O Slipknot não podia me esperar, diz baterista Eloy Casagrande, ex-Sepultura

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Da maior banda de metal do Brasil para uma das maiores do mundo. Nada foi mais comentado no universo da música pesada neste ano do que o salto profissional do baterista Eloy Casagrande, que deixou o Sepultura pelo Slipknot.

Depois de semanas de rumores, no dia do anúncio oficial, 30 de abril, os fãs brasileiros entraram em êxtase com a confirmação de que um conterrâneo assumiria as baquetas do grupo americano, um dos responsáveis por moldar a sonoridade do metal no século 21. Casagrande ficou 12 anos com o Sepultura.

Na prática, o baterista de Santo André trocou as apresentações para centenas de pessoas nos palcos do Sesc, onde a banda mineira vinha tocando nos últimos anos, já longe de sua fase de glória, por shows para dezenas de milhares em estádios. O Slipknot é uma das dez bandas de metal mais ouvidas no Spotify, ao lado de titãs como Black Sabbath e Metallica.

Casagrande saiu do Sepultura em fevereiro, dias antes da banda fazer o primeiro show da turnê de despedida, para a qual contava com o baterista. Sua atitude gerou revolta no grupo.

“Foi uma questão profissional porque o Sepultura vai acabar. Não teria como o Slipknot me esperar por um ano e meio”, diz Casagrande, em referência à duração da turnê final do grupo brasileiro.

“O Slipknot precisava de um baterista para março. Foi uma chance muito importante e significativa de integrar uma das principais bandas de metal.”

Ao olhar para trás, o músico de 33 anos afirma ter carinho, admiração e honra pela carreira que teve com o grupo de Belo Horizonte. “Foi a realização de um sonho tocar no Sepultura como tem sido agora tocar no Slipknot.”

A força física e a destreza ao assumir a bateria em faixas agressivas e velozes tornaram Casagrande um dos mais reconhecidos músicos de metal de hoje. Ele conta ter intensificado a rotina na academia para tocar com o Slipknot, banda na qual se apresenta mascarado e vestido com um macacão de tecido pesado –a indumentária é uma das assinaturas do conjunto, com seus nove integrantes caracterizados como personagens de filme de terror da sessão da tarde.

Casagrande comprou uma máscara para simular altitude, com filtros que dificultam a entrada e a saída de ar, para fortalecer seus pulmões para os shows de quase duas horas. “Embora a minha máscara [no Slipknot] seja ventilada, com buracos grandes na boca, nas narinas e nos olhos, mesmo assim é algo no rosto dificultando a respiração”, ele conta.

Cada um dos membros da banda tem uma máscara própria, e a de Casagrande traz linhas nas bochechas –que ele diz serem uma homenagem às pinturas corporais de povos indígenas–, e um furo de bala na testa. Mas não se trata de incitar a violência, ele acrescenta.

“É uma questão artística. Se eu tiver uma bala na minha testa, vou me sentir muito livre para subir no palco, não tenho nada a perder porque já tenho uma bala na testa”, afirma. “Vejo a máscara e penso: ‘hoje estou indo para a guerra'”.

Antes de chegar no front, contudo, Casagrande passou por dez dias de testes, tocando com o Slipknot faixas de toda a carreira da banda num estúdio em Palm Springs, na Califórnia, um período que ele relata ter sido de muito nervosismo. Havia a pressão de concorrer por um cargo cobiçado, acrescida da emoção de estar junto a um grupo que o músico ouvia desde adolescente.

O convite para Casagrande partiu do empresário do Slipknot, no final do ano passado, na época em que o Sepultura anunciou sua última turnê, depois de 40 anos de estrada. O processo seletivo foi mantido em segredo até um show para pouco mais de 300 pessoas em abril, no qual os fãs identificaram pelas tatuagens que o brasileiro havia de fato assumido as baquetas.

A chegada de Casagrande coincide com um momento de festa para o Slipknot. A banda comemora com shows pelo mundo os 25 anos de seu primeiro disco, um clássico do metal contemporâneo que chocou os puristas à época de seu lançamento, por incorporar elementos do hip-hop e da eletrônica e levar um DJ para o palco.

Além disso, as guitarras do disco, intitulado somente “Slipknot”, lembram as de “Roots”, do Sepultura, um dos álbuns mais importantes da década de 1990, que influenciou o próprio Slipknot e boa parte das bandas de metal da época.

Os fãs brasileiros poderão ver Casagrande em ação em outubro, quando o Slipknot toca dois dias seguidos em São Paulo, como atração principal de seu próprio festival de metal, o Knotfest. “Quando a gente vai para o palco, entrega tudo o que tem”, diz o baterista. “Principalmente tocando metal. É algo muito energético.”

KNOTFEST BRASIL

Quando: 19 e 20 de outubro

Onde: Allianz Parque – Av. Francisco Matarazzo, 1705, São Paulo

Preço: Ingressos a partir de R$ 294

Link: https://www.eventim.com.br/campaign/knotfestbrasil

JOÃO PERASSOLO / Folhapress

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