SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As operações das empresas de ônibus Transwolff e a Upbus serão mantidas normalmente na cidade de São Paulo, de acordo com Gilmar Pereira Miranda, secretário Executivo de Transporte e Mobilidade Urbana. Ainda de acordo com o representante da gestão Ricardo Nunes (MDB), os empregos serão preservados.
A afirmação foi feita em entrevista ao “Bom Dia SP”, da TV Globo, na manhã desta terça-feira (9).
As duas empresas de ônibus são responsáveis pelo transporte de ao menos 700 mil passageiros diariamente em São Paulo e são alvos de uma operação do Ministério Público para apurar um esquema de lavagem de dinheiro do PCC (Primeiro Comando da Capital) proveniente do tráfico de drogas, roubos e outros crimes, de acordo com o Ministério Público. Quatro pessoas foram presas na operação até o momento.
“Hoje a operação está 100% ativa na cidade de São Paulo desde a manhã, uma vez que também as autoridades policiais não retiveram os veículos, pelo contrário, colaboraram com a cidade de São Paulo permitindo a saída de todos os veículos que estavam nas garagens dos três contratos. Um contrato na zona norte com a UPbus e dois contratos na zona sul com a Transwolff.
De acordo com Miranda, a operação das duas empresas envolve 1.500 ônibus e a SPTrans não vislumbra a substituição dos operadores.
“Pelo contrário, a gente tem pessoal capacitado na São Paulo Transporte com expertise desde que já teve no passado a necessidade de intervenção. A gente vai fazer uma reunião para definir como a gente vai atuar, a partir da decisão judicial à administração operacional das empresas”, disse.
Ele afirmou que a operação das linhas serão mantidas como estão e, se houver necessidade, a administração pode pedir ajuda a outros operadores.
Miranda destacou que ninguém será demitido.
“É importante consignar também para os operadores que não tem nada a ver com essa investigação e que será mantido o emprego de todos os operadores. A São Paulo Transporte não promoverá nenhum reajuste com relação a mão de obra das companhias. A gente não tem competência para mexer nisso, pelo contrário, a gente só tem delegação, se houver essa decisão judicial, para operar os ônibus e com isso manter o serviço público à população, tanto da zona sul como da zona leste”, destacou.
Ele afirmou que aguarda comunicação judicial para entender de que forma a SPTrans deve assumir a gestão das empresas.
A Prefeitura de São Paulo afirmou que o prefeito Ricardo Nunes (MDB), neste momento, está gerenciando processo de intervenção nas duas empresas de ônibus.
“A prefeitura está atuando para que não haja prejuízo no transporte aos passageiros e reitera que já havia pedido para que a CGM (Controladoria Geral do Município) apurasse o envolvimento dessas empresas com o crime organizado”, afirmou.
ENTENDA
Na operação foram presos Luiz Carlos Efigênio Pacheco, dono da Transwolff, e Robson Flares Lopes Pontes, dirigente da Transwolff. Hélio Rodrigues dos Santos, secretário da empresa, foi preso em flagrante por porte ilegal de arma durante as buscas. O dono de um escritório de contabilidade também foi detido.
A Folha tenta contato com a defesa das empresas e dos detidos desde a manhã desta terça, mas não houve manifestação dos acusados.
A Operação Fim da Linha é realizada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do MP, Polícia Militar, Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e Receita Federal.
Foram expedidos quatro mandados de prisão preventiva e 52 mandados de busca e apreensão para 39 alvos pessoa física e 13 alvos pessoa jurídica. Desses, 41 alvos são da cidade de São Paulo e os demais são de Barueri, Cotia, Guarujá, Guarulhos, Itapecerica da Serra, Itaquaquecetuba, Itu, Mauá, Santana de Parnaíba, São Bernardo do Campo e São José dos Campos.
A Receita Federal, em investigações preliminares que subsidiaram a atuação do Ministério Público no caso, identificou a utilização de diversos esquemas tributários para lavagem de dinheiro do crime organizado. Entre os mecanismos estão integralizações de capital social de empresas com valores sem origem lícita, movimentações financeiras atípicas e distribuições de lucro desordenadas e sem lastro financeiro.
“Mesmo em anos em que registravam prejuízos, as empresas alvo da operação distribuíam dividendos milionários a seus sócios. Por exemplo, um dos sócios recebeu mais de R$ 14,8 milhões em dividendos entre 2015 e 2022, período em que a empresa teve um prejuízo acumulado de mais de R$ 5 milhões. A distribuição de dividendos, além de ‘esquentar’ o dinheiro ilícito, possibilitava o não pagamento de tributos pelos beneficiários, uma vez que esse tipo de rendimento é isento de imposto de renda”, explicou a Receita Federal.
FRANCISCO LIMA NETO / Folhapress