Paes usa ‘Lula Day’ e mira reduto bolsonarista para antecipar corrida por 2024

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), aproveitou a passagem do presidente Lula (PT) pela cidade para já se articular para a corrida eleitoral de 2024. Em um dia só —que foi apelidado pelo carioca de “Lula Day”— Paes fez movimentos para alcançar dois objetivos caros à sua tentativa a reeleição.

O primeiro foi estreitar sua relação com Lula e o PT para garantir o apoio a sua candidatura na próxima eleição. O segundo, aumentar sua popularidade na zona oeste, importante reduto eleitoral que pende hoje para o bolsonarismo.

Nesta quinta-feira (10), a prefeitura organizou dois eventos com o presidente: o lançamento da obra do anel viário de Campo Grande, na zona oeste da cidade, e a visita ao que será o novo Impa Tech (Instituto de Matemática Pura e Aplicada), na zona portuária.

Em ambos, o prefeito anunciou investimentos do governo federal na cidade e oficializou o acordo para restringir os voos no aeroporto Santos Dumont —uma de suas principais pautas do neste ano.

As duas agendas, no entanto, fugiram do tom de impessoalidade que os eventos oficiais costumam ter.

Pelo contrário, poderiam soar como atos de campanha para o atual presidente. Os dois eventos tiveram gritos de “olé, olá, Lula” puxados pelo próprio cerimonial da prefeitura, que em determinado momento chegou a exaltar o presidente como “uma ideia”.

“Lula é uma ideia, que não se prende, não se mata e não se acaba”, disse o cerimonialista do evento, fazendo referência a frase dita pelo petista em 2018, pouco antes de ser preso.

Os jingles de campanhas passadas de Lula fizeram parte da trilha sonora do evento. A organização tocou desde o clássico “Lula lá”, de 1989, até sua versão mais recente, que embalou a corrida presidencial de 2022.

O pano de fundo para o palanque dado a Lula é a tentativa de Paes garantir que o presidente e o PT estejam ao seu lado na eleição municipal de 2024. O prefeito não quer que o partido lance um candidato próprio que possa tirar seus votos.

Pelo contrário, o atual ocupante do Palácio da Cidade visa atrelar cada vez mais sua imagem a Lula para atrair aqueles eleitores mais à esquerda não tão afeitos ao histórico centrista de Paes.

No entorno do prefeito, a aposta é que o presidente sirva como um bom cabo eleitoral e retribua os esforços que o líder do PSD no Rio fez para o petista no segundo turno de 2022.

O PT, porém, já colocou seu preço para isso: quer indicar o vice na chapa de Paes. Caso contrário, afirmam que podem lançar um petista como candidato ou até apoiar o nome indicado pelo PSOL.

A avaliação entre petistas do Rio é que não basta Paes dar palanque ao presidente. Há um receio de que um eventual quarto mandato do prefeito dure apenas dois anos, pois ele deve se licenciar para concorrer ao governo do estado em 2026.

Caso indique como vice de seu grupo, Paes manteria, na visão dos petistas, uma hegemonia política no Rio se conseguir vencer a disputa ao estado daqui três anos —e esse cenário, embora ainda distante, passa longe dos desejos do PT.

O PT ainda não disse quem quer indicar para vice de Paes, mas alguns nomes já foram ventilados. Entre eles, Marcelo Freixo, presidente da Embratur e ex-adversário do prefeito em pleitos passados; o ex-presidente da Assembleia André Ceciliano, que hoje ocupa cargo dentro do Ministérios das Relações Institucionais; e até mesmo Tainá de Paula, secretária municipal de Meio Ambiente.

Ceder a vice, no entanto, não será uma decisão fácil para Paes. Segundo aliados, o prefeito terá que tomar cuidado para não cometer o mesmo que fez na eleição municipal passada. Em 2020, em troca de apoio, Paes escolheu como colega de chapa Nilton Caldeira, na época presidente municipal do PL.

Desde a posse à prefeitura, a relação entre os dois teve diversas turbulências. Caldeira não compareceu aos eventos desta quinta, tampouco foi citado nas cerimônias.

Nos eventos desta quinta, Paes também procurou demonstrar atenção com a zona oeste da cidade. Diferentemente das duas gestões passadas dele, que ficaram marcadas por grandes eventos internacionais no Rio, o prefeito não tem conseguido fazer algo simbólico para deixar registrado na terceira vez que ocupa o posto.

No início do mandato, Paes foi aconselhado por marqueteiros a assumir um papel de “zelador da cidade”, cuidando de questões como asfalto, iluminação e limpeza do Rio. Porém recebeu críticas por focar nas áreas mais centrais e deixar de lado a zona oeste —região em que o prefeito já sofreu resistência no passado.

Preferiu, então, adotar uma nova postura e se concentrar no tema dos transportes. Hoje, uma de suas promessas é melhorar o corredor Transoeste do BRT carioca.

Campo Grande, onde deu início nesta quinta às obras de um anel viário, é o bairro mais populoso do Brasil. Também foi onde Paes teve o pior resultado nas eleições de 2020 e tem sido um reduto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O ex-mandatário já anunciou que escolherá alguém de seu grupo para disputar a prefeitura do ano que vem.

CAMILA ZARUR / Folhapress

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