Odiado em Boston, Kyrie Irving está no caminho do 18º título dos Celtics

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Não há na NBA atual uma relação tão hostil quanto a de Kyrie Irving com o Boston Celtics. É inegável o ódio mútuo entre o jogador e os torcedores do time verde, renovado na final deste ano da liga norte-americana de basquete.

Irving, hoje no Dallas Mavericks, está no caminho de uma conquista considerada muito importante para os fãs da equipe de Massachussetts. Em caso de triunfo, o 18º título fará dos Celtics os maiores vencedores do campeonato, deixando para trás o arquirrival Los Angeles Lakers.

É uma das muitas histórias da decisão, em série melhor de sete, com início nesta quinta-feira, às 21h30 (de Brasília), no TD Garden, em Boston. Exibido no Brasil por Band, ESPN e Star+, o confronto será definido primordialmente pelo desempenho da grande dupla de cada time: Jayson Tatum e Jaylen Brown pela formação do Leste, Luka Doncic e Kyrie Irving pelo campeão do Oeste.

Mas, diante do embate estabelecido, é difícil não tratar Kyrie como a grande personagem do duelo.

Campeão com o Cleveland Cavaliers em 2016, o armador chegou aos Celtics em 2017, cansado da parceria com LeBron James. Era o nome que levaria o clube de volta à glória, mas, após duas temporadas decepcionantes e uma promessa não cumprida de renovação de contrato, partiu rumo ao Brooklyn Nets, onde ficou até 2023.

“Sou bombardeado por questões sobre o Boston desde que saí”, disse o atleta de 32 anos. “Mas é ir em frente e deixar o passado para trás. Ele pode mutilá-lo se você deixar. As pessoas tentam entender o que aconteceu… A verdadeira história vai provavelmente aparecer quando eu estiver aposentado ou quando for apropriado.”

Irving perdeu a avó, com quem era apegado, antes da temporada 2018/19, sua segunda e última nos Celtics. Hoje reconhece que não foi o jogador que todos esperavam em Boston, porém entende que tenha faltado carinho de uma torcida exigente, acostumada a títulos.

“Não me importo, depois de alguns anos, de levar a maior parte da culpa”, disse, sobre as coisas não terem dado certo. “Sou um dos melhores jogadores do mundo e sei que, com isso, vem com uma crítica justa. É só que, sabe, um pouco mais de compreensão poderia ter sido estendida para o meu lado, especialmente com o que eu estava lidando durante aquele tempo como ser humano.”

“Às vezes, no esporte, é literalmente sobre o resultado final, o que você alcança. Mas ainda somos humanos. No fim das contas, não fui minha melhor versão naquele período. Quando olho para trás, vejo que foi um tempo no qual aprendi a me desapegar das coisas e a falar por meio de minhas emoções”, acrescentou.

As frases, ditas às vésperas do início da final, foram as primeiras declarações públicas de Kyrie com alguma autocrítica desde o adeus. Houve quem enxergasse um amadurecimento. Houve quem lesse a manifestação como estratégia para diminuir a pressão no Garden. Os torcedores do Boston, em geral, nem ouviram.

O reencontro certamente será cheio de hostilidade. Ainda que as palavras mais recentes tenham sido um tanto conciliatórias, o histórico desde a despedida é deveras belicoso.

Em seu tempo de Brooklyn Nets, o armador enfrentou o Boston duas vezes no mata-mata da Conferência Leste. Em 2021, avançou com uma vitória por 4 a 1. Em 2022, para delírio verde, levou 4 a 0.

Ambos os confrontos tiveram gestos acintosos. No primeiro, o jogador pisou agressivamente no “leprechaun”, duende do folclore irlandês que é símbolo dos Celtics e está desenhado no centro da quadra -um torcedor foi preso por atirar uma garrafa de água na direção do desafeto. No segundo, foi multado em US$ 50 mil (R$ 233 mil, na cotação da época) por mostrar o dedo do meio para a arquibancada.

Em uma de suas visitas ao Garden, chegou a queimar sálvia no ginásio, em ritual de purificação. “Vem das tribos nativas. É sobre limpar a energia, não é nada que eu não faça em casa”, desconversou, sem convencer ninguém.

Agora, admite que poderia ter apresentado um comportamento diferente.

“Não foi o melhor. Todos me viram mostrando o dedo do meio e meio que perdendo a cabeça um pouco. Aquilo não foi um bom reflexo de quem eu sou de como gosto de competir em alto nível. Não foi um bom exemplo para a próxima geração sobre o que significa controlar as emoções nesse tipo de ambiente, não importa o que as pessoas estejam gritando para você”, afirmou.

Kyrie jura agora estar pronto para encarar esse ambiente e o comparou ao Coliseu romano. Ele mencionou os gladiadores como inspiração para conquistar um público hostil -o que, obviamente, não ocorrerá- e tratou de, ao menos, referir-se aos torcedores verdes como conhecedores do esporte.

“É gostoso ouvir o Garden em silêncio quando você está jogando bem. Eles ainda respeitam o bom basquetebol.”

MARCOS GUEDES / Folhapress

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