RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Polícia Civil do Rio investiga as circunstância de um caso ocorrido nesta terça (16) em uma agência bancária em Bangu, na zona oeste do Rio de Janeiro, onde uma mulher tentou sacar um empréstimo de R$ 17 mil com um parente que estava a morto.
Funcionários do Itaú chamaram a polícia após desconfiar que Paulo Roberto Braga, 68, estaria sem vida.
Erika de Souza Vieira Nunes, 43, que afirma ser sobrinha da vítima, foi presa em flagrante. A defesa da mulher afirma que o homem estava vivo quando chegou ao banco.
Um vídeo flagrou o momento em que Erika tentava fazer o idoso, que não tinha reação, a assinar o documento. A gravação foi feita por uma gerente do Itaú Unibanco. A polícia investiga como e quando o homem morreu.
Veja a seguir o que se sabe sobre o caso
QUEM É O HOMEM QUE FOI ELVADO AO BANCO?
Paulo era morador de Bangu. Não há informações sobre profissão. Erika seria sua única parente no Rio de Janeiro. Ele tem um outro familiar morando fora do estado, segundo o delegado Fábio Souza, que apura o caso.
Em depoimento, ao qual a Folha teve acesso, ela contou que há aproximadamente uma semana ele passou mal dentro de casa e foi socorrido na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Bangu, onde ficou internado por cerca de cinco dias, com quadro de pneumonia. A gestão da UPA confirmou que ele recebeu alta na segunda (15), um dia antes de ir ao banco.
QUEM É A MULHER QUE LEVOU O CADÁVER AO BANCO?
A mulher foi identificada como Erika de Souza Vieira Nunes, 43. Ela se identificou como sobrinha e cuidadora da vítima. A polícia confirmou relação de parentesco, mas disse que segundo documentos oficiais, ele são primos.
A defesa de Erika afirmou que o homem estava vivo quando chegou ao banco. Ela foi levada na manhã desta quarta (17) para fazer exame de corpo de delito e seguirá para o presídio, onde passará por audiência de custódia nesta quinta (18) às 13h.
ONDE OCORREU O CASO?
O episódio aconteceu em Bangu, na zona oeste do Rio, em uma agência do Itaú que fica dentro de um shopping.
O Itaú confirmou que o vídeo em que a mulher aparece com o idoso já morto para tentar sacar o empréstimo foi gravado em uma de suas agências.
Procurado, o banco afirmou, em nota, que acionou o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) assim que identificou a situação. A equipe constatou que Paulo estava morto havia, pelo menos, duas horas.
A polícia já recolheu imagens de câmeras de outros setores do estabelecimento e apura se há mais pessoas envolvidas.
O QUE MOSTRAM AS IMAGENS?
Câmeras de segurança da agência bancária mostram Erika levando o idoso em uma cadeira de rodas com a cabeça tombada para o lado.
Eles chegaram ao banco às 13h02, conforme o relógio das câmeras de segurança, e a equipe do Samu foi chamada às 15h, segundo o boletim de ocorrência.
Ao analisar as imagens, a polícia constatou que a mulher chegou ao local em um carro de aplicativo. O motorista, que foi chamado a depor, ajudou Erika a colocar Paulo em uma cadeira de rodas.
Imagens também mostram ela circulando pelo shopping com o idoso, que nas imagens não aparenta estar se mexendo.
Já dentro do banco, ela é filmada por uma funcionária e aparece segurando a cabeça de Paulo. Uma atendente chega a dizer: “Acho que ele não está bem não, olha a corzinha”.
Erika insiste e pede para que o homem assine os papéis. “Tio, tá ouvindo? O senhor precisa assinar. Se o senhor não assinar, não tem como. Eu não posso assinar pelo senhor, o que eu posso fazer eu faço. Assina aqui, igual ao documento. Assina para não me dar mais dor de cabeça”, diz Erika no vídeo.
O QUE DISSE O MOTORISTA DE APLICATIVO?
Em depoimento, ELE AFIRMOU que foi chamado às 12h26 de terça (16) e que o idoso já não andava. “Um homem segurava um braço, e Erika, outro”, disse. Para entrar no carro, uma das filhas de Erika segurou as pernas.
Ele então a deixou no estacionamento do Shopping, onde ela pediu uma cadeira de rodas. Esse estabelecimento fica do lado do banco.
QUAL FOI A ÚLTIMA VEZ QUE A VÍTIMA FOI VISTA VIVA?
Ainda não se sabe que horas exatamente ele morreu. Por isso, a polícia ainda não sabe se há alguma testemunha que viu Paulo vivo na terça.
A Fundação Saúde, que faz gestão da UPA de Bangu, disse que o idoso, após dar entrada para tratamento no dia 8, teve alta na segunda-feira. A ida ao banco ocorreu na terça.
A perícia diz que o horário da morte pode ter ocorrido até 7 horas antes do momento da filmagem na agência. Exames toxicológicos estão sendo aguardados para saber a causa exata da morte.
ELE MORREU ANTES DE ENTRAR NO BANCO?
A polícia ainda não tem essa informação. O delegado Fábio Souza diz acreditar que Erika sabia que o idoso já estava morto quando eles entraram na agência. Para afirmar isso, ele diz que peritos apontaram que a presença de livor cadavérico na região da nuca indica que Paulo morreu deitado. “Esses livores indicam que ele já chegou morto”, disse o delegado a jornalistas nesta quarta, na porta da 34ª DP (Bangu).
O livor cadavérico é o acúmulo de sangue em determinadas regiões do corpo e ocorre depois que o coração para de bater.
A gravidade transfere o sangue para as extremidades do corpo. Os peritos avaliam que como o livor cadavérico foi identificado na nuca, Paulo estava deitado no momento do óbito. Se ele estivesse sentado, as manchas poderiam surgir em outras partes do corpo, como pernas e braços.
O laudo do IML divulgado nesta quarta, porém, aponta que o homem morreu entre 11h30 e 14h de terça -ou seja, ele pode ter morrido antes de entrar na agência, ou já dentro dela.
O documento não aponta se ele morreu quando estava deitado ou sentado.
O QUE ERIKA PRETENDIA FAZER COM O DINHEIRO DO EMPRÉSTIMO?
Ela disse aos policiais que o idoso queria o dinheiro para comprar uma televisão e reformar a casa na qual morava em Bangu.
Erika contou aos policiais que seu tio passou mal dentro de casa e ficou internado por cinco dias com quadro de pneumonia. A Fundação Saúde, que faz a gestão da UPA, confirmou essa versão. Ao receber alta, Paulo teria dito a ela que havia solicitado o empréstimo de R$ 17.000, que teria sido feito a uma empresa no dia 25 de março.
“O empréstimo não foi realizado pelo banco e sim por uma empresa. Para sacar o dinheiro ele precisava ir até o banco e assinar”, disse o delegado Fábio Souza, que investiga o caso. Ele não explicou como exatamente teria funcionado o empréstimo, nem qual a empresa responsável.
O QUE É VILIPÊNDIO DE CADÁVER?
Vilipêndio a cadáver é um crime contra o respeito aos mortos, previsto no artigo 212 do Código Penal brasileiro, com pena de 1 a 3 anos de prisão além de multa.
Vilipendiar o cadáver significa aviltar ou manipular desrespeitosamente. Como a polícia entende que Erika sabia que o tio estava morto, ela foi presa em flagrante por suspeita de vilipêndio a cadáver e furto.
ALÉXIA SOUSA, YURI EIRAS E BRUNA FANTTI / Folhapress