O que a OMS quer dizer ao declarar algo como ‘possivelmente cancerígeno’

RIBEIRÃO PRETO, SP E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A OMS (Organização Mundial de Saúde), por meio da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (Iarc, na sigla em inglês), incluiu nesta quinta-feira (13) o adoçante aspartame na lista de itens “possivelmente cancerígenos”.

As listas da Iarc, responsável por pesquisa e recomendações sobre o câncer, indica compostos químicos, medicamentos, alimentos e ocupações que podem estar relacionados a doença.

Mas, o que isso quer dizer?

Um artigo publicado no Jounal of National Cancer Institute determina como a agência faz suas classificações. Segundo os pesquisadores, itens são descritos como possivelmente cancerígenos quando o grupo de trabalho responsável pela categorização responde positivamente a ao menos um das afirmações a seguir:

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Evidências limitadas em humanos;

Evidências suficientes em testes clínicos com animais;

Fortes evidências de que o agente exibe características-chave de carcinógenos.

No caso do aspartame, a agência determinou a classificação após encontrar “evidências limitadas” de risco a humanos, incluindo nos testes clínicos com animais.

A JECFA (Comitê Misto da FAO e OMS de Peritos em Aditivos Alimentares), que também deu o seu parecer no texto publicado, concluiu que “não há evidências convincentes de dados experimentais em animais ou humanos de que o aspartame tenha efeitos adversos após a ingestão”.

“Entre os estudos de câncer disponíveis em humanos, havia apenas três estudos sobre o consumo de bebidas adoçadas artificialmente que permitiram avaliar a associação entre aspartame e câncer de fígado”, diz o documento da OMS.

O parecer da JECFA indica que não é necessário interromper o uso, mas manter nos níveis considerados seguros. Isso significa, segundo o comitê, 40 mg/kg por dia. A FDA (agência americana reguladora de alimentos e medicamentos), tem recomendação com valor ligeiramente superior, de até 50mg/kg.

Segundo o órgão do governo dos Estados Unidos, uma pessoa que pese em média 60 kg teria que consumir mais de 75 pacotes de 8 g de aspartame por dia para estar exposta a algum risco.

Os compostos são classificados de acordo com a qualidade e quantidade de evidências científicas que os associam ao desenvolvimento de câncer. A tabela é uma referência para médicos, profissionais de saúde e responsáveis por políticas públicas que regulam a produção e distribuição de alimentos nas sociedades.

A classificação da OMS é dividida em quatro grupos:

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Cancerígenos para humanos (1)

Provavelmente cancerígenos (2A)

Possivelmente cancerígenos (2B)

Não classificável (3)

O aspartame foi adicionado à categoria 2B. A lista completa do Iarc tem 41 páginas e 1.108 itens. Destes, alguns são alimentos em si, mas há outros que estão na composição de comidas, como os corantes anilina e laranja G ou ácido cafeico, presente no café e vinho, por exemplo.

Ao lado do aspartame, existem mais 10 alimentos entre as classificações da OMS:

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Noz-areca (1);

Carnes embutidas (1);

Peixe salgado chinês (1);

Bebidas alcoólicas (1);

Carne vermelha em geral (2A);

Bebidas acima de 65ºC (2A);

Legumes em conserva da culinária asiática (2B);

Extrato de ginkgo biloba (2B);

Bebidas com café (3).

Segundo a médica Melanie Rodacki, vice-presidente do Departamento de Diabetes Mellitus da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), a classificação do Iarc é controversa e pode causar uma preocupação desnecessária sobre o uso das substâncias.

No caso do aspartame, o receio é que a notícia cause aumento da ingestão de açúcar por aqueles que costumavam usar adoçantes, levando ao excesso de peso e descompensação de glicose em diabéticos.

“É muito importante avaliar com cautela essa recomendação. É uma classificação bem vaga. A Iarc é uma agência que não é destinada a ver a segurança alimentar de aditivos alimentares ou de alimentos. Ela tem sido criticada por que não coloca a quantidade e o tempo de exposição a determinadas substâncias, apenas classifica como possivelmente, provavelmente ou efetivamente carcinogênico para humanos”, afirma Rodacki.

DANIELLE CASTRO E VICTORIA DAMASCENO / Folhapress

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