RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Um dos pacientes que recebeu órgãos infectados por HIV está internado desde domingo (20) no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), no Rio de Janeiro. O homem de 75 anos recebeu um fígado em maio.
O laboratório PCS Lab Saleme está sob investigação após serem constatados erros nos exames feitos na clínica, que fizeram com que os pacientes recebessem transplantes infectados com o vírus. Os exames deram falsos negativos para HIV.
O caso está sendo investigado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro.
Segundo um dos familiares, que preferiu não se identificar, o homem está internado no CTI (Centro de Terapia Intensivo) e entubado. Na sexta-feira (19) e no sábado (20), ele havia apresentado em casa quadro de cansaço e saturação baixa de oxigênio.
Os filhos acionaram, no domingo, equipes da secretaria estadual de Saúde, que montou um gabinete de crise para atender aos transplantados.
A família afirma que médicos investigam quadro de pneumonia e descartam relação direta com o fígado recebido. Procurada, a Fiocruz não respondeu até a publicação da matéria.
O homem soube do órgão infectado no dia 8 de outubro, após uma bateria de exames realizada a pedido da médica responsável pelo transplante. Àquela altura o caso já havia chegado à secretaria estadual de Saúde. A imprensa divulgou a história três dias depois, no dia 11.
Nove pacientes receberam órgãos e tecidos com HIV, dos quais seis foram infectados. Dois receptores não foram infectados e um morreu após o procedimento. Os outros estão recebendo tratamento em hospitais da Bahia e do Rio de Janeiro.
Segundo pessoas ouvidas pela reportagem, alguns familiares dos pacientes já conversaram entre si e planejam, através de advogados, uma ação coletiva na Justiça.
Foram dois doadores infectados com HIV: um homem de 28 anos e uma mulher de 40. Coração, rim, córnea, fígado foram os órgãos doados.
Estão presos os técnicos Ivanilson Fernandes dos Santos, Cleber de Oliveira Santos e Jacqueline Iris Bacellar de Assis, além do ginecologista Walter Vieira, um dos sócios, e Adriana Vargas dos Anjos, bióloga e coordenadora técnica do laboratório.
A coordenadora foi acusada por funcionários de ter dado ordem para economizar no controle de qualidade. O advogado Leonardo Mazzutti Sobral, que representa a bióloga, afirmou que Anjos “não recebeu e tampouco emitiu qualquer ordem para reduzir a periodicidade de atos relativos a controle de qualidade”.
Nos depoimentos de sócios e funcionários do PCS Lab, nenhum dos envolvidos assumiu a culpa pelos erros nos exames que resultaram na infecção de seis pessoas por órgãos e tecidos transplantados com o vírus HIV.
A principal linha de investigação, até o momento, sugere que houve redução no controle dos reagentes com o objetivo de aumentar o lucro. No entanto, ninguém assumiu a responsabilidade por essa ordem, enquanto outros negam que a redução tenha ocorrido.
YURI EIRAS E BRUNA FANTTI / Folhapress