Otan intercepta bombardeiros russos em treino do Báltico ao Pacífico

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O maior exercício da Marinha russa desde a Guerra Fria entrou na fase de simulação de ataques aéreos em apoio a operações navais, levando caças da Otan a serem mobilizados para interceptar bombardeiros de Vladimir Putin.

O incidente ocorreu no mar Báltico, segundo o Ministério da Defesa da Rússia. Dois bombardeiros estratégicos e de ataque marítimo Tu-22M3 voavam por lá escoltados por caças Su-30SM quando foram interceptados.

A pasta não divulgou a nacionalidade dos caças, mas em um dos vídeos gravados de dentro dos Tu-22 divulgados é possível ver um F-18 da Finlândia acompanhando um Su-30. O país nórdico se uniu à aliança militar ocidental no ano passado.

É o tipo de manobra que ocorre com muita frequência em todas as áreas disputadas do mundo, com o risco acompanhado de um acidente provocar uma escalada. O gigantesco escopo do exercício Oceano-2024, que começou na terça (10) e vai até a segunda (16), aumenta os perigos.

Ainda naquela região, bombardeiros táticos Su-24 e caças Su-30 da Frota do Báltico atacaram posições em terra em Kaliningrado, exclave russo entre a Polônia e a Lituânia que sedia aquela unidade militar.

Além da missão no Báltico, outros dois Tu-22M3 voaram durante cinco horas sobre águas do Pacífico próximas da península de Kamtchatka, no Extremo Oriente russo. Eles foram acompanhados por caças Su-35 e Su-30.

Não houve incidentes por lá, assim como bombardeiros estratégicos Tu-160 voaram por nove horas sem interceptação relatada no Ártico, nos mares de Barents e da Noruega. Em todos os casos, foram treinados ataques a alvos marítimos com mísseis de cruzeiro. Os dois modelos empregados lutam na Guerra da Ucrânia e têm capacidade de lançar armas nucleares.

O megaexercício visa lustrar a reputação da Marinha russa, que teve seu comando trocado neste ano após os sucessivos reveses na sua Frota do Mar Negro. A unidade, que domina a região em torno da Ucrânia, viu quase metade de suas embarcações afundadas ou danificadas, segundo contas dos EUA, por um rival que nem Marinha de fato tem —as ações de Kiev envolvem drones marítimos e ataques aéreos.

Quase toda a frota nominal russa está envolvida no Oceano-2024, com 400 de 441 embarcações participando, além de 120 dos 208 aviões da força naval. Cerca de 90 mil militares participam dos exercícios.

Eles ocorrem em diversos teatros. Só nesta quinta, navios russos e da China fizeram exercícios com munição real no mar do Japão, demonstrando a crescente coordenação entre os aliados da Guerra Fria 2.0 contra EUA e Ocidente.

Ao mesmo tempo, a Flotilha do Cáspio simulou ataques com mísseis costeiros antinavios, enquanto a força-tarefa que fica estacionada na Síria participou também de simulações com munição de verdade envolvendo três fragatas e um submarino diesel-elétrico no Mediterrâneo.

A Marinha russa já dividiu com a dos EUA o posto de mais poderosa do mundo, na Guerra Fria encerrada com o ocaso soviético de 1991.

De lá para cá, sofreu redução de frota e várias perdas, sendo ultrapassada pelos chineses em capacidade de superfície. Passou por alguns vexames, como a perda do submarino nuclear Kursk em 2000 e os enguiços de seu único porta-aviões, o Kuznetsov.

Ainda assim, foi bastante modernizada, e mantém uma frota de submarinos para ataque com mísseis nucleares que só tem par nos EUA, e de tempos em tempos se exibe para os americanos no Caribe. É a primeira Marinha a operar mísseis hipersônicos, mas sofreu o dano reputacional no mar Negro, que Putin busca reverter com o Oceano-2024.

IGOR GIELOW / Folhapress

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