RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Nove ônibus municipais foram sequestrados e utilizados como barricadas para impedir a entrada de policiais no Complexo do Chapadão, na zona norte do Rio de Janeiro. Em Belford Roxo, município da Baixada Fluminense a 25 km da capital, dois ônibus foram incendiados em uma das principais vias da cidade.
Pela manhã, policiais militares realizaram uma operação no Complexo do Chapadão, localizado entre os bairros da Pavuna e Anchieta. Um dos líderes do Comando Vermelho em São João de Meriti, município ao lado da Pavuna, foi morto durante tiroteio.
Horas depois três caminhões e nove ônibus foram sequestrados para serem usados como barricada. Nenhum motorista ficou ferido e os passageiros foram liberados antes de os suspeitos roubarem os veículos.
Os ônibus ficaram atravessados nas ruas de Anchieta. Foram levados veículos das linhas 669 (Pavuna x Méier), 399 (Pavuna x Passeio), 945 (Pavuna x Fundão) e 793 (Pavuna x Sulacap), todos da viação Pavunense, que teve 50% da circulação prejudicada nesta quarta.
No fim da manhã, em Belford Roxo, dois ônibus intermunicipais foram incendiados na avenida Automóvel Clube. A via também corta a cidade de São João de Meriti e o bairro da Pavuna, na capital fluminense, onde ocorreu o sequestro dos ônibus.
A ação ocorreu após operação da PM na favela da Guacha, onde três pessoas foram detidas. Com elas, policiais afirmam ter encontrado pistola, munição e drogas.
O Rio Ônibus, sindicato das empresas de ônibus da cidade do Rio, contabiliza 147 ônibus sequestrados e usados como barricadas nos últimos 12 meses.
A Semove (Federação das Empresas de Mobilidade do Estado do Rio de Janeiro) calcula 15 ônibus incendiados este ano e 73 incendiados desde o ano passado em toda a região metropolitana do Rio, incluindo viações que fazem trajeto intermunicipal. A federação calcula prejuízo de R$ 62 milhões com os incêndios.
“A Semove repudia esses ataques criminosos ao transporte público, que afetam, principalmente, a população que mais depende dele para seu deslocamento diário”, disse a federação em nota.
Em outubro de 2023, após a morte do miliciano Matheus da Silva Rezende, o Faustão, ao menos 35 ônibus foram incendiados no Rio. A situação deixou o trânsito caótico na zona oeste da cidade, com oito bairros afetados.
Segundo Paulo Valente, diretor de relações institucionais do Rio Ônibus, as empresas que operam nas zonas oeste e norte são as mais afetadas. As comunidades da Vila Aliança, em Bangu, o Complexo de Israel, entre Cordovil e Parada de Lucas, e o Complexo do Chapadão, na Pavuna, são as que têm mais ocorrência de sequestro de ônibus, segundo o porta-voz.
Valente diz que cada ônibus incendiado gera um prejuízo médio de R$ 900 mil. A empresa leva até seis meses para substituir o veículo.
“Ações como essas impactam toda a comunidade que utiliza a linha. O bairro da Pavuna hoje ficou intransitável. Bloquearam as principais vias. Até para quem usa carro e motocicleta ficou difícil de rodar. Ficou uma fila de mais de 30 ônibus parados porque não tinham como manobrar”, afirma Valente.
“Se dia sim e dia não, na mesma rua e mesma comunidade, tem uma ocorrência dessa, já existe a questão mapeada”, diz o porta-voz. “Tem como prevenir. Basta usar o serviço de inteligência e ter veículos e policiais disponíveis.”
YURI EIRAS / Folhapress