SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ouro despenca com eleição de Trump, setor de saúde é o mais resiliente da bolsa brasileira, e as perdas de Nike e Adidas com a ascensão de novos concorrentes e outras notícias do mercado para começar esta segunda-feira (18).
O PORTO CHINÊS NO PERU
O que um porto no Peru construído por uma empresa chinesa tem a ver com o Brasil? Muito e explico na edição de hoje.
O que aconteceu: o líder Xi Jinping esteve na inauguração do megaporto no Peru, que logo deve ser o maior do continente. Chancay, a cidade que recebeu a obra gigantesca, fica 78 quilômetros ao norte da capital peruana, Lima.
↳ A obra levou oito anos e custou US$ 3,4 bilhões (cerca de R$ 19,7 bilhões).
Tempo é dinheiro. Agora, a duração da viagem de cargueiros do Peru para a Ásia deve cair de 40 para 28 dias. O escoamento de mercadorias, sobretudo agrícolas e minérios, será facilitado, assim como a importação de bens e tecnologias chinesas.
Quem paga? O investimento foi feito pela Cosco Shipping Company, estatal chinesa que faz o transporte de containers. Ela está presente no Brasil.
Por que lá? A localização geográfica promete facilitar o comércio entre os países sul- americanos e a China. O porto é uma das obras da chamada Nova Rota da Seda.
↳ Esse programa lançado em 2013 é uma das grandes apostas da China para ampliar o comércio e sua influência global.
E o Brasil? Pode usar o porto para escoar exportações com destido à Ásia, principalmente as da região Oeste, grande produtora de soja comprada pelos chineses.
↳ Em março, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, esteve no Peru para “conhecer os planos e estratégias para impulsionar as rotas de integração sul-americana”.
Pequim espera que o governo brasileiro confirme a entrada do país na Rota da Seda. Oferece investimentos como o do porto peruano. O convite será discutido está semana entre Xi e Lula em Brasília.
“Os chineses querem discutir conosco a Rota da Seda e nós vamos discutir. Nós vamos dizer: o que tem para nós? O que eu tenho com isso? O que eu ganho?”, disse Lula em agosto, durante evento na CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Presença chinesa. Países da Europa e, principalmente, os EUA veem as obras chinesas como mais um sinal do avanço do país na América do Sul. Os asiáticos se tornaram o principal parceiro comercial da maioria dos países do continente.
↳ Com Trump à frente dos EUA, as cartas no jogo da guerra comercial entre as duas potências serão redistribuídas. Isso foi assunto de uma edição da newsletter na semana passada (leia aqui).
“Temos visto como a China emprega técnicas predatórias e acaba levando os recursos naturais e aumentando a dependência dos países onde ela se instala” diz Robert Evan Ellis, do Instituto de Estudos Estratégicos do Exército dos EUA
[+] Sobre China e Brasil. Em agosto, os dois países completaram 50 anos de relações diplomáticas.
OURO DESPENCA…
Antes em ascensão, o ouro teve sua pior semana em três anos. O metal acumulava alta de 35% no ano, mas despencou nos últimos dias.
Entenda: a vitória de Trump nas eleições americanas fortaleceu o dólar no mercado internacional, em contraponto ao metal precioso.
Nesta semana, a cotação do ouro caiu 7%, para US$ 2.561 (cerca de R$ 14.853).
Investidores retiraram US$ 600 milhões (algo como R$ 3,5 bilhões) de fundos negociados em bolsa lastreados em ouro na semana das eleições americanas, segundo o Conselho Mundial do Ouro.
Segurança. Com conflitos no Oriente Médio e na Ucrânia, juros altos em diversos países e incertezas na política americana, investidores no mundo todo procuravam segurança investir em ouro garante isso, de certa forma.
Em outubro, a onça troy unidade padrão de medida para o ouro, equivalente a cerca de 31 gramas tinha ultrapassado, pela primeira vez, a marca de US$ 2.700 (R$ 15.660).
Dólar na frente. A vitória de Trump criou expectativas de cortes menores nas taxas de juros norte-americanas e de uma inflação mais alta. Com isso, investidores tentam valorizar a moeda para minimizar perdas.
↳ O ouro é um ativo que não rende. Na prática, investir nele protege valores, e não os multiplica. O metal se beneficia de taxas de juros menores
↳ Com expectativa de patamar alto de juros nos EUA, passa a valer mais a pena investir em fundos do tesouro americano, por exemplo, que protegem contra perdas pela inflação.
Bye,bye Analistas avaliam o movimento de queda do ouro a ação de um tipo específico de investidor: o que pula de galho em galho, procurando o que está em alta.
↳ Eles seguem tendências, e podem estar migrando para investimentos como o bitcoin, por exemplo. Falamos da alta das criptomoedas na edição de sexta-feira.
BEM DE SAÚDE
Nos últimos 14 anos, apenas dez empresas que continuam listadas na bolsa brasileira tiveram crescimento constante de receita líquida ano a ano, até junho. Entre elas, metade é do setor de saúde: RaiaDrogasil, Dasa, Pague Menos, Fleury e Dimed.
