SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A convenção do MDB que vai confirmar Ricardo Nunes na eleição de São Paulo, neste sábado (3), aposta no público e na presença dos padrinhos políticos de peso, incluindo os ex-presidentes Jair Bolsonaro (PL) e Michel Temer (MDB), o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o ex-governador Rodrigo Garcia.
Bolsonaro gravou um vídeo de convocação para o ato. “Será nosso encontro com a democracia e com o futuro do Brasil”, afirmou ele, que emplacou seu indicado como vice na chapa, o coronel da PM Ricardo Mello Araújo. Michelle Bolsonaro também estará presente.
A aliança entre Nunes e Bolsonaro coloca pressão no emedebista sobre quais acenos e compromissos deve dedicar ao bolsonarismo para agradar essa base em uma eleição moldada na polarização nacional, com o presidente Lula (PT) em peso na pré-campanha de Guilherme Boulos (PSOL).
Declarado inelegível pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) até 2030 por ataques e mentiras sobre o sistema eleitoral, o ex-presidente já foi indiciado pela PF nos inquéritos das joias e da falsificação de certificados de vacinas contra a Covid-19. É alvo ainda sobre os ataques do 8 de janeiro.
Principal cabo eleitoral de Nunes, Tarcísio afirmou na convenção do Republicanos, na quinta-feira (1º), que o prefeito será vitorioso “porque o bem sempre vence”.
Em busca da reeleição, o prefeito quer dar uma demonstração de força política ao reunir 12 partidos aliados, que ele tem chamado de frente ampla, no estacionamento da Assembleia Legislativa, local escolhido por Mario Covas (PSDB) em 1994.
O prefeito, porém, chega à convenção na condição de alvo da Polícia Federal na chamada “máfia das creches”. Como revelou a Folha de S.Paulo, mais de 100 pessoas já foram indiciadas no inquérito que também apura suspeitas de lavagem de dinheiro por parte de Nunes quando ele era vereador.
Até agora, Nunes aparece empatado tecnicamente com Boulos na liderança da pesquisa Datafolha. O apresentador José Luiz Datena (PSDB) grudou em ambos na última rodada da Quaest divulgada nesta semana.
Para evitar o risco de uma imagem sem multidão, dirigentes das legendas e seus pré-candidatos à Câmara Municipal passaram a semana convocando militantes para o ato na Assembleia.
Uma ausência, porém, será significativa a do presidente da Câmara e chefe do União Brasil na capital, Milton Leite. Após a tensão entre ele e Nunes ser contornada, Leite decidiu, por fim, apoiar o prefeito, mas afirmou à reportagem que não irá à convenção.
Em vez disso, Nunes é que terá que comparecer à zona sul, território de Milton Leite, para receber apoio do União Brasil em um evento específico do partido convocado com esse fim para a tarde de sábado, após a convenção.
A claque de Leite que vai povoar o evento do vereador fará falta no estacionamento da Assembleia. O evento paralelo não deixa de ser um recado de Leite, que foi preterido para a vaga de vice na chapa, no processo de barganha com o prefeito além das secretarias que já domina, ele pleiteia a criação de mais duas, de mananciais e proteção animal.
Em compensação, os militantes do movimento “Tucanos com Ricardo Nunes”, que protestaram contra Datena na convenção do PSDB há uma semana, prometem engrossar o evento do prefeito com bandeiras e camisetas. “Estaremos presentes em peso”, diz o líder tucano Fernando Alfredo.
Até detratores de Nunes, como o deputado Kim Kataguiri (União Brasil-SP), que era pré-candidato, mas desistiu ao ser impedido pelo partido, decidiram endossar o prefeito. Contrário a Boulos, o líder do MBL (Movimento Brasil Livre) declarou voto útil no emedebista.
A queda de Kim e as pazes com Milton Leite selaram a adesão do 12º partido na coligação de Nunes, o União Brasil, que se soma a MDB, Republicanos PL, PP, PSD, Solidariedade, Avante, Podemos, Agir, PRD e Mobiliza. Boulos, por sua vez, conta com 8 partidos.
Aliados de Nunes contam com a vantagem do prefeito no tempo de propaganda, nos recursos das siglas e na capilaridade da campanha, que deve ter cerca de 600 candidatos a vereador, como mostrou a coluna Painel.
As convenções, que devem ser realizadas pelos partidos de 20 de julho a 5 de agosto, são reuniões formais de filiados para escolher seus candidatos e coligações na eleição. Depois da convenção, Nunes tem até 15 de agosto, prazo da Justiça Eleitoral, para registrar sua candidatura.
Nunes assumiu a cadeira de prefeito em maio de 2021, após a morte de Bruno Covas (PSDB), de quem era vice. Depois de dois mandatos na Câmara Municipal, esta será sua primeira experiência no centro de uma campanha ao Executivo.
A pré-candidatura do emedebista só ganhou corpo com o embarque de Bolsonaro, após um namoro, como diz o ex-presidente, que se arrastou ao longo do ano passado até a declaração definitiva, em janeiro. Foi isso que garantiu que Nunes não tivesse um adversário à direita para dividir os votos anti-Boulos.
Nos últimos meses, o temor de que Pablo Marçal (PRTB) ocupe esse vácuo forçou a chapa entre Nunes e Mello Araújo, o escolhido de Bolsonaro, enquanto os demais conselheiros do prefeito preferiam uma mulher na vice.
Embora a rejeição de Bolsonaro (65% não votariam em candidato apoiado por ele em São Paulo) tenha se tornado um problema para Nunes administrar, a avaliação do seu entorno foi a de que era melhor se aliar ao ex-presidente do que acabar engolido pela polarização como Rodrigo Garcia derrotado ao escolher o caminho do meio.
Nesse sentido, Nunes diz querer priorizar os temas da cidade à política nacional para evitar a repetição da eleição de 2022 que, na visão dele, é o que Boulos pretende. Por isso, tem listado feitos como zerar a fila das creches, implementar a tarifa zero aos domingos e promover um programa recorde de recapeamento.
O prefeito está na mira de Boulos, Datena, Marçal e Tabata Amaral (PSB) não só por causa da investigação das creches, mas devido a outros escândalos como a suspeita de ligação entre o PCC e o sistema de ônibus, os indícios de corrupção em contratos emergenciais e o boletim de ocorrência da atual primeira-dama contra Nunes em 2011.
Por outro lado, a aprovação da gestão atingiu a melhor marca, de 31%, no início de julho, segundo o último Datafolha. A reprovação é de 22%.
CAROLINA LINHARES / Folhapress