RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O homem que invadiu um ônibus na rodoviária do Rio de Janeiro nesta terça-feira (12) e manteve 16 pessoas reféns por cerca de três horas foi encaminhado para o sistema prisional fluminense nesta quarta (13). Outras duas vítimas foram baleadas, sendo uma delas em estado grave.
O suspeito, identificado como Paulo Sergio de Lima, 29, foi preso em flagrante após negociações conduzidas por policiais militares. Ele passou a noite na 4ª DP, para onde foi levado depois de se entregar.
Nesta quarta, ele passou por exame de corpo de delito no Instituto Médico-Legal no centro do Rio. Depois, seguiu para Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na zona norte da cidade, onde ainda passará por audiência de custódia.
O suspeito foi preso por tentativa de homicídio, porte ilegal de arma e sequestro. Ele ainda não possui advogado constituído.
Em depoimento, na delegacia, o homem disse que era morador da Rocinha, zona sul do Rio, e tentava fugir para Juiz de Fora, em Minas Gerais, após uma suposta desavença com a facção criminosa Comando Vermelho.
A seguir, veja o que se sabe até o momento sobre o caso.
COMO FOI O SEQUESTRO?
Por volta das 15h desta terça (12), um ônibus da viação Sampaio que sairia da rodoviária do Rio, no centro da cidade, em direção a Juiz de Fora foi invadido por Lima, que estava armado.
Segundo a polícia, ele ia embarcar no veículo quando atirou contra um passageiro por achar que a vítima era um policial. O suspeito, que disse fazer parte do Comando Vermelho, estava fugindo de integrantes da facção criminosa após desentendimento.
“Ao longo do processo de embarque, ele se sentiu incomodado, achou que um dos passageiros que estava prestes a embarcar seria policial. Por isso, efetuou os disparos”, disse o coronel Marco Andrade, porta-voz da Polícia Militar.
Na ação, outro passageiro acabou sendo atingido por estilhaços. De acordo com a PM, as duas pessoas baleadas foram alvejadas ainda fora do ônibus, no local de embarque do veículo.
Ainda segundo a polícia, o suspeito pagou o valor da passagem em dinheiro. Imagens da câmera de segurança da cabine da viação Sampaio registraram o momento em que Lima faz a compra de um semileito, às 13h51 de terça, para o ônibus com destino a Juiz de Fora que partiria às 14h30. Ele aparece de mochila nas costas.
Segundo a investigação, Lima disse que quando estava na cabine, pensou ter chamado a atenção de policiais disfarçados. Mesmo desconfiado de que tinha sido notado, ele resolveu embarcar.
“Quando ele (suspeito) entrou no ônibus houve uma pane e o motorista foi chamar um mecânico. Nesse momento, mais passageiros estavam entrando e ele achou que eram policiais”, disse o delegado Mario Jorge Andrade.
Ainda segundo o investigador, Lima contou que teria tentado entregar a arma, uma pistola 9mm, aos passageiros que estavam subindo no ônibus e um deles se assustou com a atitude. Nesse momento, ele fez os disparos.
Depois de balear as vítimas, o suspeito entrou no ônibus e fez refém os demais passageiros. A informação inicial era de que havia 18 pessoas, mas o quantitativo foi alterado para 15 e 17. Depois, a PM informou serem 16 os reféns mantidos no veículo. A corporação afirmou também que, entre os passageiros, havia uma criança e seis idosos. Nenhuma das pessoas que estavam dentro do ônibus ficou ferida na ação.
COMO FOI A RENDIÇÃO?
Após o tiroteio, policiais militares chegaram a rodoviária e fizeram um cerco em toda região entorno do terminal. Foram três horas de negociações conduzidas por agentes do Bope, a tropa de elite da Polícia Militar, até que Lima se entregou.
Segundo a polícia, o suspeito não chegou a fazer exigências, mas estava agitado e inicialmente resistiu ao contato dos policiais. Ele atirou contra as equipes que faziam a negociação do lado de fora. Nenhum agente ficou ferido.
Em seguida, porém, as equipes conseguiram fazer o homem se render sem ferir ninguém.
“O tomador de reféns está preso, todos os reféns estão libertados, seguros”, disse o afirmou o coronel Marco Andrade, às 17h57.
