O que se sabe sobre a queda do voo 2283 da Voepass

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma semana após a queda do voo 2283 da Voepass, em Vinhedo (SP), no último dia 9, investigadores tentam desvendar as causas do acidente. Todas as 62 pessoas a bordo morreram.

Por enquanto há poucas respostas, mas algumas pistas podem auxiliar nos trabalhos.

Um relatório preliminar do caso deve ser divulgado apenas em setembro. Veja o que se sabe até agora:

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CONDIÇÃO DO AVIÃO E TRIPULAÇÃO

O modelo ATR-72 estava com a documentação em dia e autorizado a voar, segundo a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). A Voepass também afirma ter realizado manutenção de rotina na aeronave um dia antes do acidente.

Piloto e copiloto eram experientes. O capitão, Danilo Santos Romano, tinha 5.202 horas de voo; seu auxiliar, Humberto Campos de Alencar, 5.100 horas.

Vídeos do momento da queda gravados por diversos moradores de Vinhedo mostram que a aeronave desceu rodopiando no ar, mantendo-se em posição horizontal, manobra conhecida como “parafuso chato”.

Essas condições, segundo especialistas, indicam que o piloto havia perdido o controle da aeronave e as condições de arremeter —ou seja, apontar o nariz da aeronave para baixo e usar os motores para ganhar novamente sustentação no ar.

O VOO

O voo 2283 da Voepass seguia de Cascavel (PR) para Guarulhos (Grande São Paulo) quando caiu na área de uma casa no condomínio Recanto Florido, no bairro Capela, em Vinhedo. O avião, que decolou às 11h50 e tinha previsão de chegada às 13h40, perdeu 3.300 metros de altitude em menos de um minuto a partir das 13h21.

Segundo a FAB (Força Aérea Brasileira), o avião deixou de responder às chamadas do Controle de Aproximação de São Paulo às 13h21. O piloto não teria declarado emergência. Isso, porém, será esclarecido e confirmado somente ao fim da análise das caixas-pretas.

HIPÓTESES PARA A QUEDA

Especialistas levantam a possibilidade de que gelo tenha se acumulado nas asas da aeronave.

A aeronave atravessou uma zona crítica para a formação de gelo por quase dez minutos antes da queda, mostrou uma análise do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélite (Lapis), da Ufal (Universidade Federal de Alagoas).

Antes mesmo de chegar a esse trecho com condições severas, ela havia passado por uma área com ventania intensa e grande variação de temperatura, contribuindo para as adversidades durante o voo, diz o laboratório.

Umidade e frio extremo (de -45°C), ventos de alta velocidade, um ciclone extratropical sobre o Rio Grande do Sul e fumaça de queimadas na atmosfera compõem o cenário de dificuldades que podem ter contribuído para o acidente.

O foco investigativo está na formação de gelo nas asas, o que pode dizer respeito tanto a questões técnicas, como sistemas anticongelantes defeituosos, como a erros de procedimento ou mesmo desatenção da tripulação devido a cansaço. Só a apuração poderá tentar explicar o que ocorreu. O acúmulo de gelo no bordo frontal das asas pode alterar a aerodinâmica do voo, fazendo com que o ar passe por cima das asas, e não por baixo.

Ainda no dia do acidente, o engenheiro Hildebrando Hoffman, professor aposentado de Ciências Aeronáuticas da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), levantou outra hipótese: de que tenha ocorrido uma falha na posição das hélices, o que seria um problema de manutenção.

AS VÍTIMAS

A força-tarefa da Polícia Técnico-Científica de São Paulo finalizou o trabalho de necropsia dos 62 corpos do acidente do voo 2283 da Voepass e concluiu que a maioria das vítimas morreu de politraumatismo em razão da queda.

“A maior parte, sem dúvida nenhuma, foi por politrauma. E, consequentemente, com a explosão da aeronave, alguns foram atingidos pelas chamas”, disse à Folha de S.Paulo o superintendente Claudinei Salomão.

Todos os 62 corpos foram identificados. Desses, 41 já tinham sido liberados aos familiares até esta quinta-feira.

Segundo a polícia, cerca de 40 vítimas foram identificadas por impressões digitais.

GRAVAÇÃO DA CAIXA-PRETA

Há, no total, cerca de duas horas de transcrições das conversas dentro do avião, feitas pelo laboratório de leitura e análise de dados do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção a Acidentes Aéreos), responsável pelas investigações.

As caixas-pretas do avião teriam gravado gritos e o copiloto Humberto de Campos Alencar e Silva falando em dar potência à aeronave, conforme noticiado pelo Jornal Nacional, da TV Globo, na quarta-feira (14).

A reportagem afirma ter falado com investigadores que tiveram acesso às gravações da caixa-preta. Eles teriam dito que a aeronave perdeu altitude de forma repentina e avaliaram, contudo, que a análise do áudio da cabine não seria capaz de determinar a causa da queda.

O copiloto teria percebido que o avião estava perdendo altitude e perguntou o que estava acontecendo. Na sequência, teria dito que era preciso “dar potência”, uma forma de fazer a aeronave evitar a queda.

Ainda de acordo com a reportagem, um minuto teria se passado desde que a perda de altitude foi constatada até o choque do avião no solo. A gravação mostrou gritos e um grande estrondo naquele momento, afirmou o Jornal Nacional.

Após a reportagem, o Cenipa divulgou uma nota em que disse que “nenhum veículo de imprensa teve acesso aos áudios e transcrições, tampouco aos dados dos gravadores de voo” das caixas-pretas do avião da Voepass.

Redação / Folhapress

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