SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Acaba a discussão de oito anos entre a Paper Excellence e a J&F Investimentos sobre a Eldorado Celulose, Trump vai atrás de dinheiro do outro lado do mundo e outros destaques do mercado nesta quinta-feira (15).
**ACABOU A BRIGA?**
O que acontece quando aquela série que você adorava assistir acaba? Quando termina um livro que te fez engolir as páginas em poucos dias? Ou aquele reality show que você acompanhou, um pouquinho por dia, durante vários meses?
É o vazio que os fofoqueiros da economia estão sentindo agora que a briga pela Eldorado Celulose, protagonizada pela J&F Investimentos e pela Paper Excellence, está perto do fim. Vamos aos últimos capítulos dessa novela.
RECAPITULANDO
A briga remonta a 2017. Tudo começou quando a J&F Investimentos, dos irmãos Wesley e Joesley Batista, estava juntando todo o dinheiro que podia para pagar algumas condenações que sofreu numa tal de Operação Lava-Jato, já ouviu falar?
Nesse processo, ela decidiu vender a Eldorado Celulose. Rolou um acordo entre eles e a Paper Excellence, de origem indonésia, para a venda de 100% da papeleira por R$ 15 bilhões.
No ano seguinte, o vinho avinagrou quando a brasileira impôs dificuldades à transferência das operações até que o acordo expirou. Desde então, a situação está sendo resolvida na Justiça.
De um lado, a holding dos Batista afirma que a Paper Excellence não cumpriu o acordo, e por isso, a venda não poderia ser concluída. Do outro, a estrangeira diz que só não cumpriu o acordo porque a J&F não deixou.
RETA FINAL
A companhia dos Batista vai recomprar a parte da empresa que tinha ido para a rival, segundo o que foi firmado em um novo acordo. A transação deve ser efetivada até o final desta semana, de acordo com informação adiantada pelo O Globo e confirmada pela Folha de S.Paulo.
NEM PINTADOS DE OURO
Os acionistas não quiseram se encontrar e o acordo foi negociado entre advogados. O valor pago a Jackson Wijaya, CEO da papeleira indonésia, deve ser de cerca de US$ 2,7 bilhões (R$ 15,2 bilhões).
Relembre outros capítulos dessa novela.
– A Dona do Pedaço: a J&F conclui a primeira etapa da venda da fabricante de celulose Eldorado para a Paper Excellence em setembro de 2017;
– Vale Tudo: a empresa estrangeira entra na Justiça em agosto de 2018 contra a brasileira, e pede uma liminar para concluir a compra, mesmo com a desistência do China Development Bank, que financiaria uma parte do negócio.
– A Indomada: Claudio Cotrim, CEO da Paper Excellence no Brasil, acusou a família Batista de ter pedido R$ 6 bilhões a mais que o combinado para finalizar a venda. A declaração rolou em entrevista à Folha em abril de 2019.
– A Favorita: em 2021, a coisa foi e voltou algumas vezes. Em fevereiro, a indonésia ganhou por três a zero a arbitragem. No mês seguinte, a Justiça suspendeu a transferência do controle e, dois meses depois, a liberou de novo.
– Toma Lá, Dá Cá: de lá até aqui, o fluxo foi mais ou menos esse. Liminar pra cá, decisão judicial pra lá, até esta que parece ser a conclusão.
**TROCA-TROCA**
Você já pediu seu carro na iFood? Ou sua comida na Uber? Não ficamos loucos, logo estas serão possibilidades.
A Uber e a iFood anunciaram ontem uma parceria para integrar os apps no Brasil no segundo semestre deste ano e agora, o que falamos antes nem parece mais uma bagunça.
VIRADA NO JOGO
O reinado da mochila vermelha é ameaçado por duas novidades: o retorno da 99Food e a chegada da Meituan, gigante chinesa do delivery.
Elas devem agitar um mercado que vinha tendo dificuldades desde o fim do isolamento social. Especialistas entendem que o faturamento das empresas cresce não por um aumento na quantidade de entregas, e sim pelos preços altos da comida.
Vale lembrar que a inflação dos alimentos tem sido um problema para o governo desde o fim do ano passado. Em 2024, ficaram 8,23% mais caros.
NINGUÉM ESTÁ PARA BRINCADEIRA
Todo mundo quer ser seu lugar ao sol no Brasil e é melhor que a iFood se cuide.
A 99Food já começou o cadastro para restaurantes que desejam estar listados no serviço quando ele for ativado. Ao menos no início, a empresa promete zerar a taxa de uso do app para os estabelecimentos.
A Meituan chegará usando o nome Keeta, com um investimento inicial de R$ 5,6 bilhões. Ela ainda não anunciou os planos aqui, mas seus números na China dão uma noção do tamanho do desafio aos concorrentes.
Em 2024, chegou a entregar até 98 milhões de pedidos por dia e teve receita de US$ 46 bilhões (R$ 258 bilhões).
A Rappi não vai assistir sem reagir. Optou por também zerar suas taxas de intermediação a partir deste mês. A medida não foi uma reação aos novos concorrentes, segundo o CEO no Brasil, Felipi Criniti.
Trata-se de um plano traçado desde o ano passado para expandir o espaço da empresa, que hoje detém 8% do mercado.
Promoções, cupons, assinaturas. Veremos o que cada uma vai tentar para garantir muitas mochilas cortando o trânsito brasileiro.
**TRUMP E SUA TURMA**
Donald Trump foi ao Oriente Médio visitar aliados e fechar negócios. Até aí, estava apenas cumprindo seu papel como chefe de estado, certo?
