MACEIÓ, AL, E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Francisco Pedro dos Santos Neto, 60, teve de retirar o globo ocular após complicações em uma cirurgia de catarata realizada em Parelhas, no Rio Grande do Norte. O município fica a 245 km de Natal.
Ele foi um dos oito pacientes que precisaram remover o olho ao menos 15 tiveram complicações após um mutirão de cirurgias realizado no fim de setembro.
A informação foi confirmada pela Secretaria de Saúde do município nesta terça-feira (15). Foram realizadas 20 cirurgias no dia 27 de setembro e 28 no dia 28 de setembro, totalizando 48, na Maternidade Dr. Graciliano Lordão.
Em conversa com a reportagem, Francimar Pedro dos Santos, 31, filho de Francisco, explicou a situação do pai, que aguardava a fila há algum tempo. Segundo ele, para zerar essa fila de espera, houve o mutirão.
De acordo com ele, depois da cirurgia, foi identificado que houve uma infecção por uma bactéria em alguns pacientes e, entre os infectados, alguns, como Francisco, tiveram de tirar o globo ocular para que não houvesse prejuízo ao olho sadio ou até mesmo ao cérebro.
“É algo muito assustador. Temos um familiar sem um olho agora. É algo inexplicável. É uma dor que afeta toda família. Mexe com o psicológico, a saúde mental. Foi um momento de choque, de desespero, e que coube a nós [os cuidadores] contar aos pacientes”, disse.
Francimar lembra que houve um tratamento para tentar matar a bactéria, com três aplicações de fármacos no olho, e que Francisco recebeu alta no dia 5 de outubro, acreditando que tinha resolvido o problema. Pouco tempo depois, a família resolveu levá-lo a um hospital particular e foi constatada a necessidade da remoção do olho.
Ele foi levado ao Hospital Walfredo Gurgel, em Natal, e passou cerca de três horas em cirurgia. No momento, Francimar está em casa e aguarda para ver o que será feito em relação ao problema.
“É revoltante ver meu pai sem um olho, por tudo o que passou. Era uma felicidade para ele fazer essa cirurgia e agora teve que arrancar o olho. Embora tenhamos apoio, como compras de medicamento e que arquem com consultas, é um momento muito doloroso”, complementou.
Questionada, a Secretaria de Saúde do Rio Grande do Norte afirmou que abriu procedimento de acompanhamento do caso no dia 4 de outubro, mas que ele ainda está em fase de levantamento de informações.
A Prefeitura de Parelhas confirmou os números de pacientes afetados. “Lamentavelmente, 15 pacientes apresentaram sintomas de endoftalmite, uma infecção ocular causada pela bactéria Enterobacter cloacae”, disse em nota.
De acordo com a prefeitura, do total de pacientes infectados, oito perderam o globo ocular, quatro efetivaram o procedimento de vitrectomia remoção do vítreo, um fluído gelatinoso e transparente que preenche o globo ocular, e três fazem acompanhamento em casa, com mais de 80% do quadro solucionado, mas ainda não conseguem enxergar.
O município afirmou que as cirurgias foram realizadas dentro da legalidade e que está arcando com todos os atendimentos e procedimentos médicos necessários aos pacientes afetados. Informou ainda que abriu inquérito civil público e começou a ouvir as pessoas envolvidas no caso nesta terça-feira (15).
Além disso, serão realizados testes pelo Lacen (Laboratório Central de Saúde Pública) para determinar onde ocorreu a contaminação. “A investigação abrangerá a água utilizada, o centro cirúrgico, o processo de esterilização e outros possíveis fatores, conforme solicitado pela Suvisa (Superintendência de Vigilância Sanitária)”, que já realizou vistoria técnica.
A empresa Oculare Oftalmologia Avançada LTDA, contratada para realizar as cirurgias, afirmou que o mutirão foi conduzido por “oftalmologista experiente, tendo seguido os protocolos médicos e de segurança exigidos”.
“Assim que os primeiros casos de complicações foram relatados, a equipe médica prontamente reavaliou todos os pacientes e tomou as medidas necessárias para o tratamento imediato, disponibilizando serviço médico especializado em tempo integral”, disse em nota.
Ainda de acordo com a empresa, amostras biológicas foram coletadas e uma investigação é conduzida pela Suvisa para entender o que poderia ter levado às infecções nos pacientes operados.
JOSUÉ SEIXAS E ALÉXIA SOUSA / Folhapress