RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A enorme repercussão do documentário “Pra Sempre Paquitas”, disponível desde o último dia 16 no Globoplay, trouxe as ex-assistentes de palco de Xuxa de volta aos holofotes. Mas não só elas. O público também ficou curioso para saber o que aconteceu com a versão masculina do grupo, os Paquitos.
Espécie de “Menudo (a boy band porto-riquenha famosa nos anos 1980) brasileiro”, os Paquitos tiveram uma carreira mais curta que sua contraparte feminina. O grupo existiu apenas entre 1989 e 1992 e foi integrado por Alexandre Canhoni, Claudio Heinrich, Egon Junior (Gigio), Marcello Faustini e, em momentos diferentes, por Robson Barros e Yuri Martins.
O quinteto também auxiliava a rainha dos baixinhos no Xou da Xuxa, mas era menos responsável pelas crianças da plateia e mais por arrancar gritinhos das adolescentes apaixonadas. Geralmente estavam vestindo preto com detalhes dourado ou de smoking, sempre com largas ombreiras uma moda da época.
Os Paquitos seguiram o mesmo caminho que suas colegas, investiram na música e também no cinema. Em paralelo ao programa na TV, os rapazes também acompanhavam a apresentadora em turnês, além de fazerem apresentações solo de seu único disco, lançado em 1990. O LP vendeu cerca de 120 mil cópias, conquistando disco de ouro, com canções como “Muito Prazer” e “Paquidance”.
Falar com os ex-integrantes do grupo não é tarefa fácil. Cada um deles seguiu um caminho diferente, muitos constituíram família e a maioria vive atualmente afastada do meio artístico. Poucos parecem realmente interessados em abordar o passado. Todos foram procurados pela Folha de S.Paulo, mas somente Canhoni e Faustini quiseram falar com a reportagem.
Citada com ares de vilania no documentário das Paquitas, a empresária e diretora da atração, Marlene Mattos, não era rígida somente com as assistentes de palco. Segundo Canhoni, a cobrança se estendia também aos meninos.
“Levei várias broncas dela, sempre fui hiperativo, impulsivo, então não era fácil”, afirmou em entrevista à Folha de S.Paulo. “Ela pegava pesado, mas até entendo: uma equipe de jovens viajando juntos, não era fácil controlar.”
Faustini, no entanto, lembra que a situação era bem pior para as jovens. “Nosso contrato era apenas com a Xuxa Produções, então rodávamos o Brasil com os shows, não tínhamos o mesmo contato e obrigações que elas”, comenta. “Conosco foi tudo bem, nada a reclamar.”
PERSONALIDADES DISTINTAS E NAMORADAS FAMOSAS
Canhoni, hoje com 53 anos, era o principal vocalista do grupo. Ele se destacava dos demais justamente pelo talento vocal. Xande, como era chamado, cantou praticamente todas as músicas do LP. Na dança, ele também demonstrava desenvoltura nas coreografias.
Perguntado se administrou bem o sucesso na época, quando tinha apenas 18 anos, ele comentou que “era uma loucura aquilo tudo: estar em um programa semanal, os shows, filmes, o glamour que nos rodeava”. “Com certeza me deslumbrei com todo aquele acesso que a fama me dava.”
Sobre a convivência com Xuxa e com as Paquitas, ele descreveu como “profissional”, acrescentando que todos passavam muito tempo juntos devido às gravações, ensaios e viagens.
Enquanto isso, Claudio Heinrich, 51, mostrou melhor suas aptidões artísticas após o fim do grupo. Em 1995, ele conseguiu um personagem importante na primeira temporada de “Malhação”, e logo se tornou campeão de cartas da emissora. Cinco anos depois, protagonizou a novela “Uga Uga”, no papel de um “indígena branco” cujo figurino se resumia a uma singela tanga.
Heinrich seguiu na profissão. Fez diversos trabalhos na Globo e também na Record. Sua aparição mais recente na TV foi no reality No Limite, em 2023. À Folha de S.Paulo, ele agradeceu o contato, mas não quis se pronunciar: “No momento não estou dando entrevistas, quem sabe mais pra frente…”.
Questionado por que não apareceu no documentário “Pra Sempre Paquitas”, ele alegou incompatibilidade de agenda, encerrando a conversa. Atualmente, Heinrich tem se dedicado à função de instrutor de artes marciais no Rio. Durante entrevista a um podcast, a ex-paquita e atriz Juliana Baroni revelou que ele e Leticia Spiller, 51, foram namorados nos tempos do Xou da Xuxa.
Já Marcello Faustini, 52, era aparentemente o mais tímido da turma. Dono de expressivos olhos verdes, ele também investiu na carreira de ator e cantor, fez “Malhação” e alguns outros trabalhos na TV e no teatro. Também namorou algumas famosas, como a atriz Deborah Secco e a ex-paquita e hoje atriz Bianca Rinaldi.