O governador Cláudio Castro (PL), usou as redes sociais para agradecer a atuação das forças de segurança na ação. “O criminoso que sequestrou o ônibus está preso e os reféns libertados. Fiquei em contato direto com o comando das polícias, passando duas determinações: resguardar a vida dos reféns e ser implacável nas negociações”, escreveu Castro.
Os agentes envolvidos na ação receberam homenagens do governador e tiveram seus nomes citados no Diário Oficial do Estado nesta quarta.
QUEM SÃO AS VÍTIMAS?
A vítima baleada após ser confundida por um policial foi identificada como Bruno Lima da Costa Soares, 34. Ele é mineiro e estava no Rio para um treinamento na Petrobras, onde tinha passado em um concurso.
Segundo a Secretaria de Saúde do Município do Rio, o paciente passou por cirurgia delicada e necessita de doação de sangue. Somente na primeira hora de atendimento foram necessárias seis bolsas de sangue.
O SindPetro (Sindicato dos Petroleiros) do Rio de Janeiro solicitou à categoria doação de sangue em nome do petroleiro. O pedido por doação já havia sido feito pelo secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz.
As doações podem ser feitas no Hemorio (localizado na rua Frei Caneca, 8, centro), até as 18h. Ao chegar ao banco de sangue o doador deve informar o nome da vítima.
Bruno foi atingido por três disparos que causaram lesões no tórax. Uma das balas está alojada próximo ao coração, e por isso ele foi transferido para o Incor (Instituto Nacional do Coração), em Laranjeiras, zona sul do Rio. De acordo com a direção do hospital, o paciente está na UTI, com o quadro de saúde estável nesta quarta (13).
O passageiro atingido por estilhaços e socorrido não teve o nome divulgado.
QUEM É O SUSPEITO?
Lima é morador da Rocinha, comunidade na zona sul do Rio. Segundo registros, ele passou por medida socioeducativa quando tinha menos de 18 anos.
Em 2015, aos 20 anos, matou um homem a facadas, em Minas Gerais. Afirmou ser legítima defesa, mas foi condenado à revelia, em setembro de 2023 a 16 anos de prisão.
Antes dessa condenação, em 2019, foi preso sob acusação de ter cometido assaltos em série a ônibus e pedestres no Rio, que lhe renderam uma condenação de 9 anos de prisão.
De acordo com a Polícia Militar, Lima participou de tentativas de invasões na Muzema -comunidade da zona oeste-, em Jacarepaguá.
Ele disse à polícia que estava a caminho de Juiz de Fora, fugindo do Comando Vermelho, após uma suposta desavença com a facção criminosa.
O QUE DIZ A INVESTIGAÇÃO?
A Polícia Civil investiga se Lima é de fato integrante do Comando Vermelho. Desde 2023, a facção criminosa se expande na zona oeste do Rio e promove disputas armadas com milicianos.
Segundo moradores da Rocinha, Lima é suspeito de ter assaltado uma mulher que mora na comunidade. No sábado (9), segundo dois moradores ouvidos pela reportagem, Lima a viu próximo a um ponto de venda de drogas na comunidade.
De acordo com essas testemunhas, ele temia que a vítima denunciasse o caso aos integrantes da facção, que poderiam matá-lo. Por isso, passou a trocar tiros com os traficantes. Na sequência, fugiu.
Na delegacia, segundo o delegado Mario Jorge Andrade, Lima confirmou a troca de tiros com traficantes, mas não disse o motivo da desavença.
Segundo sua versão, ele é integrante do tráfico da Muzema, na zona oeste do Rio, e teria ido até a Rocinha, no final de semana, para pagar uma dívida em bares. Lá, teria se desentendido com um traficante e trocado tiros. Mesmo sem ter ferido outra pessoa, ele teve medo de represálias e passou a se esconder em hotéis, até decidir ir para a casa da mãe, em Minas Gerais.
Após a repercussão do sequestro ao ônibus na rodoviária do Rio, duas pessoas que não têm nenhuma relação com o caso foram à delegacia e apontaram Lima como um assaltante que agia na Rocinha e em São Conrado. Uma das testemunhas afirmou que ele roubou uma joia dela no domingo (10).
ALÉXIA SOUSA E BRUNA FANTTI / Folhapress