MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) – Com expectativa de receber 7 milhões de visitantes até o dia 3 de outubro, a Oktoberfest de Munique a original, que começou como uma festa de casamento em 1810 busca se tornar um festival antenado com as demandas do século 21.
E vem causando polêmica o fato de que uma das maiores cervejarias da Alemanha, a Paulaner, tenha agora decidido vender, ao lado dos eisbeins (joelho de porco) e salsichões, apenas frango orgânico em seu enorme espaço na festa.
Entre os tradicionalistas, que estão chamando a festa de “woke” termo pejorativo para consciência social, e os ativistas, que gostariam que os visitantes só comessem produtos orgânicos, fica o público.
Este perdeu o prato carnívoro mais barato e mais vendido que a Paulaner oferecia no ano passado. A refeição de meio frango orgânico, “grelhado e suculento”, custa 20,50 (R$ 108), cerca de 50% a mais que o meio frango comum da edição de 2022.
“A Paulaner não é a única tenda a vender frango orgânico”, contou à reportagem Susanne Kiehl, do Conselho de Nutrição de Munique, uma associação financiada pelo governo e que tem como meta transformar a cidade e a Oktoberfest neutras em relação a emissões prejudiciais ao ambiente.
“A Ammer oferece frango orgânico desde 2000”, disse ela. “Mas no ano passado tivemos um movimento real em direção ao orgânico. Além disso, a Câmara Municipal de Munique passou a exigir produtos orgânicos para permitir que novas empresas vendam seus produtos na Oktoberfest.”
Mas a Ammer é uma empresa principalmente de patos e frangos, e a Paulaner é uma das seis cervejarias originais de Munique, que está na Oktoberfest desde 1895. A propósito, a caneca de um litro de Paulaner sai por 14,50, ou R$ 76.
Em reportagem publicada nesta semana pelo jornal americano Washington Post, a responsável pela tenda da cervejaria, Arabella Schörghuber, disse que se trata de uma experiência. “O orgânico é mais caro, mas a qualidade é superior. Queremos ter certeza de que o animal tenha uma vida boa. Veremos o que acontece.”
E, se alguns visitantes não se importam e elogiam a iniciativa, outros, como Andrea Koerner, 56, preferiram trocar de barraca e escolher comidas mais baratas. “Não conhecemos o sabor porque custa muito caro experimentar”, disse ela.
E a cerveja orgânica também está nos planos do Conselho de Nutrição. “Já temos uma cervejaria orgânica em Munique e a Hacker-Pschorr está produzindo cerveja orgânica para um outro grande evento, chamado Tollwood”, atestou Kiehl.
Mas não faltam estraga-prazeres para os ativistas, uma vez que, na opinião dos conservadores, o que estraga mesmo o prazer é justamente essa nova consciência. “Deve continuar sendo uma festa popular tradicional, porque caso contrário, não seria atraente”, disse Clemens Baumgärtner, autoridade que supervisiona o festival e é membro do partido político União Social Cristã.
O presidente da Associação de Hotéis e Restaurantes da Baviera, Thomas Geppert, fez coro: “Não creio que alguém queira realmente uma economia planejada na qual um pequeno grupo decida o que é bom e o que não é para as pessoas”, acrescentando que as pessoas deveriam ter permissão para viver e comer como bem entenderem.
Enquanto isso, Susanne Khiel sonha com o dia em que não haverá mais carnes não orgânicas na Oktoberfest. “Se nós trabalharmos nisso, por que não? Passo a passo. Mas de preferência com produtos orgânicos locais!”, diz ela. E o prazo para que isso aconteça? “Nossa meta é 2035.”
IVAN FINOTTI / Folhapress