Pandemia derrubou média dos países da OCDE a nível ‘sem precedentes’

SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A pandemia derrubou a qualidade da educação básica globalmente em todas as áreas do conhecimento avaliadas pelo Pisa, uma das principais avaliações do tema do mundo.

Segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), responsável pela prova, a situação fez o resultado cair para níveis “sem precedentes”.

O Pisa 2022 foi divulgado na manhã desta terça (5) em Paris. Esses são os primeiros resultados que permitem comparar o impacto da pandemia e do fechamento de escolas no aprendizado dos alunos em diferentes locais do mundo.

A maior queda verificada foi em matemática. A média dos países da OCDE caiu de 487 pontos, em 2018, para 472, em 2022. A redução de 15 pontos representa uma perda de aprendizado de meio ano escolar na vida dos estudantes.

Em leitura, houve uma queda de 10 pontos. A média dos países passou de 486 pontos para 476 no período. Em ciências, também houve redução na média geral, que passou de 487 para 485 pontos.

O Pisa avaliou 690 mil estudantes de 15 anos, em 81 países e regiões do mundo. Realizada pela primeira vez no ano 2000, a prova, que costumava ser aplicada a cada três anos, foi adiada em um ano por causa da pandemia. Assim, a edição, programada para 2021, foi feita no ano passado.

“Em duas décadas de provas do Pisa, a média da OCDE nunca havia mudado mais do que quatro pontos em matemática de uma edição para outra. Isso é o que torna os resultados de 2022 tão únicos. A queda dramática de performance em muitos países e a pandemia de Covid-19 parece ser um fator óbvio”, diz o relatório.

A média da OCDE é calculada a partir do resultado dos 38 países que fazem parte da organização —em sua ampla maioria, nações mais desenvolvidas. O Brasil não faz parte do grupo.

A entidade, no entanto, destaca que uma análise mais detalhada aponta que a queda de desempenho dos estudantes em leitura e ciências teve início antes da pandemia. A performance dos países da OCDE atingiu seus maiores patamares em 2012 e 2009, mas depois entrou uma rota de queda.

“Isso indica que há problemas de longo prazo que foram potencializados. Por exemplo, trajetórias negativas no desempenho em matemática já começavam a aparecer em 2018 na Bélgica, Canadá, Finlândia, França, Hungria, Islândia, Holanda, Nova Zelândia e na Eslováquia”, diz o relatório.

O Brasil seguiu a tendência dos países da OCDE, com queda nas três áreas, ainda que tenha tido perdas menos acentuadas. A área mais afetada entre os estudantes brasileiros foi matemática, em que a nota caiu de 384 para 379, entre 2018 e 2022. Há dez anos, a média brasileira na área era de 389.

Mesmo com a piora nas médias, o Brasil conseguiu melhorar sua posição no ranking em relação aos demais países. Em matemática, passou do 71º lugar para 65º, mas ainda segue diante da média da OCDE, que foi de 472 pontos, e continua atrás de países como a Arábia Saudita, Peru, Costa Rica e Colômbia (os dois últimos integram a organização).

O Brasil também teve queda de desempenho em leitura, passando de 413 pontos, em 2018, para 410, em 2022. Metade dos estudantes brasileiros está no nível abaixo do básico em leitura, o que significa que eles têm dificuldade, por exemplo, de identificar informações explícitas em um texto.

Também houve queda na média de ciências, que passou de 404 para 403 pontos no mesmo período.

Segundo a organização, os dados indicam que os sistemas de ensino que ficaram com escolas fechadas por menos tempo conseguiram manter ou melhorar o desempenho de seus estudantes em matemática entre 2018 e 2022.

“Um em cada três países/economias conseguiram evitar o fechamento das escolas para a maioria de seus estudantes por mais de três meses. Na Islândia, Japão, Coreia, Suécia, Suíça e Taipei [em Taiwan] mais de 3 a cada 4 alunos disseram que suas escolas ficaram fechadas por menos de três meses, já no Brasil, Irlanda, Jamaica e Letônia só um em cada quatro ficaram longe da escola por menos de três meses”, diz o relatório.

A organização diz ainda que manter as escolas abertas por mais tempo teve um efeito importante nos resultados, mas não é suficiente para explicar a melhora ou manutenção do desempenho. “Nas situações em que as escolas precisam ser fechadas, os sistemas educacionais precisam garantir que as aulas possam continuar a distância. A educação remota força os estudantes a aprenderem de forma mais autônoma, promovendo a aquisição de habilidades que são benéficas”, diz.

ISABELA PALHARES E PAULO SALDAÑA / Folhapress

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