Paes anuncia fechamento de feira de Acari e gera polêmica no RJ

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), decretou o fechamento da feira de Acari, na zona norte da cidade, nesta terça (23).

A feira, que não possui autorização da prefeitura para comércio, funciona ao lado da estação do metrô do bairro desde os anos 1970 e é conhecida por oferecer produtos bem abaixo dos preços do mercado —por isso, foi apelidada de “roubatudo”.

Sua popularidade cresceu após ser citada na música W/Brasil (1992), de Jorge Ben Jor, nos versos: “Deu no New York Times / A feira de Acari é um sucesso / Tem de tudo/ É um mistério”.

Como não é legalizada, não há dados de quantas pessoas trabalhem nela. O ponto é procurado por qualquer pessoa que tenha algo para vender.

Em vídeos que viralizaram nas redes sociais, pessoas mostravam produtos com preços bem abaixo aos praticados no mercado, como ar-condicionado novo por R$ 1.000 e televisões pela metade do preço. Alimentos também são encontrados por valores menores, como o litro de leite a R$ 2 e três lasanhas congeladas por R$ 10.

Esse teria sido um dos motivos que fizeram Paes decretar seu fechamento. Segundo o texto do decreto, o fechamento prevê o ordenamento do espaço público; a necessidade do combate a eventos irregulares e sem autorização do município; a comercialização de produtos sem procedência e ao crime organizado.

O decreto de Paes afirma que relatórios de inteligência da Seop (Secretaria Municipal de Ordem Pública) apontaram a ligação da feira com grupos criminosos envolvidos com o tráfico de drogas, roubos de cargas, furto de energia e contrabando.

CRÍTICAS AO FECHAMENTO

A ação é criticada por moradores da região. Segundo eles, alguns comerciantes não possuem ligação com ações criminosas. Além disso, a movimentação na feira traz benefícios ao comércio local.

“Temos a feira como nossa renda, pois são os dias que temos maior número de pessoas para comprar, para conhecer nosso trabalho. Virou uma saída para quem está com a grana curta e tem que sustentar suas famílias”, diz a autônoma Letícia Monteiro, 39. Seu pai possui um bar na rua da feira.

A vizinhança também questiona a decisão do prefeito bem no momento em que o bairro tenta se recuperar dos danos causados chuvas que atingiram o Rio de Janeiro no final da primeira quinzena de janeiro.

“Nosso prefeito está tirando o foco da enchente que castigou o bairro duas vezes em uma semana”, reclama Monteiro.

Stefanie dos Santos Pinho, 36, é decoradora de festas e perdeu todo o material de trabalho na última enchente. Sem o sustento, ela tem se alimentado com refeições doadas por uma igreja próxima e relatar estar com depressão.

“A feira é na porta da minha loja. Então as pessoas que vinham à feira, viam a loja e entravam. Fechei muitas festas assim”, disse.

A comerciante diz ser contra o fechamento da feira, inclusive para quem trabalha com produtos como verduras.

BRUNA FANTTI / Folhapress

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