Órgão do MEC deixa servidores sem salário após ‘erro sistêmico’

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Servidores do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) ficaram sem pagamento por causa de um erro interno no processamento da folha. Os salários deveriam ter sido depositados nesta sexta-feira (1º), mas isso não ocorreu.

Os funcionários do FNDE seriam os únicos servidores da Esplanada a ficarem sem salário até agora. O órgão, ligado ao MEC (Ministério da Educação), é responsável por transferências bilionárias de recursos para todo país, para custear de obras de escolas a livros didáticos. O FNDE tem 606 servidores em exercício, segundo dados do Portal da Transparência, e todos estariam sem os salários deste mês.

Questionado sobre o atraso, o fundo não respondeu até a publicação deste texto.

De acordo com mensagens distribuída internamente, houve um “erro sistêmico no processamento da folha de pagamento” do FNDE. “O pessoal do financeiro está ciente e adotando as medidas cabíveis para resolver”, diz a mensagem.

Em outro texto enviado pelo comando do órgão, os servidores foram informados de que a regularização do problema só ocorrerá no próximo dia útil (segunda-feira, 4). As diretorias de Administração e Financeira estariam trabalhando para a regularização.

O problema é atribuído, segundo essa mensagem, a “intercorrências no processamento” da folha de pagamento.

PROBLEMAS DE GESTÃO

O FNDE sofre, ao menos desde o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), com falta de pessoal e problemas de gestão.

No governo passado, o órgão, que era controlado por políticos do centrão, chegou a errar transferências bilionárias para prefeituras, como a Folha de S.Paulo revelou.

Em 2021, o FNDE errou cálculos do Fundeb (principal mecanismo de financiamento da educação básica) que provocaram equívocos em transferências de R$ 766 milhões -alguns estados e prefeituras receberam mais, enquanto outros perderam. Também deixou alunos de fora no cálculo de divisão de recursos.

Antes, em 2019, uma falha na distribuição de um recurso chamado Salário-Educação entrou na mira do TCU (Tribunal de Contas da União). O erro foi da ordem de R$ 1 bilhão.

O ministro da Educação, Camilo Santana, colocou na presidência do órgão uma pessoa de sua confiança, frustrando o apetite do centrão pelo comando do fundo. Ex-secretária da Fazenda do Ceará, Fernanda Pacobahyba chegou ao FNDE em janeiro e teve autonomia para montar sua equipe.

Mas, mesmo com a mudança de governo, o FNDE ainda enfrenta problemas de gestão e infraestrutura, segundo relatos recebidos pela reportagem.

A operacionalização de várias tarefas e transferências, por exemplo, ainda são realizadas com Excel, e poucas pessoas são preparadas para determinadas atividades.

As falhas registradas durante o governo Bolsonaro abasteceram críticas de petistas à gestão passada, inclusive por causa da influência do centrão -bloco com quem o governo Lula (PT) negocia cargos para tentar garantir sucesso nas votações no Congresso.

O FNDE faz a gestão de recursos bilionários de transferências, como o Fundeb, o Salário-Educação, programas de merenda, transporte e livro didático. Dinheiro para obras de educação, como a construção de creches, também é de responsabilidade do órgão.

Saíram do fundo os recursos direcionados aos kits robóticas, que entrou na mira da Polícia Federal. Transferências negociadas por pastores ligados a Bolsonaro também eram do FNDE.

Até agora, o MEC e os órgãos vinculados, como o FNDE, têm sido blindados pelo presidente Lula nas negociações para abrir espaço para o centrão dentro do governo. O FNDE sempre seduz os políticos do bloco por causa de sua capilaridade de atuação e do volume de recursos operados.

MATHEUS TEIXEIRA E PAULO SALDAÑA / Folhapress

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