↳ O levantamento foi feito pela Elos Ayta Consultoria e divulgado com exclusividade pela Folha.
Por que? O setor de saúde é menos suscetível aos ciclos econômicos. É mais difícil que alguém deixe de comprar um medicamento do que abra mão de uma nova camisa. Isso garante uma demanda estável.
↳ Os produtos e serviços da área abrangem todas as classes sociais, privilégio que poucos setores possuem.
↳ São empresas que recebem muita injeção de capital estrangeiro, o que ajuda a manter uma receita saudável.
Bom lembrar que o crescimento estável tratado aqui é o de receita, ou seja, quanto arrecadou a empresa. Em termos de lucro, ou seja, descontando os prejuízos dos ganhos, a história é diferente.
Nenhuma companhia listada na bolsa brasileira manteve a constância em termos de lucros.
Um caso à parte. A RaiaDrogasil se deu muito bem ao expandir seu território e aumentar a quantidade de lojas no país. Isso ampliou a cartela de clientes e garantiu mais vendas.
↳ As antigas Droga Raia e Drogasil se fundiram em 2011, abrangendo a totalidade dos acionistas das duas empresas, criando uma terceira.
↳ Em 2025, a RaiaDrogasil troca de comando. Marcílio Pousada passará cargo de CEO para Renato Raduan, que se tornará presidente do conselho de acionistas.
De tudo um pouco. A diversificação dos produtos impulsionou as vendas em farmácias. Cosméticos, itens de perfumaria, acessórios e maquiagem são vendidos nas lojas.
Não é todo mundo. A expansão no mercado da saúde ficou reservada às farmácias, empresas de medicamentos e laboratórios. Os planos de saúde estão fora dessa realidade.
Desde 2022, a inflação médica está pressionando a receita de fornecedoras do setor. Um exemplo é a Prevent Senior, que anunciou em setembro que venderia sua operação no Rio de Janeiro por R$ 1 bilhão.
Inflação médica é o termo usado pelo setor para descrever a variação dos custos das operações dos planos: serviços médicos, medicamentos, produtos hospitalares e frequência de uso.
NIKE E ADIDAS COMEM POEIRA…
As duas maiores marcas de itens esportivos do mundo, Nike e Adidas, estão com seus lugares no pódio ameaçados.
Calma Não é como se, de repente, elas fossem deixar seus postos na liderança do mercado. No entanto, é a primeira vez em muito tempo que marcas menores preocupam com alguma efetividade as duas gigantes.
As novidades são as marcas especializadas em tênis de luxo e tecnologia para corrida, como a On e a Hoka. No Brasil, das marcas custam de R$ 949,00 a R$ 3.100.
A On relatou crescimento de 32% no terceiro trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior. A empresa tem um valor de mercado de US$ 17 bilhões (R$ 98,3 bilhões).
A Hoka, marca da fabricante de calçados Deckers, impulsionou o crescimento das vendas da empresa que a controla no primeiro trimestre deste ano, que cresceram 30% em relação ao mesmo período do ano passado.
O diferencial. As marcas clássicas também oferecem tênis mais caros e com alta tecnologia para atletas. A diferença é que as novatas sabem atrair aqueles que querem estar sempre à frente nas tendências.
↳ A On vendem conforto tecnológico. A última linha de tênis ultraleves da marca são fabricados por braços robóticos.
Um dos co-proprietários da empresa é Roger Federer. A imagem do tenista foi importante na ascensão da marca, associando-a com o sucesso esportivo e com o luxo.
↳ A Hoka se destaca ao desenvolver produtos para cada tipo de prática no atletismo: corrida urbana, corrida de trilha, os que garantem maior velocidade, ou estabilidade.
Ela vende chinelos que ajudariam na recuperação dos pés pós treinos e provas intensas.
Efeito A Nike sofre com a ascensão das novas rivais. Em outubro, a empresa divulgou balanço trimestral com queda de 10% nas vendas.
Em junho, a empresa viu o valor das suas ações despencarem nas negociações, após a divulgação da expectativa da baixa das vendas em 2024.
A empresa anunciou uma troca repentina de CEO. John Donahoe se aposentou em outubro, substituído por Elliot Hill, veterano na empresa.
Nem tudo é novidade. Marcas conhecidas, como a New Balance e a Asics, também estão aumentando sua popularidade.
Mais adeptos. E se você achou que há mais gente no seu Instagram às 7h da manhã para correr, sua impressão pode estar certa. O esporte ganhou mais adeptos nos últimos anos.
A maratona de Londres, criada em 1939, e a de Nova York, inaugurada em 1970, alcançaram neste ano recordes históricos de participação.
Em 2023, a Strava, plataforma que monitora o desempenho de atletas, divulgou que a corrida foi o esporte mais praticado do ano.
Redação / Folhapress