RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – Dez anos após a morte do garoto Joaquim Ponte Marques, à época com 3 anos, o padrasto Guilherme Raymo Longo foi condenado na noite deste sábado (21) depois de seis dias de julgamento em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo). A mãe do menino, a psicóloga Natália Mingoni Ponte, foi inocentada. Cabe recurso.
A morte do menino é considerada um dos crimes mais chocantes da história da cidade do interior paulista. Ele desapareceu em 5 de novembro de 2013 e seu corpo foi encontrado cinco dias depois, no rio Pardo, em Barretos (a 423 km de São Paulo).
A denúncia do Ministério Público sustentava que Longo matou o enteado, que era diabético, com uma alta dosagem de insulina, dentro de casa, e depois jogou o corpo no córrego Tanquinho, distante cerca de 200 m da residência. De lá, o corpo teria sido levado até o ribeirão Preto, afluente do rio Pardo.
Ele foi condenado por homicídio triplamente qualificado –motivo fútil, meio cruel e recurso que impossibilitou a defesa da vítima–, conforme decisão anunciada pelo juiz José Roberto Bernardi Liberal.
Desde segunda-feira (16), quando teve início o julgamento, foram ouvidas cerca de 30 pessoas, entre familiares dos dois acusados, peritos, médicos e o pai de Joaquim, Arthur Paes Marques.
Os depoimentos considerados mais importantes foram nesta sexta (20), dos dois acusados. Natália falou por pouco mais de três horas e disse que acreditava que Longo tinha matado seu filho.
Já o acusado, que também prestou depoimento por mais de três horas, disse que tinha fugido para a Espanha, em 2016, para escapar da ameaça de traficantes, além de comentar sobre consumo de drogas –foi numa clínica de reabilitação que ele conheceu Natália.
Longo tinha sido acusado exatamente por homicídio triplamente qualificado, enquanto Natália foi julgada por omissão. No entendimento do Ministério Público, ela tinha capacidade para afastar a criança do convívio com o companheiro, mas não o fez. Ela respondia em liberdade.
Nesta sexta, último dia de depoimentos de testemunhas, antes mesmo do depoimento de Natália o advogado Alexandre Durante, assistente de acusação, disse que a omissão da mãe do menino já estava caracterizada.
“A mãe do Guilherme comunica ela 20 dias antes que iria internar o Guilherme, e ela traz para si essa responsabilidade”, disse Durante. A defesa dela sempre negou omissão.
Em 2016, Longo já havia confessado, numa entrevista, ter matado a criança. Disse ter comprimido a lateral do pescoço para que ele desmaiasse sem dor e que o objetivo era melhorar o relacionamento com a mãe de Joaquim. Sua defesa, porém, sempre manteve a posição de inocência na morte.
A decisão foi proferida por um júri formado por sete pessoas, a maioria mulheres, sorteados entre 25 selecionados na última segunda.
No primeiro dia, foram seis depoimentos, entre eles os do médico que identificou que Joaquim tinha diabetes e precisava de insulina, dos policiais que atenderam o caso e do pai do garoto, Arthur.
Desde o início do julgamento, o advogado Antônio Carlos de Oliveira, defensor de Longo, afirmava que não havia nos processos nenhuma prova que incriminasse seu cliente.
Já o advogado Nathan Castelo Branco, defensor de Natália, afirmou no início do julgamento que o objetivo era convencer os jurados de que a acusação contra a mãe do menino não procedia e que ela seria absolvida para que pudesse “viver o luto” da perda de Joaquim.
Neste sábado, o promotor Marcus Túlio Nicolino e Durante argumentaram aos jurados os motivos pelos quais entendiam que Longo e Natália deveriam ser condenados. Na sequência, já no início da tarde, foram apresentados os argumentos da defesa de Natália e, em seguida, de Longo.
Após as réplicas da acusação e da defesa, os jurados se reuniram para decidir.
A TRÁGICA HISTÓRIA
Natália trabalhava em uma clínica de reabilitação em Ipuã, na região de Ribeirão Preto, onde conheceu Longo, que estava internado no local para tratamento.
Eles começaram a se relacionar e foram morar juntos no início de 2013, quando Natália engravidou pela segunda vez. Joaquim tinha três anos de idade.
De acordo com a denúncia da Promotoria, Longo voltou a usar drogas logo após o nascimento do filho do casal.
Na mesma época, Joaquim foi diagnosticado com diabetes, e Longo teria começado a demonstrar um comportamento agressivo por ciúmes de Natália. Ainda segundo a acusação, ele reclamava dos cuidados que ela tinha com o filho e do contato que mantinha com o ex-marido, pai de Joaquim.
Em 5 de novembro de 2013, a família procurou a polícia para comunicar o desaparecimento da criança. Na ocasião o casal alegou que acordou e não encontrou o menino em casa. Cinco dias depois, o corpo da criança foi achado no rio Pardo, em Barretos.
A investigação da Polícia Civil apontou que, na noite de 4 de novembro, Joaquim estava no quarto com a mãe, o padrasto e o irmão recém-nascido. O menino estava assistindo a desenhos no celular, quando Natália dormiu com o bebê.
Longo teria se irritado com Joaquim após o menino começar a chorar quando tirou o celular de suas mãos. O homem então teria levado a criança para o quarto ao lado, onde, segundo a polícia, teria injetado uma superdosagem de insulina nele.
A acusação diz que, ao perceber que o menino estava morto, Longo teria saído de casa e jogado o corpo da criança no córrego Tanquinho, que desagua no ribeirão Preto, afluente do Pardo.
A mãe e o padrasto afirmam que Longo sofria com o vício em drogas e que Joaquim teria sumido de casa naquela madrugada, quando o homem saiu para comprar cocaína.
Natália foi denunciada por suposta omissão e chegou a ser presa. Depois foi liberada e desde então respondeu em liberdade. Segundo a acusação, ela sabia do comportamento agressivo do então companheiro e chegou a dizer que foi ameaçada de morte por Longo.
Longo, por sua vez, está preso na Penitenciária 2, em Tremembé (SP), desde quando foi extraditado pelo governo espanhol. Em 2016, quando estava em liberdade provisória, ele fugiu para a Europa.
MARCELO TOLEDO / Folhapress