Operação policial no Complexo da Penha, no Rio, deixa 10 mortos e quatro feridos

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Dez pessoas morreram e quatro ficaram feridas após serem baleadas durante uma operação conjunta das polícias Civil e Militar nesta quarta-feira (2) no Complexo da Penha, zona norte do Rio de Janeiro. Entre os feridos, há um policial militar do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) e um adolescente.

As vítimas foram levadas para o Hospital Estadual Getúlio Vargas. Segundo a Secretaria de Saúde, o adolescente está em estado grave -ele recebeu dois tiros, um deles no pescoço. Já o PM foi transferido para o HCPM (Hospital Central da Polícia Militar) e está estável. Os outros dois baleados também estão estáveis.

De acordo com a Polícia Militar, os dez mortos e um ferido são suspeitos de envolvimento com o tráfico. Os outros dois dos baleados, entre eles o adolescente, foram trazidos ao hospital por familiares. A corporação informou que o objetivo da ação, que teve início na madrugada, seria prender criminosos de outros estados.

A identificação dos mortos ainda não foi divulgada. Apenas dois dos mortos já tiveram a identidade revelada pela Polícia Militar. São eles Carlos Alberto Marques Toledo, conhecido como o Fiel da Penha, e Carlos Henrique da Silva Brandão, vulgo Du Leme. Eles são, segundo a PM, chefes do tráfico do Juramento e da Chatuba, respectivamente.

Nas redes sociais, Toledo costuma postar vídeos dançando com armas e usando drogas. Ele tinha mandado de prisão preventiva decretado por associação e tráfico de drogas.

Em nota, a Core afirmou que “diversas barricadas estão sendo retiradas do local e policiais do Choque reforçam o policiamento no entorno devido a ameaças de manifestações por determinação do tráfico local”.

Nas redes sociais, moradores relatam intensos tiroteios. “Bom dia é pra quem mora na zona sul, aqui na penha e só boa sorte mesmo. Clima tenso, muito tiro”, escreveu a internauta Priscila Alves, no Twitter.

O jornal comunitário Voz das Comunidades postou uma foto em que há vários pontos de incêndio na comunidade. Segundo a polícia, seriam barricadas do tráfico que utilizam óleo para atrasar a entrada de blindados.

O coronel Marco Andrade, porta-voz da Polícia Militar, disse que nove suspeitos ficaram feridos durante o tiroteio e foram socorridos. O hospital estadual Getúlio Vargas afirma que 10 pessoas já chegaram mortas à unidade.

“Se apareceu mais algum óbito, deve ter sido socorrido por populares na região de mata. Não conseguimos avançar e decidimos retrair, tendo em vista que parte do objetivo já havia sido alcançado”, disse o porta-voz, durante coletiva no quartel-general da Polícia Militar.

Segundo Andrade, setores de inteligência das polícias Civil e Militar constataram que traficantes locais deram ordens para que mototaxistas se deslocassem à região onde ocorreu o confronto. A intenção segundo a PM, era a organização de uma manifestação para dificultar a operação. A corporação diz que a chegada dos mototaxistas forçou o recuo das equipes.

Alguns dos suspeitos mortos no confronto utilizavam roupas camufladas semelhantes ao uniforme do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais).

“Muitos trajavam uniformes bem parecidos. Existe todo esse aparato bélico. Eles utilizam técnicas para retardar o avanço das tropas, vestem fardas e usam outros equipamentos que inviabilizam a ação das forças policiais. Foi difícil se deslocar, existiam barricadas extremamente estruturadas, de ferro. Não eram aquelas comuns de pneus pegando fogo, ou móveis”, disse o porta-voz.

A Polícia Militar diz que comunicou a Promotoria do Rio de Janeiro sobre a operação, conforme a ADPF 365, decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que determina que as ações sejam avisadas ao órgão.

A Defensoria Pública afirmou, em nota, que “acompanha com preocupação” a operação. “Desde os primeiros momentos, a ouvidoria externa da Defensoria recebeu relatos de moradores e lideranças comunitárias sobre a violência no local.”

A OAB/RJ (Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro) afirmou ainda não ter recebido pedidos de apoio das famílias, nem da associação de moradores, mas que conversa com outros órgãos sobre o assunto.

Derê Gomes, diretor da Faferj (Federação das Associações de Favelas do Rio de Janeiro), afirma que o deslocamento dos mototaxistas para o local onde ocorria o confronto é uma tentativa dos moradores de evitar ainda mais mortos.

“Dizem que mototáxi e moradores são defensores de bandido, mas casas são invadidas, direitos são violados, pessoas são mortas. A tentativa de acabar com a matança é defender a favela, não é defender bandido nenhum. Há pouco mais de um ano, estávamos lá e não conseguimos evitar a tragédia que foi, com 23 mortos”, afirma Gomes.

“Existe uma intensificação dessa política de enfrentamento que entendemos ser uma política de enxuga gelo. Amanhã tudo volta ao normal, como era antes.”

No início da tarde desta segunda-feira (2), parentes das vítimas da operação no Complexo da Penha aguardavam na frente do hospital por respostas. Abaladas, elas não quiseram falar com a imprensa.

Em outro ponto do Rio, outros dois homens morreram numa ação da Polícia Militar na comunidade Cinco Bocas, em Brás de Pina, também na zona norte. De acordo com a PM, os dois estavam com um fuzil e uma pistola e entraram em confronto com agentes do batalhão da área.

Segundo os policiais, a ação tinha como objetivo prender os responsáveis por atirar contra a casa de um agente da Polícia Civil, também em Brás de Pina. O caso aconteceu na tarde de domingo (30).

BRUNA FANTTI, CAMILA ZARUR YURI EIRAS / Folhapress

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