BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A parcela de brasileiros que relata ter sentido melhora na economia do país vinha em queda desde o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas teve uma reversão, subiu e atingiu o maior patamar registrado na série histórica do Datafolha.
Os dados que mostram a mudança são da pesquisa feita com 2.016 pessoas em 139 cidades, nos dias 12 e 13 deste mês.
Em outubro de 2022, 34% declaravam sentir melhora na economia brasileira. Veio, então, a instabilidade e a polarização da disputa à presidência da República, e uma nova retração. Em dezembro, 26% relatavam melhora, em março, 23%. No entanto, na pesquisa de setembro, o percentual subiu para 35%.
No aspecto macroeconômico, o primeiro semestre foi de boas surpresas.
Em dezembro de 2022, o Boletim Focus, do Banco Central, que reúne projeções dos economistas, estimava que o PIB teria expansão de 0,8% neste ano. Agora, a expectativa é que o ano termine com avanço de 2,8%. Algumas instituições projetam alta acima de 3%.
As revisões consideram o desempenho do PIB no primeiro semestre, acima do esperado. De janeiro a março deste ano, teve alta de 1,8% ante o quarto trimestre de 2022. O resultado foi puxado pela agropecuária, que avançou 21,6%. Foi a maior alta do segmento desde o quarto trimestre de 1996.
No segundo trimestre, o PIB avançou mais 0,9% em relação aos três meses anteriores.
Em retrospecto, no entanto, essa recuperação mais recente –bem como sua percepção pela população– foi lenta e instável.
O número de pessoas que relatavam melhora na economia do país despencou na pandemia de Covid-19. Às vésperas do surto global, em dezembro de 2019, 28% declaravam ver avanço na economia do Brasil. Na pesquisa seguinte, em setembro de 2021, com o país sentindo o baque do isolamento social para conter o contágio e as mortes, a parcela havia caído para 11%.
Foi o segundo pior patamar da série histórica. Só perdeu para o percentual de 6% registrado em junho de 2018 –em contrapartida, 72% afirmavam que houve piora na economia. A deterioração na sensação de bem-estar econômico refletiu os efeitos da greve dos caminheiros, que parou o país em maio daquele ano e piorou a percepção em relação à gestão do presidente Michel Temer (MDB), já abalada pelo aumento do desemprego e dos preços em geral.
O Datafolha registrou também reversão e aumento expressivo no percentual de pessoas que relatam melhora na sua vida econômica nos últimos meses.
Essa parcela também vinha perdendo espaço desde outubro do ano passado, quando registrou o pico de 34% sentindo que suas condições pessoais haviam melhorado. O percentual, então, caiu para 31% em dezembro, 23% em março, voltando a subir em setembro para 30%.
Os economistas têm uma lista itens que melhoraram e podem ser sentidos diretamente pelas pessoas, provocando esse efeito.
Pesaram medidas do governo, como a ampliação dos programas de distribuição de renda, com destaque para o Bolsa Família, e a melhora nas condições de crédito, com apoio de projetos como o Desenrola Brasil. Nos primeiros cinco dias, o programa limpou o nome de mais de 2 milhões de consumidores.
Também contribuiu para aliviar o bolso das pessoas uma inflação menor. Os preços da alimentação no domicílio, por exemplo, acumularam queda (deflação) de 0,62% nos 12 meses até agosto. Foi a primeira vez que esse subgrupo do IPCA caiu nesse período desde maio de 2018.
A resiliência do mercado de trabalho é outro fator. No trimestre móvel encerrado em julho, a taxa de desemprego ficou em 7,9%, a menor para o período desde 2014. No trimestre anterior, havia ficado em 8%.
Paradoxalmente, a pesquisa Datafolha identifica estabilidade nas expectativas em relação a esses indicadores, e projeções menos otimistas para os próximos meses.
O cenário para inflação acompanhado pelo Datafolha estagnou. A parcela de pessoas que espera aumento no custo de vida foi de 54% em março e também em setembro.
Não se mexeu também o percentual de pessoas que acredita que a inflação fica igual. Foram 24% nas duas pesquisas. A parcela que projeta queda também está praticamente igual –20% em março e 19% na pesquisa mais recente.
O cenário para poder de compra, por sua vez, divide opiniões nesses seis meses. Em março, 32% dizem que vai aumentar, 33%, que vai cair, e outros 33%, que vai ficar como está. Os percentuais são praticamente os mesmos identificados na pesquisa de setembro, respectivamente de 33%, 31% e 34%.
A maioria ainda ainda teme o aumento no desemprego.
O percentual era de 44% em março e subiu para 46%, uma variação dentro da margem de erro. Ocorreu uma leve diminuição na parcela dos que projetam queda no desemprego. Eram 29% em março e caiu para 26%. O percentual que não vê mudança também ficou praticamente estável, passando de 26% para 27%.
ALEXA SALOMÃO / Folhapress