FOLHAPRESS – Werner Herzog é o mais germânico dos diretores alemães de cinema. Seus filmes estão repletos de perigo e aventuras radicais, que se passam quase sempre fora da Alemanha. A estranheza do mundo chama sua atenção com frequência e um dos fenômenos que mais parece fasciná-lo são os vulcões.
Nada estranho, portanto, que faça um filme chamado “O Fogo Interior”, em homenagem ao casal Katia e Maurice Krafft, que dedicaram a vida a estudar e filmar vulcões. Ambos morreram durante a erupção do vulcão do monte Ulzen no Japão, em 1991.
Seu objetivo, ao perseguir e filmar vulcões, era usar essas imagens para alertar do enorme perigo que representam os vulcões. Anos antes, estiveram durante a erupção do Nevado del Ruiz, Colômbia, onde morreram 23 mil pessoas, fora os animais. Tentaram alertar para a necessidade de evacuar a cidade, mas não foram ouvidos.
Talvez não fosse um capricho dos governantes. Erupções vulcânicas são, dizem, fenômenos até certo ponto imprevisíveis. Mesmo os cientistas não conhecem os vulcões e seus caprichos em toda sua extensão.
Os filmes dos Krafft podem ser vistos como um alerta para o enorme perigo representado pelos fenômenos que estudavam essa era sua intenção explícita. Mas a homenagem que lhes faz Herzog não é dessa ordem.
Trata-se de por em relevo o fogo interior do casal apaixonado pelo estudo dos vulcões. Mais do que os vulcões, o que fascina o cineasta é a maneira obsessiva como se comportam diante deles, quase como se quisessem se enfiar ali para melhor conhecê-los. A aventura e o risco, a busca da vida intensa pela busca dos extremos.
Porque esse fogo interior dos Krafft duplica-se no fogo interior da Terra, o mover-se dos elementos, a explosão de lava. É como se, sugere Herzog, eles quisessem entrar no inferno para enfrentar o demônio.
No entanto, o fascínio de Herzog é também pelo fenômeno estético. Quase todo o documentário é composto de imagens feitas por Katia e Maurice, e Herzog deixa-se fascinar pelas imagens a um tempo terríveis e fascinantes, e belas também das explosões, da fumaça, da lava, da fora incontrolável que jorra de dento da Terra.
Essa homenagem também diz respeito ao cinema. O próprio Herzog esteve pessoalmente em Guadalupe, espreitando o vulcão La Souffrière, décadas atrás. Deu num belo curta-metragem, embora não pudesse rivalizar com os Krafft na filmagem da erupção propriamente dita.
Para quem não tem um fascínio especial pela contemplação do fogo que vem da Terra, um curta ou média-metragem daria bem conta da homenagem ao casal e também do fascínio pela beleza demoníaca (e assassina) das lavas.
O FOGO INTERIOR: RÉQUIEM PARA KATIA E MAURICE KRAFFT
– Avaliação Bom
– Quando Disponível no streaming Aquarius
– Classificação 12 anos
– Produção Alemanha, 2022
– Direção Werner Herzog
INÁCIO ARAUJO / Folhapress