanha de Boulos pelas suas costas, Nunes ficou profundamente magoado e perdeu a confiança nela, segundo aliados dele. Aliados do emedebista querem colar nela a pecha de traidora.
A possibilidade de que Marta voltasse ao PT para ser vice de Boulos foi revelada pela Folha de S.Paulo em novembro. A expectativa é que ela se encontre com o deputado do PSOL ainda nesta semana, provavelmente na quinta-feira (11).
GÉSSICA BRANDINO E CAROLINA LINHARES / Folhapress