SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Levantamento feito pelo Datafolha aponta que 68% dos brasileiros consideram que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tinha conhecimento da venda ilegal de joias que lhe haviam sido presenteadas por autoridades sauditas, e 52% acreditam que ele cometeu crime.
Já 17% afirmam que o ex-mandatário não sabia do assunto, e 15% não souberam opinar. Avaliaram que Bolsonaro não cometeu crime 38% dos 2.016 ouvidos nos dias 12 e 13 deste mês, e 10% disseram não saber.
A margem de erro do levantamento é de dois pontos, para mais ou para menos. O ex-presidente é investigado pelo desvio de joias e outros presentes de alto valor recebidos enquanto estava no cargo, com foco específico em quatro conjuntos que foram levados para os Estados Unidos quando ele abandonou o país, dois dias antes do fim de seu mandato.
Apurações da Polícia Federal revelaram que as joias foram vendidas no exterior. O advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef, chegou a recomprar dois relógios após manifestação do Tribunal de Contas da União e diz que o cliente não estava ciente do caso.
Já o tenente-coronel Mauro Cid, então ajudante de ordens da Presidência e faz-tudo de Bolsonaro, negociou delação premiada sobre o caso, após passar meses preso por ter falsificado comprovantes de vacinação contra Covid-19. Segundo a revista Veja, ele já disse à PF que deu o dinheiro da venda de relógios nas mãos do ex-presidente.
As descobertas vieram no escopo da apuração sobre a tentativa do Planalto de reaver joias que haviam sido enviadas para o casal presidencial por sauditas, apreendidas com o então ministro Bento Albuquerque (Minas e Energia) no aeroporto de Guarulhos.
Bolsonaro nega envolvimento nesses episódios de ilegalidade, dado que se tratava de patrimônio público. Inelegível em decorrência de sua campanha contra o sistema eleitoral brasileiro no ano passado, ele ainda goza de grande apoio: 25% dos brasileiros dizem que são muito bolsonaristas, e 7% afirmam ser um pouco.
O Datafolha dá uma má notícia para o ex-presidente, algo já aventado sem números por observadores políticos: o caso das joias “pegou”, por ser de fácil compreensão popular. A pesquisa mostra agora que 77% dos eleitores tomaram conhecimento do episódio, 31% deles afirmando estarem bem informados. Outros 37% sabem mais ou menos do caso e 9%, se dizem mal informados.
O conhecimento vai a 90% na maior faixa de renda, que é menor numericamente (3% da amostra), mas é de expressivos 72% no populoso segmento daqueles que ganham até 2 salários mínimos (51% dos ouvidos). Disseram não ter ouvido falar no caso 21%, e 2% não souberam responder.
Como seria previsível, a clivagem política ainda define percepções. Entre os que se dizem petistas, 40% do eleitorado (29% muito, 11% um pouco), 87% acham que Bolsonaro sabia que era uma operação ilegal para vender as joias. Já 44% dos 32% de bolsonaristas, entre extremados e nem tanto, acham que ele desconhecia o tema.
Da mesma forma, se no geral 52% acham que o ex-presidente cometeu crime, esse dado sobe a 81% entre os petistas. Na via inversa, se 38% creem que ele é inocente, o número vai a 75% entre os bolsonaristas.
Nos outros grandes estratos socioeconômicos da pesquisa, há homogeneidade nas avaliações, com uma notável exceção da opinião colhida entre os moradores do reduto petista que é a região Nordeste, casa de 26% dos eleitores ouvidos. Lá, 75% acham que Bolsonaro sabia da venda e 62%, que ele cometeu um crime. Também entre os 28% menos escolarizados há maior crença no dolo do ex-presidente (57%).
Como boa notícia relativa para o ex-presidente, há o fato de que os brasileiros estão divididos acerca de um ponto central de sua retórica, ainda que não encontre abrigo na lei: que as joias eram presentes pessoais, portanto poderiam ficar com Bolsonaro.
Para 47%, joias e outros presentes dados a autoridades deveriam ser considerados regalos pessoais, um índice que sem surpresa vai a 70% entre os bolsonaristas. Já 42% defendem que tais valores tenham de ser incorporados ao patrimônio público, número que vai a 59% entre petistas. Não souberam opinar 11%.
IGOR GIELOW / Folhapress