O que chamou a atenção global foi a comitiva que ele levou consigo: Elon Musk (claro!), Ruth Porat (da Google), Sam Altman (da OpenAI), Jensen Huang (da Nvidia), Travis Kalanick e Dara Khosrowshahi (ambos da Uber), entre outros nomes.
O QUE TODO MUNDO FOI FAZER LÁ?
Ganhar dinheiro é a resposta simples. A resposta mais aprofundada é que Trump quer uma relação mais amigável e próxima com os países da região.
Há muito a se ganhar: quem nunca viu o tamanho as ostentação que nações como a Arábia Saudita, o Qatar e os Emirados Árabes Unidos vêm apresentando?
Lá também tem muito de uma coisinha que os Estados Unidos amam, um certo óleo denso e escuro chamado petróleo.
NOVO VALE DO SILÍCIO
Riad parecia ficar na Califórnia nos últimos dias. Na capital saudita, alguns dos nomes de maior peso na tecnologia global se reuniram em um evento para, basicamente, pedir investimentos.
Os americanos querem disparar na frente na corrida da inteligência artificial. Desenvolver dispositivos moderníssimos custa muita grana. Muita mesmo. Ora, que sorte! Adivinha quais países têm isso de sobra?
US$ 600 bilhões (R$ 3,3 trilhões) foi o que eles conseguiram na viagem. O país anfitrião ofereceu dinheiro para iniciativas de IA e defesa.
PRÓXIMA PARADA
Depois de sair das terras sauditas, Trump viajou para Doha, capital do Qatar (lembra que a Copa do Mundo foi lá em 2022?).
A companhia aérea do país é muito popular lá e ao redor do mundo. Ela ganhou espaço neste mercado oferecendo duas coisas:
Voos comerciais com rotas entre os principais centros globais e destinos no Oriente, atendendo a uma demanda que tinha poucas opções entre as quais escolher até então;
Oferecendo luxo e muito conforto à bordo das aeronaves. Um trecho na primeira classe vem com direito a champagne, pijamas de seda e caviar.
A estatal fechou um acordo de US$ 96 bilhões para comprar até 210 aeronaves Boeing 787 Dreamliner e 777X fabricadas nos Estados Unidos, segundo a Casa Branca. Nenhum prazo foi dado para o pedido. Segundo Trump, é o maior pedido da história da fabricante.
**MONTADORAS OCIDENTAIS: ANIMAIS EM EXTINÇÃO**
É BYD para lá, GWM para cá, e cada vez menos ouvimos falar aqueles nomes clássicos de montadoras que permeavam o imaginário popular? Ao menos, é assim que se sente um dos candidatos a CEO da Stallantis. Exagerado ou realista?
TREMENDO NA BASE
É como estão os fabricantes globais ao verem marcas chinesas, sobretudo as de veículos elétricos, tomando cada vez mais espaço no mercado.
Quando questionado se os grupos automotivos ocidentais seriam capazes de competir com as marcas locais na China, Maxime Picat, diretor de operações da Stellantis, disse:
“Sou um cara bastante otimista, mas não nesse caso.”
Os números ajudam a explicar o pessimismo.
COMENDO POEIRA
Por muito tempo, a Volkswagen reinou absoluta na China. Marcas japonesas, como a Toyota e a Honda, também tinham um espaço relevante lá.
Entraram no jogo marcas como a BYD, Li Auto, Geely, Chery, Changan, Aito e a coisa começou a desandar as empresas estrangeiras.
A BYD ultrapassou o faturamento da montadora alemã na China no final de 2024, o que selou o momento de transição pelo qual passa o mercado.
Por aqui isso tem impacto. Neste ano, ela abrirá sua primeira fábrica no país onde ficava a antiga Ford, em Camaçari (BA). Simbólico, não?
Mas tudo pode acontecer. Segundo dados analisados e sistematizados pela Sina Finance, ainda há muito chão para as chinesas tomarem toda a fatia das estrangeiras. Aí vai o ranking de faturamento das montadoras no país em 2024.
1 – BYD (US$ 58,1 bilhões, R$ 327 bilhões);
2 – Mercedes-Benz (US$ 42,5 bilhões, R$ 239 bilhões);
3 – Volkswagen (US$ 41,9 bilhões, R$ 235 bilhões);
4 – Toyota (US$ 36,7 bilhões, R$ 206 bilhões);
5 – BMW (US$ 32,7 bilhões, R$ 184 bilhões).
↳ Dentre as cinco que mais faturaram, apenas uma é chinesa. Tudo bem que é a primeira da lista, mas dá para perceber que ainda não há um domínio geral. A percepção do mercado é que isso deve mudar.
“Se você observar o que aconteceu nos últimos anos, a tendência [de queda na participação de mercado] é forte e tem sido muito difícil para as [montadoras] ocidentais manterem sua posição na China”, disse Picat.
**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**
473 mil é a quantidade de pessoas que informaram ao INSS que não reconhecem os descontos feitos em benefícios do órgão. Não, esta história ainda não acabou.
Festa do peso. Os argentinos se surpreenderam mais uma vez com os indicadores econômicos nesta semana. A inflação caiu mais do que as projeções, ficando em 2,8%.
Questão contábil é como a Eletrobras justificou a reversão de um lucro no final de 2024 em um prejuízo de R$ 81 milhões no primeiro trimestre deste ano.
Alexa, diga tchau. A Amazon demitiu funcionários das divisões que cuidam do Kindle, dispositivo de e-books, e da Echo, que desenvolve as secretarias de voz.
LUANA FRANZÃO / Folhapress
