SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos pediu a apuração de relatos que soldados israelenses estejam violentando mulheres e meninas na Faixa de Gaza. O Exército de Israel nega as acusações.
Comitê de especialistas da organização disseram que há relatos plausíveis de execução, tortura e violência sexual contra mulheres e meninas palestinas por soldados do Exército de Israel.
Centenas de mulheres foram detidas arbitrariamente desde o início da guerra, disse o órgão em nota. “Muitas foram submetidas a tratamento desumano […] Em ao menos uma ocasião, mulheres palestinas ficaram presas em uma jaula na chuva e no frio, sem comida”.
Há relatos de mulheres executadas juntos de seus filhos. “Estamos chocados com relatos de perseguição deliberada e assassinatos extrajudiciais de mulheres e crianças palestinas em locais onde buscavam refúgio, ou enquanto fugiam”, diz o texto. “Algumas supostamente seguravam pedaços de tecido branco quando foram mortas pelo Exército israelense ou forças afiliadas”.
Eles também relatam que várias sofreram violência sexual. Ao menos duas foram estupradas e outras foram fotografadas em condições degradantes pelos soldados, que divulgaram as imagens na internet.
Ao menos uma bebê foi levada à força para Israel, e há relatos de “um número desconhecido” de crianças separadas de seus pais.
“Em conjunto, esses supostos atos podem ser violações graves dos direitos humanos e da lei humanitária internacional”, disse o escritório do Alto-Comissariado em comunicado, pedindo uma investigação “independente, minuciosa e eficaz” desses casos.
“Lembramos o governo de Israel de sua obrigação de garantir o direito à vida, à segurança, à saúde e dignidade das mulheres e meninas palestinas”, declararam. “Os responsáveis devem pagar por esses aparentes crimes, e as vítimas e suas famílias têm direito à reparação e à justiça”.
As Forças de Defesa de Israel negaram todas as acusações, e disseram que as alegações dos especialistas são “desprezíveis e sem fundamento”. “Sem detalhes ou provas dos casos individuais, não conseguimos examiná-los em profundidade”, afirmaram em nota enviada à CNN Internacional.
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Leia a nota do Alto-Comissariado da ONU para os Direitos Humanos na íntegra:
Especialistas da ONU expressaram preocupação nesta terça-feira (20) com alegações plausíveis de violações graves dos direitos humanos às quais mulheres e meninas palestinas continuam a sofrer na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.
Mulheres e meninas palestinas supostamente foram executadas arbitrariamente em Gaza, frequentemente junto de familiares, incluindo seus filhos, segundo informações recebidas. “Estamos chocados com relatos de perseguição deliberada e assassinato extrajudicial de mulheres e crianças palestinas em locais onde buscavam refúgio, ou enquanto fugiam. Algumas estavam segurando pedaços de tecido branco quando foram mortas pelo Exército de Israel ou forças afiliadas”, disseram.
Os especialistas manifestaram preocupação com a detenção arbitrária de centenas de meninas e mulheres palestinas, incluindo ativistas dos direitos humanos, jornalistas e trabalhadoras humanitárias em Gaza e na Cisjordânia desde 7 de outubro. Muitas supostamente foram submetidas a um tratamento desumano e humilhante, foram negadas acesso a absorventes menstruais, comida e medicamentos, e espancadas. Em ao menos uma ocasião, mulheres palestinas detidas em Gaza foram supostamente mantidas em uma jaula na chuva e no frio, sem comida.
“Estamos particularmente preocupados com relatos que as mulheres e meninas palestinas detidas também foram submetidas a diversas formas de violência sexual, como serem despidas e revistadas por soldados homens do exército israelense. Ao menos duas palestinas detidas foram supostamente estupradas, e outras foram ameaçadas de estupro e violência sexual”, disseram os especialistas. Eles também disseram que as detidas foram fotografadas em circunstâncias degradantes pelos soldados israelenses, que publicaram as imagens online.
Os especialistas se preocupam com um número desconhecido de mulheres e crianças, incluindo meninas, que desapareceram após encontrarem membros do exército israelense em Gaza. “Há relatos perturbadores de ao menos uma bebê levada à força pelo exército israelense para Israel, e de crianças separadas de seus pais, cujos paradeiros seguem desconhecidos”, disseram.
“Lembramos o governo de Israel de sua obrigação de garantir o direito à vida, à segurança, à saúde e à dignidade das mulheres e meninas palestinas, e de garantir que ninguém seja submetido a violência, tortura, maus tratos e tratamentos degradantes, incluindo violência sexual”, disseram os especialistas.
Eles pediram uma investigação independente, imparcial, rápida, minuciosa e eficaz desses relatos, e que Israel coopere com essa investigação.
“Juntos, esses supostos atos podem constituir violações graves dos direitos humanos e da lei humanitária internacional, e podem ser crimes graves pela lei criminal internacional, que podem ser julgadas sob o estatuto de Roma”, disseram os especialistas. “Os responsáveis por esses aparentes crimes devem ser responsabilizados, e as vítimas e suas famílias têm direito à completa reparação e justiça”, acrescentaram.
Redação / Folhapress