SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O incidente de helicóptero que matou o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, no domingo (19), causou consternação no mundo árabe e levou o líder supremo do país, Ali Khamenei, a decretar cinco dias de luto público.
As causas do incidente que jogaram Teerã na incerteza política ainda não estavam claras na noite desta segunda-feira (20). A agência estatal Irna citou, porém, uma “falha técnica” e condições ruins de tempo. Junto com Raisi viajavam o chanceler iraniano, Hossein Amirabdollahian e outras seis pessoas. Ninguém que estava a bordo sobreviveu.
Veja o que se sabe até agora sobre o incidente.
POR QUE RAISI ESTAVA VIAJANDO?
Raisi viajava para participar de um evento em Azerbaijão Oriental, província no noroeste do Irã. Ali ele inaugurou, junto com o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, as barragens Qiz Qalasi e Khoda Afarin. Trata-se de um projeto em conjunto com o país vizinho.
Após a cerimônia e antes de o helicóptero decolar em direção à capital da província, Tabriz, a cerca de 130 quilômetros da região da barragem e onde Raisi inauguraria outro projeto em uma refinaria de petróleo, Aliyev se despediu amigavelmente de seu homólogo, segundo publicação na rede social X do azerbaijano.
O incidente aconteceu por volta das 13h30 locais do domingo (7h no Brasil), perto da cidade de Jolfa e a cerca de 600 quilômetros da capital do país, Teerã. Durante a tarde, a televisão estatal iraniana afirmou que o helicóptero havia feito uma “aterrissagem forçada”, e só nesta segunda veio a confirmação da morte pela emissora.
QUEM ESTAVA NO HELICÓPTERO?
Além de Raisi, estavam no helicóptero o chanceler iraniano, Hossein Amirabdollahian, o governador da província de Azerbaijão Oriental, Malik Rahmati, o representante do líder supremo nessa região, Mohammad Ali Al-Hashem, o chefe de segurança do presidente, Sardar Seyed Mehdi Mousavi, e três tripulantes -os coronéis Seyed Taher Mostafavi e Mohsen Daryanush, piloto e copiloto do helicóptero, respectivamente, e o major Behrouz Ghadimi, técnico de voo.
Nenhuma das oito pessoas a bordo sobreviveu.
QUAL ERA O MODELO DA AERONAVE?
A comitiva viajava em um helicóptero Bell 212, uma versão civil do UH-1N Twin Huey, usado na época da Guerra do Vietnã.
A origem da aeronave remonta ao final dos anos 1960, quando a Bell Helicopter (agora Bell Textron, um braço da Textron) desenvolveu a aeronave para o Exército canadense. No início dos anos 1970, o veículo foi rapidamente adotado tanto pelos Estados Unidos quanto pelo Canadá, de acordo com documentos de treinamento militar americanos.
O modelo iraniano que caiu no domingo estava habilitado para transportar passageiros -de acordo com os documentos de certificação da Agência de Segurança da Aviação da União Europeia, esse tipo de aeronave pode viajar com 15 pessoas, incluindo a tripulação.
A origem exata do helicóptero envolvido no acidente não foi confirmada, mas especialistas dizem que os poucos detalhes disponíveis sugerem que a aeronave tinha entre 40 e 50 anos. A obsolescência do modelo em que a comitiva voava reflete o impacto de décadas de sanções à teocracia instalada em 1979, que dificultaram a importação de peças.
QUAIS OUTROS INCIDENTES ENVOLVERAM O BELL 212?
O acidente com mortos mais recente envolvendo um Bell 212 ocorreu em setembro de 2023, quando uma aeronave operada de forma privada caiu ao largo da costa dos Emirados Árabes Unidos, de acordo com a Flight Safety Foundation, uma organização sem fins lucrativos que foca a segurança da aviação.
O acidente mais recente registrado no Irã foi em 2018 e matou quatro pessoas, de acordo com o banco de dados da organização. Em 2015, a mesma fonte de informações mencionou relatos de que um helicóptero que se acredita ser um Bell 212 caiu perto de Kashan, na região central do Irã, matando três pessoas.
POR QUE O HELICÓPTERO CAIU?
A razão para a queda ainda não está clara, mas a agência estatal Irna afirmou, sem dar detalhes, que houve uma “falha técnica” do modelo Bell 212 e as condições do tempo eram ruins, com chuva e muita nebulosidade.
COMO FORAM AS BUSCAS?
Após a queda do helicóptero, vários países se solidarizaram e ofereceram ajuda a Teerã, incluindo Arábia Saudita, Qatar, Emirados Árabes Unidos, Iraque e Rússia. A Comissão Europeia, órgão da União Europeia, disse que ativou o seu serviço de mapeamento por satélite para auxiliar nas buscas, e a vizinha Turquia colocou à disposição um drone, um helicóptero e uma equipe de resgate.
Os socorristas trabalharam contra tempestades de neve e terrenos difíceis durante a noite para alcançar os destroços na manhã desta segunda. “Com a descoberta do local do acidente, nenhum sinal de vida foi detectado entre os passageiros do helicóptero”, disse o chefe do Crescente Vermelho do Irã, versão da Cruz Vermelha em países de maioria islâmica, Pirhossein Kolivand, à TV estatal.
Imagens da televisão estatal mostraram destroços espalhados em uma encosta sob neblina, enquanto gravações da IRNA captaram trabalhadores do Crescente Vermelho carregando um corpo coberto em uma maca. Segundo Kolivand, as equipes de resgate viram os destroços às 5h, mas demoraram cerca de uma hora para chegar até o local.
Redação / Folhapress