SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Profissionais que tinham o X como ferramenta de trabalho adotam diferentes caminhos depois que a rede social de Elon Musk foi bloqueada no Brasil, da busca por alternativas à completa resignação.
Especialistas apontam que o afrouxamento de políticas de moderação desde a aquisição do bilionário deixou a plataforma menos atrativa para marcas e criadores, com exceção, entre outros, do ramo de conteúdo adulto reportagem da Folha de S.Paulo mostra que a rede social era o principal meio de divulgação para criadores de OnlyFans e Privacy.
Outros profissionais, ainda assim, utilizavam a rede para prospectar clientes, construir reputações e participar de debates acadêmicos. Hoje, eles se dividem entre outras redes sociais e formas de ainda aproveitar, dentro dos limites da lei, os benefícios do X.
O jornalista José Norberto Flesch chegou a acumular mais de 500 mil seguidores no X graças à rotina de anunciar datas de shows no Brasil. Sem a rede social onde tinha o maior público, ele volta agora os olhos para plataformas como o Instagram, Threads e TikTok.
“Só no Instagram, recebi 12 mil seguidores desde o banimento do X. Estou curtindo”, disse. Ele afirma que, mesmo com o grande número de seguidores e interações, faturava algumas dezenas de reais, quantia insuficiente para tirar o sustento da plataforma.
A quantidade maior de interações também trazia comentários de haters ou pouco relacionados às publicações, segundo o jornalista. “No Instagram, o pessoal é mais focado.”
Outras redes ainda não conseguem preencher a lacuna deixada para participantes da banda brasileira do “EconTwitter”, bolha povoada por acadêmicos que compartilhavam e discutiam tópicos de economia e políticas públicas.
O economista Pedro Fernando Nery assina a newsletter “Best of Econtwitter”, que resume e envia, por meio de prints, todos os assuntos populares na comunidade, que reúne acadêmicos de todo o mundo.
A saída dos brasileiros do EconTwitter não deve mudar muito os debates reportados, segundo ele, e a newsletter deve servir como meio de ficar informado dos assuntos mais quentes na área mesmo estando fora do X.
“O debate doméstico tende a migrar para outras plataformas, como o Bluesky e grupos de WhatsApp”, afirma.
O receio de perder conteúdos relevantes na área de atuação também marca a experiência de Priscila Brito, fundadora do Festivalando, site especializado em festivais de música.
“Sinto falta de contas estrangeiras que eram do meu nicho. Usuários brasileiros migraram para o Bluesky ou Threads, mas o resto do mundo continua no X”, diz. “Dá uma certa sensação de isolamento.”
Para quem dependia da plataforma para monetizar conteúdo, as oportunidades já eram escassas antes mesmo do bloqueio da rede social, na avaliação de Rafa Lotto, sócia Youpix, consultoria especializada na economia de criadores.
“A cada ano após a compra de Elon Musk, foi caindo o número de marcas que faziam ações de influência usando o X”, diz Lotto.
Uma das principais implementações do magnata da tecnologia na rede social foi um programa de monetização para criadores no qual o usuário deveria, entre outras exigências, contar com a assinatura do serviço Premium da plataforma.
“Eu era verificado no Twitter antigo e senti um forte corte do meu alcance. Assinei o Premium e, mesmo assim, ainda demorei para ter o engajamento de volta”, diz o jornalista e criador de conteúdo de esportes Allan Simon.
Ele conta que, apesar de integrar o X à estratégia de marca e usá-lo para acompanhar notícias sobre mídia esportiva e se comunicar com leitores, a rede social não tinha grande impacto em termos de métricas.
“Criei perfis no Bluesky e no Threads e segui fazendo o meu trabalho”, diz.
Pesquisa recente feita pelo instituto Kantar aponta que 26% dos publicitários no mundo planejam diminuir os seus gastos com marketing na ferramenta graças a conteúdos extremistas postados na rede social.
A pesquisa indica que a confiança dos anunciantes na plataforma despencou em 2023, com apenas 4% dos profissionais de marketing dizendo que os anúncios no X eram “seguros para a marca”, em comparação com 39% obtidos pelo Google.
Para Lotto, da Youpix, a tendência é que marcas e criadores profissionais, que dependem da monetização das plataformas e de publicidade, se concentrem o Threads. A rede social da Meta colheria frutos de uma tradição comercial mais forte do Instagram, do mesmo grupo empresarial, que oferece aos usuários contas interligadas.
“As marcas não sabem como anunciar no Bluesky”, afirma.
LAURA INTRIERI / Folhapress