SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O livro “O Menino Marrom”, de Ziraldo, não será mais utilizado em escolas de Conselheiro Lafaiete, cidade do interior de Minas Gerais a cerca de 80 quilômetros de Belo Horizonte. A Secretaria Municipal de Educação do município afirmou em nota publicada nas redes sociais que optou pela suspensão do uso do livro em atividades escolares após ouvir reclamações de pais que consideraram a obra agressiva.
O livro, publicado em 1986, conta a história de dois garotos, o menino marrom, um jovem negro, e o menino cor-de-rosa, que é branco, tentando entender por que eles são chamados de preto e de branco e se isso faz alguma diferença.
Pais do município consideraram violenta uma cena em que os garotos fazem referência a um pacto de sangue, que não acontece. “Um deles foi até a cozinha buscar uma faca de ponta para furar os pulsos e misturar o sangue dos amigos eternos”, diz o livro.
Os dois não se animam a tomar o método drástico, no entanto, e o silêncio de ambos é interrompido por uma pergunta. “Não tem um alfinete?” Mais uma vez sem coragem, no entanto, a dupla opta por afundar seus dedos num pote de tinta.
Em outra cena questionada pelos pais, o menino marrom diz que quer que uma senhora seja atropelada para o amigo após ela não aceitar sua ajuda para atravessar a rua.
Em uma nota no Facebook, a Secretaria de Educação de Conselheiro Lafaiete lamenta as interpretações dúbias acerca do livro, e diz que optou pela suspensão temporária dos trabalhos realizados sobre o livro para uma readequação da abordagem pedagógica de seu uso nas escolas, para evitar interpretações equivocadas.
“Uma das principais obras infantis a abordar os temas sociais, [o livro] aborda de forma sensível e poética temas como diversidade racial, preconceito e amizade. Utilizando uma linguagem simples e ilustrações atraentes, Ziraldo consegue envolver as crianças e facilitar a compreensão de conceitos complexos como racismo e empatia”, diz a nota.
Procurada pela reportagem, a editora Melhoramentos, que publica as obras de Ziraldo, não comentou a decisão do município de suspender o uso do livro em sala de aula, mas reforçou seu objetivo em promover a cultura por meio da educação e do entretenimento, que gera conteúdo para as famílias e o público infantil.
“Ziraldo é um dos autores infantojuvenis de maior expressividade na cultura brasileira. Sua capacidade de equilibrar humor, sensibilidade e temas relevantes como diversidade e inclusão, o destacaram como um mestre na arte de contar histórias”, diz a editora.
“Sua influência vai além das páginas de seus livros, estendendo-se para gerações de escritores, ilustradores e educadores que encontraram inspiração em sua obra. Com alcance nacional e internacional, Ziraldo sempre será um dos maiores nomes da literatura brasileira.”
DIOGO BACHEGA / Folhapress