BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Em uma viagem com poucos detalhes públicos por alegadas questões de segurança, Edmundo González, o ex-diplomata que parte do mundo ocidental reconhece como o presidente eleito da Venezuela, deixou o exílio em Madri e se reuniu com Javier Milei em Buenos Aires.
Em frente à Casa Rosada, na Praça de Maio, centenas de venezuelanos, boa parte deles refugiados ou solicitantes de refúgio na Argentina, carregavam bandeiras da Venezuela e cartazes em apoio a EGU, acrônimo pelo qual ele é conhecido, e María Corina Machado, a líder da oposição que diz seguir em Caracas, mas cuja localização é desconhecida.
Milei o levou ao balcão da sede da Presidência, onde o opositor foi ovacionado, e minutos antes chamou González de presidente. Disse que “está fazendo o que a defesa da liberdade exige, nem mais, nem menos”.
Pela primeira vez desde as eleições de 28 de julho, González faz um giro pelas Américas que, como a reportagem adiantou, não incluirá o Brasil. Estão na lista o Uruguai, onde se reunirá com Luis Lacalle Pou ainda neste sábado; o Panamá, a República Dominicana e os EUA.
O objetivo é angariar apoio na região às vésperas da posse de Nicolás Maduro, reeleito em um pleito questionado pela comunidade internacional. O ditador iniciará mais um mandato de seis anos na próxima sexta-feira (10) e fala em implementar um projeto de mudança da Constituição.
González disse que nesta data estará em solo venezuelano, uma afirmação que desperta incertezas. Em Buenos Aires neste sábado, afirmou que, “por qualquer meio que seja, estarei lá”.
A ditadura agora oferece uma recompensa de US$ 100 mil (cerca de R$ 620 mil) a quem disser o paradeiro de EGU caso ele ingresse em território venezuelano. Contra ele há várias acusações judiciais por parte do regime, como a de tentar usurpar poderes por se declarar eleito.
Há dúvidas ainda sobre quais serão as autoridades que receberão González nos demais países, ou seja, se lhe será dado o mesmo prestígio dado por Milei e Lacalle Pou neste final de semana.
Na Cidade do Panamá, o presidente José Raúl Mulino possivelmente estará em viagem aos EUA para participar do funeral do ex-presidente Jimmy Carter por uma agenda simbólica: foi Carter o responsável por transferir o Canal do Panamá ao país centro-americano, e agora Donald Trump ameaça a soberania da região.
A Argentina é um dos países mais vocais na região na defesa da oposição venezuelana. Uma semana após o pleito, a diplomacia de Milei disse, “de maneira inequívoca, que o ganhador inquestionável da eleição presidencial é Edmundo González Urrutia”.
A Venezuela, então, rompeu relações com o país e expulsou seu corpo diplomático de Caracas.
O Brasil, após gestões que superaram as rixas Milei-Lula, assumiu os cuidados da embaixada argentina com um fator importante: ali vivem seis asilados opositores que a ditadura impediu de deixarem a Venezuela junto com os diplomatas argentinos rumo a Buenos Aires.
Desde então a prioridade da diplomacia de Lula para Caracas tem sido pedir salvo-conduto para que eles deixem o país.
Já do outro lado do rio da Prata, em Montevidéu, EGU angaria aqueles que devem ser os últimos apoios públicos em grande escala do país. O presidente de centro-direita Lacalle Pou tem bom contato com María Corina Machado e também reconhece González, mas seu sucessor, o esquerdista Yamandú Orsi, que assume em março, promete um tom abaixo.
Pertencente à coalizão Frente Ampla, Orsi concorda que o processo eleitoral na Venezuela não seguiu ritos democráticos, mas tem postura diferente da de Lacalle, mesmo porque tem de balancear todas as opiniões de sua aliança, na qual o sindicalismo mais tradicional e ainda defensor da ditadura da Venezuela tem algum peso.
A oposição venezuelana afirma que EGU venceu o pleito com 67% dos votos, ante 30% para Maduro. Para isso, coletou o que diz ser 85% das atas das urnas eletrônicas, as mesmas que o regime local se negou inicialmente a entregar, mas depois colocou nas mãos do Supremo Tribunal de Justiça, que tampouco as tornou públicas.
Alguns projetos de checagem ao redor do mundo que também obtiveram esses documentos com as chamadas testemunhas de mesa de votação (pessoas que fiscalizaram o processo) validam que González foi eleito. O regime diz que Maduro venceu com 51,2% dos votos.
MAYARA PAIXÃO / Folhapress