BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Senadores bolsonaristas têm descartado lançar candidato para a presidência do Senado e acenado ao ex-presidente da Casa e atual presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). O pleito ocorre em fevereiro de 2025 e Alcolumbre já aparece como favorito.
Presidente do partido de Jair Bolsonaro, o PL, Valdemar Costa Neto tem dito que o assunto só será tratado após as eleições municipais, mas senadores da sigla admitem, reservadamente, que é praticamente zero a chance de uma candidatura própria.
Colabora para esse entendimento o quadro político da Casa após a última disputa para o comando do Senado, em 2023, quando Rodrigo Pacheco (PSD-MG) foi reeleito.
Dois senadores ouvidos pela reportagem afirmam que, após a vitória de Pacheco, o PL ficou praticamente sem nenhum espaço na divisão de comissões e cargos da mesa diretora –como havia ameaçado o atual presidente do Senado durante o processo de disputa caso Rogério Marinho (PL-RN) não desistisse da candidatura.
O PL acreditava, segundo disse um senador, ser possível algum tipo de acordo por se tratar da segunda maior bancada da Casa. Mas isso não ocorreu.
O grupo de Pacheco só aceitou criar duas novas comissões, a de Esportes e a de Comunicação, e entregou a presidência aos senadores Romário (PL-RJ) e Eduardo Gomes (PL-TO), respectivamente.
A avaliação do núcleo duro bolsonarista, no entanto, é a de que esse gesto não contemplou a oposição, mas, sim, senadores aliados de Pacheco e que, por acaso, estão no PL.
O PP já prometeu apoio a Alcolumbre cerca de seis meses atrás, durante jantar em Brasília, na casa do senador Ciro Nogueira (PI), presidente da sigla e ex-ministro de Bolsonaro. Embora o acordo não tenha sido tornado público na época, Ciro disse à Folha que o partido foi o primeiro a anunciar apoio a Alcolumbre –muito antes do PDT, que divulgou nota a favor do amapaense no início de setembro.
Ciro afirma que a oposição vê em Alcolumbre “um perfil mais independente”, além de ser, segundo ele, “uma pessoa muito querida e muito respeitada”. O que inviabilizaria outra candidatura.
“O processo do Senado já está definido. Não vejo o que possa acontecer que evite a eleição do Davi. A grande maioria da oposição quer votar no Davi e acredito que o governo não vai querer enfrentá-lo. Ele deve ter 75 votos; mais de 70 votos [de 81 cadeiras]”, diz.
Ciente de que deve ter apoio também na base do governo Lula (PT), Alcolumbre tenta se desvencilhar de uma das principais pautas bolsonaristas: o impeachment de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).
O senador afirma a aliados em conversas reservadas que é pessoalmente contra, mas, publicamente, foge do tema. Alcolumbre também diz a aliados que prevê um Senado mais bolsonarista com as eleições de 2026 e que o andamento de pautas para o afastamento de magistrados será uma questão de tempo.
Já em relação à anistia aos envolvidos nos ataques golpistas de 8 de janeiro, outra pauta bolsonarista, o senador se compromete em manter a postura adotada à frente da CCJ: pautar projetos reivindicados não só pela base, mas também pela oposição.
Aliados de Bolsonaro dizem que o ex-presidente não colocou como condição a aprovação da anistia aos condenados para esta eleição, mas avaliam que isso é um fator importante para que Alcolumbre consiga o apoio de Bolsonaro para sua reeleição.
Mesmo com um clima de “já ganhou” para o lado de Alcolumbre, parte dos senadores governistas afirma que o líder do PSD, Otto Alencar (BA), ainda tem chances. Um dos aliados do baiano diz que Alcolumbre é favorito por ser, até aqui, o único candidato em campanha.
Já um integrante do governo ressalta que Alcolumbre presume ter o apoio do presidente Lula sem nunca ter ouvido o compromisso do próprio petista ou de algum interlocutor de peso. Dentro do União Brasil há avaliações de que a única candidatura capaz de gerar riscos seria a de Otto.
Por isso, integrantes do partido tentam negociar um acordo com o PSD por meio do qual eles apoiariam o nome de Antonio Brito (PSD-BA) à presidência da Câmara em troca de a sigla respaldar Alcolumbre no Senado. Líderes do centrão avaliam que há poucas chances de esse acordo ir para frente.
THAÍSA OLIVEIRA E JULIA CHAIB / Folhapress