PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – A 200ª partida de Marta, 38, pela seleção brasileira foi festiva até os 46 minutos do segundo tempo. A estrela do feminina de futebol criou a jogada do gol que abriu o placar contra as japonesas e saiu ovacionada pela torcida aos 39, mandando um beijo para a arquibancada do Parque dos Príncipes.
Então, tudo mudou. Nos acréscimos, o Japão virou o jogo, em uma das derrotas mais amargas da história olímpica. No banco de reservas, Marta levou as mãos à cabeça.
“Agora é continuar focada, porque não acabou o mundo”, desabafou, irritada, após a partida. “O bicho tá pegando, e vai pegar mais ainda. A gente infelizmente acabou vacilando em alguns momentos, o que custou muito caro. Poderíamos estar aqui já comemorando uma classificação.”
O gol da vitória japonesa -um perfeito chute de primeira, por cobertura, da substituta Momoko Tanikawa- se deveu a uma dica que a autora recebeu do pai.
“Antes do jogo, meu pai me contatou e me disse que a goleira brasileira [Lorena] jogava bastante à frente, e que eu deveria mirar nela cada vez mais”, revelou Tanikawa.
Encerrada a partida, Marta formou uma roda com as jogadoras ainda no gramado, sem a presença do técnico Arthur Elias, e, gesticulando muito, conversou com elas. Não revelou o que disse.
O Brasil abriu o placar aos 10 minutos do segundo tempo. Marta lançou a veloz Ludmila, que passou para Jheniffer, livre, marcar. Mérito do técnico Arthur Elias, que pôs tanto Ludmila quanto Jheniffer em campo no intervalo, buscando mais eficiência no ataque.
O Japão tivera a chance de abrir o placar de pênalti nos acréscimos do primeiro tempo, quando Moriya chutou e a bola bateu no braço da zagueira Rafaelle. Mina Tanaka cobrou mal, rasteiro, e Lorena defendeu.
Depois de sair na frente, as brasileiras tentaram segurar o resultado, cada vez com mais dificuldade. O Japão empatou graças ao VAR: Yasmin deu um carrinho na área e a bola bateu em seu braço. A zagueira Saki Kumagai deslocou Lorena na cobrança.
Precisando da vitória, depois da derrota para a Espanha na estreia, as japonesas partiram para o desespero. Aos 50 minutos, Tanikawa aproveitou um passe errado da zagueira Rafaelle e encobriu Lorena, adiantada.
O cansaço da longa viagem de trem de Bordeaux para Paris, na sexta-feira (26), devido à sabotagem da rede ferroviária francesa no dia da abertura dos Jogos Olímpicos, foi um dos fatores para o resultado, segundo o técnico Arthur Elias.
Arthur Elias, porém, se recusou a pôr a culpa de tudo na viagem. “Isso é um desempenho multifatorial. Falaram para mim do ‘apagão da seleção’, essas coisas muito genéricas, muito pobres, que podem dar matéria, mas a análise não pode ser assim, jogar [a culpa] em uma viagem, de maneira nenhuma. O que aconteceu foi que atrasou e teve uma logística horrível de nove horas para um deslocamento que não demora tanto. Mas faz parte da competição.”
O resultado complica a classificação do Brasil para a segunda fase, mas as chances ainda são boas. Das doze equipes que disputam o torneio olímpico feminino de futebol, oito passam às quartas de final: as primeiras e segundas colocadas de cada um dos três grupos e as duas melhores terceiras. O Brasil tem três pontos, da vitória sobre a Nigéria na estreia.
Porém, a Espanha, próxima adversária, é a atual campeã mundial. O jogo será em Bordeaux, na quarta-feira (31). Uma nova viagem de trem, que, segundo o governo francês, desta vez não será problemática: a normalização do tráfego ferroviário foi prometida para o início da semana.
ANDRÉ FONTENELLE / Folhapress