SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O assassinato de Antônio Vinicius Gritzbach, apontado como delator do PCC, completa duas semanas nesta sexta-feira (22) com uma série de pontos ainda a serem esclarecidos pelas investigações.
A força-tarefa montada para encontrar os autores do crime identificou apenas um acusado, Kauê do Amaral Coelho, 29, identificado como o olheiro que teria dado o sinal aos atiradores. A Polícia Civil de São Paulo oferece recompensa de R$ 50 mil para quem tiver informações sobre o paradeiro dele.
Gritzbach foi morto a tiros logo após deixar uma das áreas de desembarque do principal aeroporto do país, o de Guarulhos. Os disparos atingiram outras três pessoas uma delas, Celso Araújo Sampaio de Novais, 41, morreu no hospital. Casado e pai de três filhos, ele era motorista de aplicativo.
Veja perguntas sem respostas sobre o caso.
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QUEM É O AUTOR DOS DISPAROS?
Nas imagens captadas por câmeras de segurança do aeroporto, os tiros que mataram Gritzbach foram disparados por dois homens mascarados que estavam em um veículo Gol Preto. A identidade deles ainda não foi revelada pela investigação.
QUEM FOI O MANDANTE DO CRIME?
Gritzbach tinha um passado conflituoso com integrantes da facção PCC . Foi ameaçado de morte e era acusado de ter ordenado a morte de dois homens ligados ao crime organizado: Anselmo Becheli Santa Fausta, conhecido como Cara Preta, e Antônio Corona Neto, o Sem Sangue.
A identificação do primeiro suspeito de participar do ataque reforça a hipótese de que o grupo teria participação no crime, segundo a cúpula da segurança pública paulista. Até o momento, porém, não há nada que comprove o envolvimento do PCC no caso.
A investigação também apura se houve participação de policiais civis citados em sua delação premiada ou dos PMs contratados para sua escolta pessoal. Além disso, investiga se há conexão entre o ataque e a entrega de joias a Gritzbach, avaliadas em R$ 1 milhão, durante a viagem da qual ele voltava.
Mesmo caso o envolvimento do PCC seja confirmado, isso não exclui a eventual participação de policiais nem a conexão com a entrega das joias
HÁ MAIS ENVOLVIDOS?
Segundo a força-tarefa, Kauê do Amaral Coelho, 29, é apontado como cúmplice do crime por atuar como olheiro, responsável por monitorar a vítima até a saída do aeroporto, quando teria dado sinal aos atiradores. Foi montada uma operação para prendê-lo na última terça-feira (19), mas ele fugiu e ainda não foi interrogado. Foi oferecida recompensa de R$ 50 mil por informações sobre seu paradeiro.
A ESCOLTA DA VÍTIMA É CONSIDERADA SUSPEITA?
Os cinco policiais militares que faziam a segurança particular de Gritzbach são investigados por possível envolvimento, mas nenhuma prova concreta nesse sentido foi encontrada até o momento.
Quatro dos PMs estavam em veículos blindados que deveriam escoltar o delator do aeroporto até a sua casa. Um quinto agente viajou com o empresário para Alagoas, onde ficaram por sete dias.
Esse PM estaria à frente de Gritzbach e de sua namorada quando houve o ataque no aeroporto. Não há indícios de que ele tenha tentado reagir à emboscada, embora estivesse armado. Em depoimento à Polícia Civil, o policial admitiu que correu quando os disparos começaram.
Conforme documentos obtidos pela Folha, a equipe do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa, que cuida do caso) perguntou para o PM porque ele não foi alvejado na emboscada. O agente disse acreditar que, talvez, os assassinos não teriam tido tempo de atacá-lo.
Para a polícia, um dos pontos cruciais na investigação é esclarecer se um dos veículos usados pela equipe de escolta de fato apresentou problemas mecânicos. Conforme relato dos PMs, a Amarok usada por eles teve uma pane na ignição e, por isso, três dos quatro agentes não puderam ir até o desembarque. Eles ficaram em um posto de combustível.
Apenas um PM da escolta seguiu em um segundo veículo, mas não chegou a tempo de impedir o crime.
QUAL FOI A MOTIVAÇÃO?
Existem, ao menos, duas principais hipóteses sendo investigadas:
1 – Vingança do PCC: Segundo a polícia, Gritzbach era jurado de morte pela facção. Ele era réu sob suspeita de ser um dos mandantes da morte de Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, suposto chefe do PCC que contratava os serviços do empresário para lavagem de dinheiro, segundo investigação da Polícia Civil. O empresário, contudo, negava envolvimento no assassinato. Gritzbach foi denunciado por acusação de lavagem de dinheiro e financiamento de organização criminosa. Entre março e abril deste ano, ele fez um acordo de colaboração premiada com o Ministério Público sobre o esquema e, além disso, entregou documentos que indicam uma suposta participação de criminosos do PCC na contratação de jogadores da elite do futebol brasileiro e mundial.
2 – Queima de arquivo de policiais: Outra linha de investigação mira policiais que faziam sua segurança particular ou que tenham sido alvo de sua delação premiada. Como mostrou a Folha, ao menos um delegado e dois investigadores da Polícia Civil de São Paulo foram implicados na delação de Gritzbach, que prometeu entregar áudios com provas contra eles. Já os PMs que o acompanhavam no dia do assassinato eram investigados pela Corregedoria da corporação havia um mês, segundo secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite. Há outros agentes sendo investigados no mesmo inquérito.
A polícia também investiga uma suposta conexão entre as joias que o empresário recebeu durante a viagem que fez ao Nordeste e o crime. As joias eram avaliadas em R$ 1 milhão.
O valor, segundo a polícia, era parte de um pagamento de dívida. Quem entregou as joias a ele agora é tratado pelos investigadores do caso como suspeito.
QUAL A ORIGEM DA MUNIÇÃO?
Perícia do Instituto de Criminalística constatou que a munição usada no homicídio foi disparada de um fuzil AK-47 calibre 7,62 e uma pistola 9 milímetros. Ao todo, 21 disparos foram feitos pelos criminosos. As armas foram encontradas em uma mochila abandonada em um terreno a 7 km do aeroporto após denúncia anônima. Não há informações, porém, sobre a origem dos artefatos.
Redação / Folhapress