Atualmente, Faustini tem se dedicado mais à música. “Gosto mais da carreira musical, canto e toco piano, e continuo fazendo apresentações pelo Brasil”, contou ele, que resumiu como tranquila a relação com Xuxa e com as paquitas na época.
O gaúcho Egon Junior, ou simplesmente Gigio, 54, tinha bochechas rosadas e um penteado mullet. Após o desfecho do grupo, tentou se lançar como ator e fez uma participação na novela “Despedida de Solteiro”. Em 1990, ele estava noivo da modelo Nani Venâncio e, segundo reportagens da época, os dois romperam devido à nudez da beldade na abertura da primeira versão de “Pantanal”.
Gigio acabou seguindo outros rumos profissionais, fundou uma empresa ligada a estratégias de inovação. Há anos mora com a sua família em Portugal.
Primeiro a deixar o grupo, Robson Barros, 54, trocou os palcos pelo backstage, para atuar na área de produção musical com o seu pai. Até hoje, dedica-se a sua empresa de eventos em São Paulo.
Natural do Pará, Yuri Martins, 51, foi o último a integrar o time de paquitos, substituindo Robson em 1991. Em entrevista a um jornal carioca, em 2023, ele revelou ter tido um rápido “affair” com Ana Paula Almeida (a Pituxita) e muitos atritos com Canhoni nos tempos áureos. Ele segue vivendo no norte do país, trabalha como corretor de imóveis, tem três filhos e já é avô.
Sobre os conflitos antigos, Canhoni respondeu: “Sinceramente não me lembro dessa rivalidade”. “A saída de um integrante e a entrada dele, após tantos anos, foi desconfortável”, admitiu o ex-vocalista. “Ele chegou quando o grupo já estava quase terminando.” A rixa ficou no passado e, hoje, eles são amigos.
Quanto ao breve romance, Pituxita desmentiu. “Na época teve essa especulação, mas nunca tivemos nada, e nem tinha tanta amizade com ele como tinha com o Gigio; éramos só colegas de trabalho mesmo”, contou ela, que ainda mantém contato com a maioria. Yuri não foi encontrado para comentar o assunto.
MISSIONÁRIO NA ÁFRICA
Além das habilidades vocais, Canhoni também tinha uma personalidade forte. Com foco na carreira solo, ele deixou o grupo em 1992. No ano seguinte, lançou um LP e, logo depois, saiu em turnê pela América Latina. Em fevereiro de 1995, quando estava se preparando para lançar um novo álbum, o cantor abandonou tudo após experienciar um “chamado divino”.
“Tive um encontro com Deus que mudou a minha vida radicalmente”, disse. “Foi intenso como tudo na minha vida. Foi uma jornada de crescimento e conhecimento.”
No ápice da conversão, ele impactou o público após incinerar todo seu acervo pregresso (incluindo discos e figurinos). Sobre arrependimentos do passado, Canhoni respondeu que existem alguns porque amadureceu e mudou sua visão, sem entrar em detalhes.
Em 2002, a vida dele teve outra reviravolta quando visitou um dos países mais pobres do continente africano, o Níger, onde fundou um projeto social chamado AGD. A organização conta com creches, programas de nutrição, assistência a enfermos e dois centros de formação para mulheres.
Apesar da distância, ele não perdeu a relação com os antigos colegas e diz que sempre revê alguns deles quando vem ao Brasil. “Com as redes sociais me reaproximei de algumas Paquitas e tive a chance de revê-las, conversar, apresentar minha esposa e lembrar também das loucuras que eu fazia na época”, pontuou. “Dos meninos, tive contato com alguns também via online.”
‘NÃO HAVERÁ DOC DOS PAQUITOS’
Além dos shows pelo Brasil, os Paquitos também se apresentavam em programas de outras emissoras. A ausência de contrato com a Globo facilitava a divulgação em outros canais. Com exceção de Yuri, eles também fizeram os filmes “Lua de Cristal” (1990) e, no mesmo ano, “Sonho de Verão”, uma comédia adolescente estrelada pelas Paquitas, que na época foi recordista de bilheteria no país, com mais de dois milhões de espectadores.
Questionado sobre o término, Faustini disse que o grupo se esfacelou após a saída de Canhoni. “Acho que a Marlene não esperava e, depois disso, ela desanimou”, afirma. “Era para ter tido o segundo LP dos Paquitos.”
Indagados se gostariam que a trajetória deles se tornasse um documentário também, Canhoni, que ainda não assistiu à produção das Paquitas, declarou: “Não é algo que desejo, nunca pensei nisso”. Já Faustini foi mais assertivo: “Não haverá doc dos Paquitos; temos bastantes histórias legais e divertidas, mas não polêmicas”.
ANDRÉ ARAM / Folhapress