UOL/FOLHAPRESS – O primeiro GP de Fórmula 1 no Oriente Médio foi disputado em 2004 no Bahrein e colocou o país no mapa de muita gente. Até hoje, a corrida é um dos cartões-postais de um país que estende o tapete vermelho para a categoria. Uma grande prova disso foi a oferta de vacinas aos profissionais da F1 contra a covid-19 em pleno fevereiro de 2021, antes que a grande maioria pudesse receber o imunizante em seus próprios países.
Mas o Bahrein não entrou no mapa da F1 por conta do GP. Na verdade, o envolvimento dos países árabes com a categoria também não começa com os GPs, que a partir desse ano são quatro -além do Bahrein, Arábia Saudita, Abu Dhabi e a etapa do Qatar, que será realizada neste fim de semana e tem enormes chances de decidir o campeonato de pilotos.
WILLIAMS FOI PRIMEIRO ELO ENTRE O ORIENTE MÉDIO E A F1
Essa história começa no final dos anos 1970, quando a companhia aérea Saudia, da Arábia Saudita, se torna patrocinadora da Williams. Foi uma parceria importante para os primeiros anos de uma equipe que dominaria a categoria anos depois e também para fortalecer uma rival.
Isso porque a família real saudita foi convidada para o GP de Mônaco de 1978, o que acabou atraindo o empresário também saudita Mansour Ojjeh. O executivo da TAG, uma holding, se tornou um grande fã de F1 e colocou sua empresa no mapa da categoria, primeiro patrocinando a Williams, depois fechando parceria para nomear os motores Porsche e, por fim, comprando parte da McLaren.
Hoje, o próprio governo do Bahrein tem mais de 75% das ações do Grupo McLaren, que controla, entre outras empresas, a equipe de F1.
Atualmente, outras duas empresas árabes têm parcerias importantes na F1. A petrolífera saudita Aramco e a companhia aérea Qatar Airways. Ambos são parceiros globais da categoria e patrocinam outras provas do calendário além das corridas na Arábia Saudita e Qatar. E a Aramco também é a patrocinadora máster da Aston Martin.
Para completar, o atual presidente da Federação Internacional de Automobilismo é o ex-piloto de rali Mohammad ben Sulayem, dos Emirados Árabes Unidos, que também atuou fortemente na chegada da segunda prova árabe da F1, em Abu Dhabi.
Essa corrida começou a ser disputada em 2009 e abriu uma nova era para a relação da região com a F1. Abu Dhabi ofereceu pagar uma taxa anual maior que as demais para receber a última etapa do campeonato. Os números não são divulgados, mas estima-se que eles paguem o dobro dos 25 milhões de dólares que seriam uma taxa normal para provas fora da Europa.
Isso, é claro, inflacionou o mercado para novas provas. E a estrutura construída em Yas Marina também mudou a maneira como os promotores vendem serviços de luxo nas provas.
Mas a corrida de Abu Dhabi também é um marco por atender a outra demanda: por ser uma corrida no entardecer, ela é disputada em horário semelhante às provas europeias, evitando queda na audiência.
Logo o Bahrein adotaria a mesma tática, abrindo ainda a possibilidade de receber os testes. Assim, a F1 tem um lugar quente no final do inverno europeu para fazer a pré-temporada, em que pese a maior distância para enviar novas peças.
Depois vieram as corridas da Arábia Saudita e do Qatar, eventos ligados às parcerias globais. São quatro corridas noturnas (Abu Dhabi segue com a largada no fim da tarde, mas termina à noite) e, a partir de 2024, pelo menos Bahrein e Arábia Saudita serão disputadas no sábado, algo mais alinhado com a cultura local, uma vez que o domingo é um dia de trabalho normal para os muçulmanos.
ARÁBIA SAUDITA QUER PELO MENOS MAIS UM GP
O aumento da influência árabe na F1 não dá sinais de que vai parar por aqui. O projeto inicial da Arábia Saudita era ter um circuito na cidade de entretenimento de Al-Qiddiya, que ainda está sendo construída. Por isso, eles fizeram a pista de Jeddah, que recebe a F1 desde 2021, apenas como algo temporário.
O projeto de Al-Qiddiya está atrasado e o GP vai continuar pelo menos até 2026 em Jeddah, que está passando por uma reforma completa (após 3 GPs de uso) na parte dos boxes e área VIP. A ambição dos árabes é clara: eles querem ter dois GPs quando Al-Qiddiya estiver pronta. Ou até mesmo três provas no futuro, já que também há o projeto de fazer uma pista na cidade futurística de NEOM.
O alto investimento árabe no momento na F1 tem relação com o objetivo de ambos: acabar com sua dependência de combustíveis fósseis. A F1 busca neutralizar sua pegada de carbono até 2030, incluindo todas as viagens e instalações das fábricas das equipes, e o Oriente Médio busca se tornar um polo tecnológico independente do petróleo. Mas também é fato que os governos da região têm usado seus petrodólares justamente para melhorar sua imagem e o esporte é um grande instrumento para isso.
Tanto é que a Liberty Media, empresa norte-americana que detém os direitos comerciais da Fórmula 1, chegou a abrir negociações com o governo saudita tentando vender a categoria que comprou em um negócio de 6 bilhões de dólares em 2016. E o Qatar é outra opção.
JULIANNE CERASOLI / Folhapress