SANTIAGO, CHILE (UOL/FOLHAPRESS) – Uma equipe livre e de resistência. É desta maneira que os torcedores do Deportivo Palestino sentem-se ao poder torcer por um time que exibe as cores da bandeira da própria nação. A liberdade acontece porque o time foi criado e atua em Santiago, no Chile, a maior colônia palestina fora do Oriente Médio.
O clube foi fundado em 1920 por imigrantes que foram ao Chile na época da Guerra da Crimeia. Os palestinos escolheram o país pelo clima similar e, para manter viva a memória do próprio povo, resolveram montar a equipe. O Palestino joga na primeira divisão do futebol chileno e é bicampeão nacional.
O sonho dos fundadores se tornou real e até transcendeu, porque apesar de ser um clube chileno, os palestinos que vivem em Israel tratam o Deportivo Palestino como uma seleção nacional. Para se ter uma ideia da dimensão dessa relação, o muro da Cisjordânia, que separa Israel da Palestina, tem uma pintura do escudo da equipe com a bandeira do Chile ligada ao Estado.
“O presidente Mahmoud Abbas disse que o Deportivo Palestino é como a seleção da Palestina, assim nos veem as pessoas que vivem lá. Nos dias de partida aqui no estádio, as arquibancadas se enchem com bandeiras da Palestina, ou seja, é um apoio muito importante, e sobretudo pela situação que nesta hoje em dia se vive por lá”, comentou José Nabzo, chefe de comunicação do clube.
O reconhecimento é retribuído pelo Palestino. Quando a equipe participou da Copa Libertadores em 2019, e jogou contra o River Plate em casa, o time chileno projetou, na arquibancada do estádio, imagens ao vivo de torcedores reunidos para acompanhar a partida lá da Palestina.
“Aqui, o clube tenta dar voz a esse povo palestino, que obviamente não passa bem. Agora, particularmente com a situação da guerra entre Israel e Hamas, obviamente o clube tem que estar presente passando uma mensagem de apoio. Somos mais que uma equipe, somos todos um povo, porque nosso time não é só sobre futebol”, disse Nabzo.
Tudo isso é um sofrimento para o povo palestino e acontece há muitos anos. A situação atual é bastante complicada, muitas pessoas morreram. Agora, mais do que nunca, o clube tem que dar a cara para que as pessoas vejam há quanto tempo os palestinos chegaram aqui, fundaram o clube e seguimos desde então. Isso significa que a Palestina sempre existiu e vai continuar existindoIgnacio Aguad, diretor do Deportivo Palestino.
No elenco atual, não há jogadores palestinos, mas todos são engajados com a história do clube e sabem a importância do escudo que carregam no peito durante as competições. Antes dos treinamentos, eles fazem um minuto de silêncio em respeito às vítimas da guerra e também promovem ações para ajudar a população que vive na região do Oriente Médio.
“Eu estive lá na Palestina há dois anos e é incrível ver como as pessoas conhecem o clube, os mais novos têm até camisa. As condições de lá não permitem que exista uma seleção profissional, eles precisam sair da Palestina se quiserem jogar como uma equipe nacional, porque Israel não deixa”, comentou Nabzo.
“No nosso clube, eles encontram essa liberdade. Aqui, nós podemos erguer e exibir a bandeira da Palestina e passar a nossa mensagem com toda a tranquilidade do mundo”, concluiu o chefe de comunicação.
BEATRIZ CESARINI / Folhapress