WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – A eclosão da guerra no Oriente Médio entre Israel e o grupo terrorista Hamas concretizou um dos principais temores sobre a remoção do presidente da Câmara dos Estados Unidos: a inação diante da necessidade de o Congresso responder rapidamente a uma crise.
Desde a derrubada inédita do republicano Kevin McCarthy da liderança da Câmara na última terça (2), resultado da rebelião de uma ala radical de seu próprio partido, a Casa está paralisada.
Por ora, ela é presidida interinamente por Patrick McHenry, mas seu poder é limitado basicamente a organizar o pleito para eleger um novo nome -o que não deve ocorrer antes da próxima quarta-feira (11). Há dúvidas até se ele pode receber informações confidenciais de inteligência, praxe entre o governo e lideranças do Congresso.
Nesse cenário, temas que exigem aprovação do Legislativo -como envio de recursos adicionais a Israel, o principal aliado americano no Oriente Médio, e aprovação de sanções- não podem avançar.
A situação sem precedentes levou até alguns republicanos a defender o retorno de McCarthy no cargo – ele deu a entender que está disposto a aceitar.
O impacto da falta de uma liderança sobre a ajuda a Israel foi tema de debates da Casa Branca, de acordo com um membro do governo Joe Biden falando sob condição de anonimato. Ele descreve a situação como “única” e destaca que, além do problema na Câmara, o Senado também ainda não aprovou a indicação, feita há cerca de um mês, de Jack Lew para a embaixada em Tel Aviv -o posto está vago no momento.
O Senado está em recesso, e retoma as atividades apenas na semana que vem.
“Não foi minha ideia remover o presidente da Câmara. Achei perigoso”, disse o deputado republicano Michael McCaul, presidente da Comissão de Relações Exteriores, à CNN. “Eu olho para o mundo, para todas as ameaças, e penso em que tipo de mensagem estamos enviando aos nossos adversários quando não conseguimos governar, quando estamos disfuncionais.”
McCaul defendeu que um novo presidente seja eleito nesta semana, para que em seguida a Casa possa aprovar reforços ao Domo de Ferro, o sistema antimísseis israelense.
“Uma coisa coisa realmente importante da nossa capacidade de apoiar tanto os israelenses quanto os ucranianos é mais financiamento do Congresso”, disse nesta segunda (9) a secretária do Exército, Christine Wormuth, a repórteres durante uma conferência em Washington.
Além de novos recursos para Israel, um pacote de US$ 24 bilhões solicitado pela Casa Branca para apoiar a Ucrânia, em guerra com a Rússia, também está travado no Congresso diante da resistência de republicanos radicais.
O financiamento aos ucranianos foi uma das razões para esta ala do partido ter pressionado por uma paralisação do governo em setembro, evitada temporariamente após McCarthy fechar um acordo com democratas -o que levou à rebelião interna e à sua derrubada.
“A falta de previsibilidade em relação ao nosso Orçamento é um problema grave, particularmente à luz do cenário de segurança incrivelmente desafiador em que nós estamos fazendo tudo que fazemos na Ucrânia, trabalhando para acompanhar o ritmo da China e agora vendo o que está acontecendo em Israel”, disse Wormuth.
Se a ajuda a Kiev enfrenta resistência, o apoio a Tel Aviv é praticamente consenso entre republicanos. Assim, a ala mais moderada do partido, assim como a Casa Branca, vê uma oportunidade de amarrar uma coisa à outra, forçando os radicais a avalizar mais recursos à Ucrânia.
Apesar da paralisia do Congresso, os EUA vêm conseguindo apoiar Israel por ora usando recursos aprovados previamente. De acordo com o secretário de Estado americano, Antony Blinken, um memorando acordado ainda durante o governo Barack Obama prevê o envio anual de US$ 3,8 bilhões em assistência.
“Agora, em termos gerais, seria muito importante garantir termos ambas as Casas do Congresso, em bases bipartidárias, em uma situação em que elas possam claramente mostrar e expressar seu apoio a Israel, especialmente em um momento de necessidade”, disse Blinken à CNN. “Isso é algo que nós queremos ver, e esperamos que aconteça logo.”
FERNANDA PERRIN / Folhapress