SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Eduardo Levinzon, 41, o rabino Dudu, considera que o objetivo principal de grupos terroristas é amedrontar para impor ideologias. Foi justamente a necessidade de reagir, diz ele, que o levou às redes sociais para defender uma questão considerada central após os massacres do 7 de Outubro: a ofensiva de Israel em Gaza como fundamental para a sobrevivência do povo judeu.
Ao cobrar posicionamento contra os integrantes do Hamas, responsáveis pela morte de 1.200 pessoas em sua incursão ao território israelense, o influenciador, hoje com 176 mil seguidores apenas no Instagram, diz que não se preocupa propriamente com os terroristas, mas, sim, com as “pessoas boas que assistem e não fazem nada” diante da atrocidade.
O rabino tenta chamar a atenção do público com vídeos curtos que, editados por uma agência de marketing digital, trazem recortes de suas falas em lives ou em entrevistas. Também busca fazer um contraponto àqueles que define como “terroristas de sofá”, ou pessoas que de alguma forma tentam justificar os atos do Hamas no campo intelectual.
“Os terroristas são pessoas doentes ou psicóticas, e já sabemos que [com elas] não existe diálogo. Agora, as pessoas que tentam justificar [os atos de terrorismo] intelectualmente agem de forma ainda mais grave”, afirma, mencionando manifestações pró-Hamas em passeatas e posicionamentos que seriam favoráveis ao grupo em universidades.
“Nem os terroristas tentam justificar suas ações de forma acadêmica. Quando transformamos esse discurso em ideologia, a capacidade de disseminação é muito maior.”
A guerra entre Israel e Hamas vem provocando atritos no meio acadêmico. Grupos bolsonaristas fizeram listas de professores que eles acusam de apoiar extremistas. Docentes ainda foram orientados a não expor posições sobre o conflito, o que motiva debates sobre censura e liberdade de expressão.
O que o rabino chama de “ideologia esquerdista” no mundo acadêmico teria contaminado também parte da cobertura da imprensa segundo ele, supostamente levando-a a transmitir mais informações pró-Palestina. Em vídeo sobre o conflito, ele pede a seguidores que não liguem a televisão.
“Quando apareceram as notícias de que Israel tinha bombardeado um hospital e que 500 pessoas tinham sido mortas, na hora eu falei: ‘é mentira'”, diz Dudu. Ele se refere à explosão no hospital al-Ahli Arab, em Gaza, ocorrida em 17 de outubro –o número real de mortes e a autoria do ataque são contestados pelos dois lados.
A guerra de narrativas no conflito aumenta a intolerância religiosa. No Brasil, denúncias de antissemitismo cresceram mais de dez vezes no período de outubro de 2022 ao mesmo mês deste ano, indo de 44 para 467, segundo dados coletados pela Confederação Israelita do Brasil e a Federação Israelita do Estado de São Paulo apresentados no mês passado.
Dudu diz acreditar que esse número seja ainda maior, já que, argumenta, o antissemitismo no Brasil não é algo escancarado e a maior parte dos casos ocorre de forma anônima na internet. “No meio de uma discussão é comum ver as pessoas atacando os judeus ou o direito de existência do Estado de Israel. São coisas que não se discutem sobre outros países. Então, percebe-se um antissemitismo enrustido.”
O rabino se tornou influenciador após um de seus amigos gravar e colocar aulas ministradas por ele na internet. O retorno do público foi surpreendente.
Ao longo dos anos, Dudu havia evitado discutir em seus vídeos assuntos políticos ou relacionados a disputas religiosas e territoriais. Isso mudou a partir de outubro, após os ataques, que, segundo ele, mexeram com a “essência judaica”.
“Eu me senti na obrigação de defender o povo judeu. Na minha opinião, isso é defender a própria humanidade, os valores humanos. A gente não pode baixar a cabeça.”
Dudu não tem formação em geopolítica ou estratégia militar. Como rabino, sua área de maior conhecimento é a da espiritualidade, com os estudos da Torá, o livro sagrado judaico, e da cabala, parte mística da religião.
Em uma década, ele reuniu milhares de seguidores de várias religiões. Parte de seu sucesso, segundo ele, deve-se à ideia de que o judaísmo teria valores universais. Dudu afirma que a maioria de seu público não é formada por judeus. “Sou brasileiro e não estou no Exército de Israel. Então, busco ajudar com as ferramentas que eu tenho.”
Dudu acusa o Hamas de se apossar de Gaza e de usar a infraestrutura civil como escudo –o grupo nega a prática, mas é fato notório que se imiscui entre civis e suas estruturas como forma de se proteger dos bombardeios mais pesados de Israel. Ele diz ser contra qualquer negociação com a facção. “Quando você é moderado com terroristas, você é um extremista contra a vida.”
Na visão dele, a guerra em Gaza é uma questão de sobrevivência para o povo judeu. Ele não considera que o Exército israelense esteja cometendo excessos, acusação feita por diversas organizações humanitárias. “Isso não significa que eles não possam cometer erros”, afirma.
RENAN MARRA / Folhapress