SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Milhares de pessoas participaram de uma marcha nesta sexta-feira (15) contra um controverso projeto de lei que prevê mudanças em um tratado de 184 anos relacionado à fundação da Nova Zelândia e aos direitos dos indígenas maoris. O ato ganhou tração na véspera, quando a sessão no Parlamento foi suspensa depois de congressistas fazerem o haka, a dança de guerra tradicional da população nativa.
Manifestações foram registradas em cidades de todo o país. Em Rotorua, localizada a 450 km ao norte da capital neozelandesa, Wellington, cerca de 10 mil pessoas contrárias à proposta participaram de uma marcha, de acordo com a polícia local. Os manifestantes, alguns vestindo trajes tradicionais, entoaram cânticos maori espera-se que eles cheguem à capital na próxima terça-feira (19).
O tema mobiliza os congressistas. Nesta quinta (14), parlamentares que representam os maoris fizeram o haka na primeira audiência que discutiu a proposta. Hana-Rawhiti Maipi-Clarke, 22, liderou o protesto e chegou a rasgar uma cópia do projeto de lei. A sessão foi suspensa após o ato, que ganhou projeção internacional.
O tratado em questão é o Waitangi, assinado em 1840 pela coroa britânica e mais de 500 chefes maoris e que orienta a legislação da Nova Zelândia ainda hoje. O acordo estabeleceu posses de terra aos britânicos, mas garantiu aos indígenas o direito de uso.
Ao longo dos anos, os britânicos começaram a mandar colonizadores em grande número. Eles sistematicamente descumpriram o tratado. Com guerras e a implementação de leis, maoris foram expulsos ou tiveram as terras compradas por preços irrisórios. Só em 1975 as reivindicações dos indígenas começaram a ser reconsideradas, e os direitos desses grupos foram expandidos.
Nos últimos anos, parlamentares de direita passaram a dizer que os cidadãos não-indígenas estão sendo discriminados. Na semana passada, o partido ACT, aliado do governo de centro-direita, apresentou o projeto de lei que prevê uma interpretação mais restrita do Tratado de Waitangi.
O partido criticou a partilha relacionada à governança entre o Estado e os maoris, argumentando que cidadãos não-indígenas estão sendo prejudicados devido a políticas destinadas aos indígenas.
Os maoris e apoiadores, por outro lado, dizem que o projeto de lei mina os direitos dos povos indígenas, que representam cerca de 20% da população de 5,3 milhões da Nova Zelândia.
Dificilmente o projeto será aprovado como lei, já que outras legendas governistas não o endossam em sua totalidade. O premiê da Nova Zelândia, Christopher Luxon, do Partido Nacional, disse na quinta que a sigla não apoiaria o avanço da proposta no Congresso além da primeira leitura.
Redação / Folhapress