Obras de Alejo Carpentier ensejam reflexão sobre a identidade latino-americana

BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Um dos escritores fundamentais da literatura latino-americana, o cubano Alejo Carpentier (1904-1980), volta a ser editado no Brasil, com o lançamento de dois de seus textos clássicos.

Um deles é o romance “Os Passos Perdidos”, lançado originalmente em 1953, que resulta de uma viagem do autor, à época, pela selva amazônica da Venezuela. Sai pela Zain, com tradução de Sérgio Molina e posfácio de Leonardo Padura.

O outro é “A Cidade das Colunas”, uma homenagem a Havana, um ensaio sobre sua arquitetura, demarcando os vestígios da história na cidade. Vem ilustrado por fotos do italiano Paolo Gasparini e tradução de Samuel Titan Junior.

Mostrando duas das facetas habilidosas de Carpentier —que também foi musicólogo—, as obras surgem no aniversário de 120 anos do nascimento do escritor.

“Os Passos Perdidos” acompanha um artista que viaja pela floresta, pela extensão do rio Orinoco, e se baseia em viagens do próprio autor à região. A obra reflete a busca de Carpentier pelas identidades culturais da América do Sul, o legado de negros e indígenas, e oferece uma reflexão sobre a modernidade e a ancestralidade da região.

Sua missão original era investigar os instrumentos musicais dos nativos dali, mas no fundo o que queria era sair das grandes cidades em busca de um conhecimento das raízes culturais da região.

O protagonista, um homem casado, viaja à Amazônia com uma amante. Mas ali conhece uma indígena pela qual se apaixona. Volta à cidade grande, se divorcia da mulher e tenta retornar a seus braços, mas a encontra casada. Dividido, se vê preso pelas imagens, sons e ambiente da selva, enquanto sente falta da “civilização” deixada para trás.

A obra é emblemática da linguagem tão peculiar de Carpentier, poética, cheia de referências mitológicas e marcada pelo que ficaria conhecido como “estilo real maravilhoso”, pois o autor dizia que a maravilha estava nas coisas comuns que compunham a realidade da América Latina.

Com isso, acabou sendo incorporado a outro rótulo, o do “realismo mágico”, usado para caracterizar muitos dos artistas do chamado “boom latino-americano”, dos anos 1960 e 1970.

O local de nascimento de Carpentier é tema de disputa. Em vida, ele dizia ter nascido em Cuba, mas outros documentos indicam que ele teria nascido em Lausanne, na Suíça, e logo embarcado para a ilha, acompanhado de sua mãe russa e de seu pai francês.

Passou a infância em Havana, voltou a viver na Europa por alguns anos, mas retornou para se fixar na ilha definitivamente depois da Revolução Socialista de 1959, da qual foi um defensor. Dos anos que passou em Paris, trouxe a influência de André Breton e do surrealismo.

Em “A Cidade das Colunas”, lançado agora pela editora 34, ele apresenta Havana como “chave e antessala do Novo Mundo” e faz uma reflexão sobre o papel de suas colunas, não só as que marcam o exterior das casas e foram as “pilastras dos conquistadores”, mas também as que passaram a ser instaladas dentro delas, para guardar as sombras e o frescor da vegetação interna.

A análise das particularidades da capital cubana, seus mercados, suas varandas, suas praças aparecem também em outros de seus ensaios e em romances.

No Brasil, estão publicadas algumas das obras de sua longa bibliografia, como o “Concerto Barroco”, de 1974, na Companhia das Letras, livro em que Carpentier acompanha um milionário mexicano, no século 18, descendente de conquistadores, a uma viagem a Veneza.

Outra obra de destaque que também está traduzida é “O Reino deste Mundo” , na WMF Martins Fontes, publicada em 1949, e com tema principal na Revolução Haitiana —a série de lutas de escravizados que levaram à independência do país, em 1804.

Na obra de Carpentier, é essencial a defesa da cultura latino-americana, a tentativa de construir um estilo literário que refletisse o que é maravilhoso e único na região, em termos de uma identidade que confrontasse o peso da herança colonial. Em “Os Passos Perdidos” e “O Livro das Colunas”, todos esses elementos estão presentes.

OS PASSOS PERDIDOS

– Preço R$ 84,90 (320 págs.)

– Autoria Alejo Carpentier

– Editora Zain

– Tradução Sérgio Molina

A CIDADE DAS COLUNAS

– Preço R$ 69 (80 págs.)

– Autoria Alejo Carpentier

– Editora Editora 34

– Tradução Samuel Titan Jr.

SYLVIA COLOMBO / Folhapress

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