SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Premiado em um meio em que cada palavra conta, o diretor Andrés Bukowinski, 84, elege “milagre”, “genialidade” e “herói” para descrever o trabalho com Washington Olivetto.
Com o publicitário, que morreu na tarde deste domingo (13), aos 73 anos, Bukowinski trabalhou em mais de 1.100 filmes, muitos deles lembrados até hoje.
Um dos frutos mais icônicos dessa parceria foi a campanha “Hitler”, feita para a Folha de S.Paulo em 1987, que conquistou o Leão de Ouro em Cannes e é lembrada com carinho pelo diretor.
“O projeto do ‘Garoto Bombril’ foi um milagre, uma coisa de outro mundo. Foram 400 filmes comerciais vindos de uma relação sólida entre diretor e criação”, conta Bukowinski, ao recordar outro trabalho famoso.
Em depoimento à reportagem, neste domingo, o diretor lamentou a morte do amigo e companheiro de trabalho.
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“Um diretor de comerciais, como eu, depende muito do criativo da agência. Tive a grande sorte de estar no núcleo mais criativo da propaganda brasileira, que dos anos 1970 e por mais de 35 anos, esteve entre as três melhores do mundo.
Olivetto era um desses seres únicos, e tivemos a oportunidade de filmar com o Pelé, um roteiro do Washington. Trabalhei com os dois Pelés.
A nossa comunicação era impressionante, vários filmes foram resolvidos por telefone. Ele sabia exatamente o que queria dizer, as reuniões de produção que davam base aos filmes eram sintéticas, os roteiros eram enxutos. Pudemos entrar na maior campanha do mundo, que foi a do ‘Garoto Bombril’, com o ator Carlos Moreno.
Bombril nasceu depois de sete anos de trabalho e confiança que construímos, sem essa base ele poderia nem ter saído do papel. Foi um milagre, uma coisa única no mundo. Foram 400 filmes comerciais vindos de uma relação sólida entre diretor e criação.
Chegamos a fazer dez filmes no mesmo dia. Carlinhos era o segundo herói, depois de Washington, naquele projeto.
Foram mais de 1.100 filmes publicitários que Olivetto e eu fizemos juntos. Um outro grande momento foi quando o Brasil ganhou seu primeiro Leão de Ouro, já estávamos fazendo propagandas muito boas há dois ou três anos, tinha recebido o Leão de Prata no ano anterior com a agência DPZ, e ganhamos o ouro, com ‘Homem com mais de 40 anos’.
Havia três Olivettos: o criativo, o trabalhador e o moral. Diria que, de todos os publicitários, ele era o mais leal, generoso, elegante. Não me lembro de alguém que tenha tido um momento ruim com ele, era um homem que respeitava as pessoas.
O filme ‘Hitler’, feito para a Folha, era um dos 15 ou 20 filmes que fizemos para o jornal e provavelmente se tornou o filme publicitário brasileiro mais famoso no mundo.
Washington tinha um senso de irreverência, no bom sentido, que se tornou uma característica da propaganda brasileira. Parte do sucesso da publicidade nacional se deu por isso.
Esses conceitos fazem falta na propaganda mundial (e também brasileira) de hoje. Tem muita piadinha, conceitos e historinhas que nem eu, profissional desse meio, entendo.
Quando as pessoas morrem, é comum que ninguém veja um defeito nelas. É normal, humano. Agora, no caso de Washington, isso é muito pertinente, porque ele realmente, até o último momento, me impressionava com as frases, com os conceitos.
Já não trabalhávamos juntos, mas éramos amigos, e, quando a gente falava de algum tema mundial, ele sempre tinha esse ponto de vista original.
Podemos dizer que ele foi o maior herói da propaganda brasileira.”
DOUGLAS GAVRAS / Folhapress