RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), que busca a reeleição, tenta dissociar as intenções de voto de evangélicos e progressistas de carga ideológica, a fim de barrar o avanço do deputado Alexandre Ramagem (PL) sobre essa fatia do eleitorado na reta final da campanha.
Ele tem destacado que os dois grupos, em que permanece à frente do principal adversário segundo o Datafolha, estão interessados em serviços públicos.
Nos últimos dez dias de campanha, Paes e aliados fizeram movimentos específicos justamente a esses dois grupos. O objetivo é encerrar a fatura no primeiro turno atraindo eleitores do presidente Lula (PT) que ainda pretendem votar no deputado Tarcísio Motta (PSOL) e evitando o avanço de Ramagem sobre os evangélicos, geralmente associados ao bolsonarismo.
A última pesquisa Datafolha, divulgada nesta quinta-feira (3), mostra que Paes apresenta resiliência maior entre os evangélicos do que entre os eleitores de Jair Bolsonaro (PL) em 2022, que venceu na cidade na última disputa presidencial.
No primeiro grupo, ele tem 44% das intenções de voto, contra 28% de Ramagem. Já entre os optaram pelo ex-presidente há dois anos, o candidato do PL vence por 47% a 34%.
Na sexta-feira (27), Paes divulgou uma espécie de “Carta aos evangélicos”, como fez por Lula em 2022. Ele afirma que tem sido atacado por progressistas por se aliar a lideranças cristãs, enquanto pastores são alvos de fiéis pelo apoio à sua candidatura.
“São dois lados da mesma moeda. A moeda da divisão, do conflito, da ideologia que cega”, disse em publicação em suas redes sociais.
As falas são respostas a críticas de aliados de Ramagem a pastores pelo apoio a Paes. Eles passaram a acusar lideranças de terem aderido ao prefeito após receberem patrocínios da prefeitura para eventos evangélicos.
O prefeito tem buscado associar o apoio entre evangélicos aos serviços públicos da cidade, uma forma de dissociar a escolha da ideologia.
“O eleitorado evangélico é quem está andando no BRT. São cristãos, acreditam em Deus e se baseiam em certos valores, mas a vida deles é na Clínica da Família, na escola pública, no transporte público. Na minha opinião, não se diferenciam de um monte de católico, de gente do candomblé e umbanda que precisa do transporte público, precisa da clínica da família”, afirma ele.
A aposta é colar a votação à aprovação de seu governo, cuja taxa é de 46% segundo o Datafolha. Em votos totais, o prefeito tem 54%.
No debate desta quinta-feira (3), promovido pela TV Globo, Ramagem e o deputado Rodrigo Amorim (União) relembraram a apresentação do “cavalo tarado” numa escola municipal.
No episódio, que ocorreu no ano passado, uma dançarina de um grupo, vestida com uma máscara de cavalo, simulou movimentos de galope com conotação sexual ao som do funk “Cavalo no Cio”.
O objetivo de trazer o caso à tona novamente foi tentar afastar conservadores de Paes. O prefeito afirma ter exonerado a diretora responsável pelo caso.
Outro foco de aliados de Paes é tentar atrair um voto útil de eleitores de Tarcísio. Nomes da esquerda como Marcelo Freixo (PT) publicaram em conjunto vídeos em redes sociais defendendo a escolha no prefeito para levar à derrota do bolsonarismo no primeiro turno.
O prefeito, que não participou publicamente da estratégia, busca se distanciar da associação com a esquerda. O objetivo é não afastar os eleitores de Bolsonaro. Para isso, afirma que o apoio de progressistas se deve, também, aos serviços públicos.
“As forças progressistas da cidade estão do meu lado. A gente tem muita coisa que atende à pauta das forças progressistas que se preocupam com transporte público, com moradia popular. É a causa verdadeira progressista. Diminuição da desigualdade, cozinha comunitária, mais creche, mais escola em tempo integral. Essas pautas mais de costume realmente nunca foram pautas defendidas por mim”, disse Paes.
O prefeito já tem 75% das intenções de votos dos eleitores de Lula em 2022, e o candidato do PSOL, apenas 9%.
ITALO NOGUEIRA / Folhapress
