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Oscar Murillo explora universalidade com obra colaborativa na Paulista

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ao som de música, dos ruídos da cidade e de conversas agitadas, pessoas se debruçam sobre telas em branco, imensas, prostradas na avenida Paulista, na altura do Museu de Arte de São Paulo, o Masp. Ao lado, estão lápis, gizes de cera, canetinhas e outras ferramentas de desenho.

Pessoas de todas as idades se dedicam ao painel e o resultado é uma obra coletiva, com novos traços, cores e estilos que variam a cada adição.

“Historicamente, se você olhar para o desenho, ele foi o primeiro meio de comunicação”, diz o colombiano Oscar Murillo, artista plástico que idealizou a interação “Social Mapping”, ou mapeamento social, que aconteceu na última segunda-feira (21). “Por meio do desenho, deste tipo de performance, eu quero experimentar.”

O artista é um dos convidados à 36ª Bienal de São Paulo, que ocorre de 6 de setembro a 11 de janeiro de 2026. Durante a feira, Murillo repetirá a ação: os visitantes serão convidados a criar por cima das folhas batizadas na Paulista durante a Bienal.

Nascido em La Paila, na Colômbia, Murillo cresceu no Reino Unido e tem o intercâmbio cultural como tema-chave em sua obra. Ele se tornou célebre por instalações, performances e pinturas, telas em grande escala de abstracionismo expressivo, com foco no uso de cor e textura. Em seus trabalhos, ele costuma usar materiais diversos como fragmentos de metal, argila, cornés, entre outros.

Em “Social Mapping”, Murillo deixa o público falar por si. Simples rabiscos convivem com expressões mais elaboradas –autorretratos, São Jorge enfrentando o dragão, escudos de times de futebol, personagens de anime e até uma representação do sistema digestivo– e encapsulam a diversidade de uma metrópole como São Paulo.

“O Brasil é um continente e São Paulo é um país, devido à imensa escala dos lugares. O projeto está brincando com a ideia da universalidade”, explica Murillo.

Além da arte pictórica também se encontram palavras de ordem e outros escritos –”black power”, “Jesus te ama”, “saudades Ygona”, e corações com os nomes de casais apaixonados. Às 15h, quando as folhas foram recolhidas, havia um quebra-cabeça colorido e plural.

Segundo Murillo, a Paulista foi escolhida por ser, em sua extensão de quase três quilômetros e média de 1,5 milhão de visitantes por dia —um lugar onde todo tipo de pessoa se reúne, assim como o parque Ibirapuera, onde fica a Fundação Bienal.

A ideia para o trabalho veio do tema da Bienal, “Nem Todo Viandante Anda Estradas: Da Humanidade como Prática”, concebido por Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, curador de arte e escritor camaronês.

“Bonaventure diz que, para conjugar a humanidade como um verbo, o indivíduo precisa escutar o mundo”, conta o artista, que vê São Paulo –e a costa do Brasil– como uma “membrana de osmose”, que pode ser permeada por diversas influências, vindas do Atlântico ou do próprio interior do país.

Assim, Murillo captura o espírito, o zeitgeist de um local. Não é a primeira vez que o artista propõe esse tipo de interação. No ano passado, realizou “Flooded Gardens”, ou jardins inundados, instalação participativa onde o público era convidado a criar ondas de água sobre uma tela em branco no Tate Modern, museu de arte contemporânea em Londres.

Em sua última vinda ao Brasil, no ano passado, Murillo já explorava a ideia de camadas. O artista expôs obras feitas a partir de fragmentos reciclados de pinturas descartadas ou inacabadas, justapostas como um tabuleiro de xadrez, criando uma malha de diversas cores e texturas.

A mostra, “Xeque-mate(s)”, exibida no contexto da feira SP-Arte, colocou o artista em diálogo com alguns dos principais nomes do modernismo brasileiro, como Lygia Clark, Hélio Oiticica, Cildo Meireles, Geraldo de Barros, entre outros.

Outro projeto semelhante é “Frequencies”, ou frequências. Neste, Murillo leva a escolas telas em banco, que ficam prostradas em carteiras. Crianças tinham uma missão: a de pintar, rabiscar, desenhar, enfim, o que desse na telha. Desde 2013, o projeto já envolveu mais de cem mil estudantes, criando um arquivo de arte colaborativa global.

E, a interação proposta nesta segunda-feira –que teve sua primeira sessão em São Paulo– passa ainda por Zimbábue, Colômbia, Nova York, Porto Rico, Marrocos, Filipinas, entre outros lugares. Durante a Bienal, o público terá o poder de pegar a criação artística em suas próprias mãos, tornando o espaço um reflexo de seus anseios e vontades.

“Por isso, será um mapeamento social”, diz o artista. “O indivíduo se torna um recipiente no contexto de São Paulo, torna-se um recipiente capaz de contribuir. Este é meu desejo aqui”.

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Colaborou Beatriz Ferreira

LARA PAIVA / Folhapress

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